Woody Allen relembra Diane Keaton: 'Sua risada ainda ecoa na minha cabeça”
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Em um artigo publicado no ‘The Free Press’, o cineasta Woody Allen prestou uma homenagem à atriz Diane Keaton, que faleceu no último sábado (11), aos 79 anos. Os artistas tiveram uma breve relação em 1969, mas continuaram trabalhando juntos nas décadas seguintes em produções como ‘Noivo Neurótico, Noiva Nervosa’ (1977) e ‘Manhattan’ (1979).
“Diferentemente de qualquer pessoa que o planeta já conheceu ou que provavelmente nunca mais verá, seu rosto e seu riso iluminavam qualquer espaço em que ela entrasse”, afirmou.
Cineasta fala sobre Diane Keaton
Woody Allen iniciou o texto, já emocionado, relembrando o momento em que conheceu a atriz. “Vi sua beleza esguia pela primeira vez e pensei: se Huckleberry Finn fosse uma jovem deslumbrante, seria Keaton (…) David Merrick e eu estávamos fazendo testes no Teatro Morosco para a minha peça ‘Play It Again, Sam’. Sandy Meisner dava uma aula de atuação e contou a Merrick sobre uma atriz promissora que era incrível. Ela entrou, leu para nós e nos deixou perplexos”, contou.
De acordo com o artista, nos primeiros momentos juntos não houve muita conversa. Isso porque, conforme descreve Allen, ambos eram introvertidos e “com duas pessoas tímidas as coisas podem ficar bem chatas”. No entanto, logo após uma breve refeição durante o intervalo dos ensaios, eles se abriram e se tornaram próximos
“Aquele foi o nosso primeiro momento de contato pessoal. O resultado é que ela era tão charmosa, linda e mágica, que questionei minha sanidade. Pensei: ‘Será que eu poderia me apaixonar tão rápido?'”, escreveu.
Assim, já nas semanas seguintes, Diane e Woody iniciaram um relacionamento. O cineasta relata que, a partir desse momento, eles passaram a compartilhar tudo um com o outro, principalmente seus trabalhos. A atriz era em quem Allen mais confiava para opinar sobre suas obras. Por isso, ela foi uma das primeiras a assistir ao longa ‘Take the Money and Run’, que considerou muito engraçado e original.
“Mostrei a ela todos os filmes que fiz depois disso e passei a me importar apenas com suas avaliações. Com o passar do tempo, fiz obras para uma plateia de uma pessoa só, Diane Keaton. Nunca li uma única crítica do meu trabalho e só me importava com o que Keaton tinha a dizer sobre ele”, confidenciou.
Relação de amizade e trabalho
E relação se tornou ainda mais intensa quando o casal começou a morar junto. “Eu via o mundo através dos olhos dela. Ela tinha um talento enorme para comédias e drama, mas também dançava e cantava com sentimento. Ela também escrevia livros e fazia fotografia, fazia colagens, decorava casas e dirigia filmes. Por fim, era uma companhia muito divertida”, destacou.
Para além da artista e crítica, nesse momento, Allen também conheceu outra Diane, aquela a quem o público não tinha acesso e que ele classifica, em tom de brincadeira, como “caipira”. “Uma ela me convidou para conhecer sua família no Dia de Ação de Graças (…) Depois do jantar e das conversas sobre feiras de troca e vendas de garagem, a mesa foi limpa e moedas de um centavo foram distribuídas enquanto todos, inclusive eu, sentamos e jogamos pôquer de um centavo. Keaton estava jogando e apostando ferozmente como se cada mão valesse mil dólares”, compartilhou.
“Este era o mundo de Diane, seu povo e sua história. Era incrível que esta bela caipira se tornasse uma atriz premiada e um ícone da moda sofisticada. Tivemos alguns anos maravilhosos juntos e finalmente seguimos em frente, e por que nos separamos só Deus e Freud talvez consigam descobrir”, complementou.
Ao final, o cineasta voltou a falar sobre o relacionamento, afirmando que já brincou com ela dizendo que acabariam juntos. “Mas o mundo está constantemente sendo redefinido, e com a morte de Keaton, ele é redefinido mais uma vez. Há alguns dias, a terra era um lugar que incluía Diane Keaton. Agora é um mundo que não a inclui. Portanto, é um planeta mais sombrio. Mesmo assim, existem os filmes dela, e sua risada incrível ainda ecoa na minha cabeça”, despediu-se.