A Noite Estrelada: A instigante história por trás do icônico quadro de Van Gogh
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Nascido em 30 de março de 1853, na Holanda, Vincent Willem Van Gogh é considerado um dos personagens mais influentes e famosos da história da arte ocidental, como aponta o Google Arts & Culture — um site mantido pelo Google em colaboração com museus espalhados por diversos países.
Pós-impressionista, o artista criou cerca de dois mil trabalhos em pouco mais de 10 anos, sendo 860 delas pinturas a óleo — grande parte de suas obras foram feitas durante seus últimos dois anos de vida.
Ele faleceu em 1890, aos 37 anos, em 29 de julho, 30 horas depois de ter disparado um revólver Lefaucheux 7 mm contra seu peito, como aponta David Sweetman em ‘Van Gogh: His Life and His Art’.
Entre seus quadros mais famosos, destacam-se: ‘Os Comedores de Batata’ (1885), ’Autorretrato’ (1889), ‘Terraço do Café na Praça do Fórum’ (1888), ‘O Quarto de Van Gogh em Arles’ (1888), ‘Os Girassóis’ (1888), e, provavelmente, o mais popular deles, ‘A Noite Estrelada’ (1889) — que hoje estampa capas de telefone, almofadas, roupas e muito mais.
O histórico mental de um pintor conturbado
Os reais problemas de Van Gogh sempre foram incertos e alvo de muita discussão. Tentando definir características psicológicas e mentais do pintor, pesquisadores da Universidade de Medicina de Groningen, na Holanda, publicaram um estudo, em novembro de 2020, no periódico International Journal of Bipolar Disorders, definindo que o holandês sofria de bipolaridade e depressão, que eram agravadas por conta de sua abstinência alcóolica.
Além do mais, esse problema pode tê-lo levado a enfrentar episódios de delírio, o que pode explicar um dos momentos mais enigmáticos de sua vida: quando ele cortou a própria orelha, em dezembro de 1888.
Segundo a historiadora de arte Melissa McQuillan explica em ‘Van Gogh’, 15 anos após o evento, Paul Gauguin, até então amigo do pintor, afirmou que diversos fatores levaram Van Gogh a apresentar esse comportamento ameaçador.
Como especula Douglas Druick, diretor do Art Institute of Chicago, em ‘Van Gogh and Gauguin: The Studio of the South’, Theo, irmão de Vincent, talvez, devesse dinheiro para Gauguin — que desconfiava que os irmãos pudessem estar lhe explorando.
Após uma discussão entre eles, já que Van Gogh acreditava que o amigo pudesse ir embora, o holandês volta para a Casa Amarela e num episódio de alucinações, acaba cortando sua orelha esquerda.
Meses depois, Vincent se interna voluntariamente no asilo psiquiátrico Saint-Paul-de-Mausole em 8 de maio de 1889, como explica Ronald Pickvance em ‘Van Gogh In Saint-Rémy and Auvers’. É aí que a história de ‘A Noite Estrelada’ começa.
A quintessência de Van Gogh
Conforme relata os biógrafos Steven Naifeh e Gregory White em ‘Van Gogh: The Life. New York’, o Saint-Paul-de-Mausole fica sediado em um antigo monastério, conhecido por receber e atender pessoas de uma classe social mais elevada.
Por conta disso, quando Vincent chegou lá, o local era ocupado por menos da metade de sua capacidade. Dessa maneira, o pintor viveu sozinho numa cela no segundo andar. Além disso, devido ao espaço abundante, gozava de um estúdio de pintura em uma sala do térreo.
Com tudo isso ao seu dispor, Van Gogh se tornou mais produtivo do que nunca. Foi nesse período, inclusive, que iniciou alguns de seus trabalhos mais importantes, como ‘Lírios’ e ‘Autorretrato’, ambos de 1889.
Além do mais, na segunda quinzena de junho, antes do dia 18, embora não se saiba uma data correta, pintou uma de suas maiores obras ‘A Noite Estrelada’. Essa data se baseia no dia que Vincent enviou uma carta para Theo para lhe informar sobre um novo estudo que desenvolveu de céu estrelado.
Como explicam os biógrafos, ‘A Noite Estrelada’ foi pintada durante o dia, sendo identificada como a paisagem de uma janela ao leste na cela onde o holandês ficava.
Vale ressaltar que, ele não podia pintar em sua cela, somente no estúdio, dessa forma, a representação do que via era baseada em rascunhos que fazia com tinta ou carvão em um pedaço de papel, ainda em seu aposento.
Dessa forma, criava variações de trabalhos anteriores. Pickvance diz que o cenário foi explorado por ele em pouco mais de 20 oportunidades. "Eu observei nesta manhã o campo da minha janela por um bom tempo antes da alvorada, com nada [no céu] além da Estrela d'Alva, que parecia enorme", escreveu ao seu irmão no começo daquele mês.
Segundo historiadores da arte, como Charles A. Whitney e Albert Boime, Vênus, também conhecido como Estrela D’Alva, realmente estava visível ao amanhecer de Provence na primavera daquele ano. Além disso, ela estava em um período em que seu brilho estava quase “máximo”.
Assim, conclui-se que a “estrela” mais brilhante do quadro, na parte superior da direita, é realmente nosso segundo planeta do Sistema Solar. Apesar disso, Boime aponta que um elemento do quadro estava fora do ponto de vista do holandês: o vilarejo, que foi feito com base em um dos rascunhos feito anteriormente por Vincent.
Apesar dos problemas enfrentados pelo pintor naquela época, Smith e Naifeh não classificam ‘A Noite Estrelada’ como resultado de uma visão alucinatória de Van Gogh. Porém, não descartam elementos ligados a uma epilepsia do lobo temporal.
"Não o tipo conhecido desde a antiguidade, que faz os membros estremecerem e o corpo sucumbir, mas uma epilepsia mental — uma convulsão da mente: um colapso do pensamento, da percepção, da razão e da emoção que se manifesta inteiramente no cérebro e frequentemente leva a um comportamento bizarro e dramático".
Pouco depois, em julho de 1889, Vincent Van Gogh teve sua segunda crise em sete meses. Os dois acreditam na teoria que traços de um colapso mental possam estar presentes na produção da obra — alegando que “num estado de aumentada realidade”, Van Gogh se rendeu ao cenário das estrelas, pintando "um céu noturno diferente de qualquer outro já visto no mundo por olhos casuais".