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Arte anormal: A dura crítica de Monteiro Lobato à arte de Anita Malfatti
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Arte anormal: A dura crítica de Monteiro Lobato à arte de Anita Malfatti

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Aventuras Na História
04/07/2021 10h00
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Pioneira da Arte Moderna no Brasil, Anita Malfatti se destacou por suas telas marcantes e sua participação decisiva na Semana de Arte Moderna de 1922. A brasileira que demonstrou seu interesse pela pintura ainda bastante jovem, é conhecida como um dos maiores nomes da arte do país.

Após sua primeira exposição artística, em 1914, ter sido frustrante, pois, a visita do senador José de Freitas Valle lhe recusou uma bolsa de estudos, Anita decidiu estudar nos Estados Unidos. Por lá, passou três anos.

Sua volta ao Brasil marcou também sua segunda exposição, em dezembro de 1917, na rua Líbero Badaró, centro de São Paulo. Buscando maior compreensão da sociedade paulista, que na época era ainda mais conservadora, a artista trouxe novamente suas telas com forte influência do modernismo; mas a reação geral foi bem diferente do que esperava.

De todas as críticas, a mais controversa e repercutida foi a de Monteiro Lobato, que dedicou um artigo no jornal O Estado de S.Paulo, intitulado ‘A propósito da exposição Malfatti’, mais tarde conhecido como ‘Paranoia ou Mistificação?’.

A crítica de Lobato à Malfatti

O escritor brasileiro, famoso por muitas obras, entre elas o Sítio do Picapau Amarelo, visitou a exposição de Anita e não compreendeu o estilo artístico dela, comparando seus quadros aos desenhos “que ornam as paredes internas dos manicômios” e ainda a uma "arte anormal".

A Estudante (1915 e 1916) / Crédito: Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand via Wikimedia Commons

 

Monteiro foi mais além, dizendo que a diferença entre ambas as criações era que nos manicômios a “arte é sincera, produto ilógico de cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses”.

O artigo continua com Lobato afirmando que as vanguardas não possuíam “nenhuma lógica, sendo mistificação pura”, e que a pintora tinha “acentuadíssimas tendências para uma atitude estética forçada no sentido das extravagâncias de Picasso e companhia”.

Mesmo que descreva Malfatti como dona de um “talento vigoroso”, o autor também declarou: “seduzida pelas teorias do que ela chama de 'arte moderna' (...) põe todo o seu talento a serviço da nova espécie de caricatura...". Acrescentando que o "futurismo, cubismo, impressionismo e tutti quanti não passam de outros tantos ramos da arte caricatural”.

O longo texto ganhou proporções gigantescas, fazendo com que cinco dos oito compradores devolvessem obras para Anita e que a própria artista entrasse em um período sombrio na sua vida, em que largou os pincéis por um ano.

“Com o correr das semanas, havia tal ódio geral que um amigo de casa ameaçou meus quadros com a bengala, desejando destruí-los”, disse Anita na década de 1950, conforme repercutiu a revista IstoÉ.

Anita Malfatti em 1930 / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

A crítica de Lobato aproximou Malfatti de outros pintores, aqueles que a defenderam publicamente e que admiravam sua autenticidade, como Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Pedro Alexandrino Borges.

Procurando colocar em prática uma mudança que há tempos vivia em sua cabeça, Anita passou a usar técnicas mais aprimoradas do realismo e naturalismo, sempre tentando experimentar novos formatos em suas criações.

Embora crucificada em vida, hoje ela é lembrada com admiração e coragem. Seu legado inspirou outros artistas e a Semana de Arte Moderna de 1922 instalou o modernismo no Brasil e mudou de vez os rumos artísticos em solo nacional.


Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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