O impressionante estudo feito nos esqueletos da tripulação do navio favorito de Henrique VIII
Aventuras Na História
Pesquisadores trouxeram à superfície, em 1982, o naufrágio do Mary Rose, um navio que serviu o rei da Inglaterra, Henrique VIII, ao longo de 34 anos. Além da impressionante carcaça da embarcação, foram identificados cerca de 19 mil artefatos e 179 esqueletos de tripulantes, tanto completos quanto parciais.
A importante embarcação afundou em 1545, durante a Batalha de Solent, levando a vida da maioria da tripulação, que não conseguiu escapar do destino trágico do Mary Rose. Séculos depois, em 1965, seus restos mortais seriam encontrados pelo agente do Departamento Britânico, Alexander McKee, no fundo do mar que banha a cidade inglesa de Portsmouth.
A descoberta foi surpreendente: ele se transformou no único exemplar dos navios de guerra da dinastia Tudor do século 16. Para preservar a história, o governo britânico levou o que restou para um museu, que esteve em exposição no Portsmouth Historic Dockyard depois de ficar perdido por mais de 400 anos.
Até agora, inúmeros estudos já foram realizados no navio e no que foi especialmente encontrado dentro dele. No ano passado, por exemplo, cientistas da Universidade de Warwick e Ghent descobriram que o casco da embarcação foi fabricado através da mistura de 73% de cobre com 27% de zinco.
Neste ano, outra investigação importante foi registrada, mas dessa vez nos restos mortais dos tripulantes do Mary Rose. Publicado na revista científica Royal Society Open Science, o estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade de Cardiff, o Mary Rose Trust e o British Geological Survey.
Tripulação diversa
Os cientistas envolvidos na análise utilizaram as mais recentes técnicas científicas para entender a origem dos marinheiros que guiavam o Mary Rose, além de seus hábitos alimentares.
O principal método usado pelos pesquisadores foi a análise multi-isotópica, uma técnica aplicada nos dentes dos esqueletos encontrados. Oito dentes passaram pelo procedimento, dando sugestões de onde os indivíduos passaram seus primeiros anos.
Uma nota da universidade responsável pela análise apontou que “traços químicos da comida e da água que consumiram na infância, que fornecem evidências da localização geográfica, permanecem dentro dos dentes”, o que “permitiu que a equipe explorasse as fontes de suas dietas."
"A variedade e o número de artefatos pessoais recuperados, que claramente não eram de fabricação inglesa, nos fez questionar se alguns dos tripulantes eram estrangeiros de nascimento”, explicou Alexzandra Hildred, do Mary Rose Trust, à BBC. "No entanto, nunca esperamos que essa diversidade fosse tão rica”.
Três pessoas alvo dos pesquisadores podem ter vindo das costas do sul da Europa, Península Ibérica e Norte da África, o que espantou os especialistas.
Eles descobriram que a tripulação do Mary Rose era mais diversa etnicamente do que pensavam. Para Hildred, “o estudo transforma nossas ideias percebidas sobre a composição da nascente marinha inglesa."
"Nossas descobertas apontam para as importantes contribuições que indivíduos de diversas origens e origens fizeram à marinha inglesa durante este período”, disse a principal autora da pesquisa, Jessica Scorrer. "Isso se soma ao corpo cada vez maior de evidências da diversidade de origens geográficas, ancestrais e experiências vividas na Inglaterra Tudor."
Richard Madgwick, da Universidade de Cardiff, explicou que eles conseguiram reconstruir oito biografias de marinheiros do período Tudor, “em muito mais detalhes do que normalmente é possível”. A partir disso, foi possível obter a “primeira evidência direta de marinheiros de ascendência africana na marinha de Henrique VIII."