“Acho que a maternidade é como atravessar um portal”, diz Bruna Spínola em exclusiva
Anamaria
Bruna Spínola passou quatro anos longe das novelas. É que, depois do nascimento de Maria Luísa, a atriz escolheu se dedicar exclusivamente à pequena – e ela declara o quanto isso foi positivo.
Mas, com Malu completando 3 aninhos e o convite para atuar em Cara e Coragem, na Globo, a mamãe voltou a encarar a rotina dinâmica de gravações. Não parou por aí. Fez projetos no streaming, teatro e cinema: “É importante cuidar da minha filha, mas é igualmente importante cuidar de mim e seguir fazendo o que me realiza”. E ela enfatiza como se viu transformada nesse tempo. “No dia em que a Maria Luísa nasceu, me descobri outra. Alguns medos e inseguranças vieram à tona, porque a gente tem muito medo de falhar como mãe. Mas me senti uma mulher mais forte, potente e capaz.”
A artista sabe bem as delícias de seu papel de mãe, porém reconhece que as dores fazem parte da jornada também: “É preciso parar de romantizar a maternidade. No início, meus dias alternavam a imensa felicidade de ser mãe com momentos turbulentos. Me senti em uma verdadeira gangorra emocional. Foi duro e sofrido.”
Um alento a todas as outras mulheres que enfrentam o mesmo processo e se sentem cobradas a viver um conto de fadas, a alcançar uma performance irreal, dando conta de tudo, como se fossem super-heroínas. Esse papel é inalcançável... e está tudo bem!
Confira o bate papo da Bruna com a Revista AnaMaria:
Como é retornar à telinha depois de ficar mais de dois anos se dedicando à sua filha?
Foi um momento muito importante. Foi ótimo poder me dedicar exclusivamente à maternidade por um período, mas também fui muito feliz ao voltar para um set de filmagem. E voltei aos poucos, então fui me acostumando. No final de 2021, gravei How To Be a Carioca. No início de 2022, a série Musa Música [ambos os trabalhos com estreia prevista para o início deste ano]. Mesmo com essas experiências, eu ainda não estava no ritmo frenético das novelas. Daí, quando recebi o convite para integrar o elenco de Cara e Coragem, foi uma enorme felicidade. Esse contato diário com o público é sempre uma delícia. Atuar renova a minha energia, me dá mais gás e disposição. Acho que o que me faz feliz é encontrar um equilíbrio bom entre a família e o trabalho, sabe? É importante cuidar da minha filha, mas é igualmente importante cuidar de mim e seguir fazendo o que me realiza.
Você também atua e assina a direção executiva de A Filha do Caos, que aborda o preconceito. Percebe uma evolução da sociedade com relação à discriminação nos dias atuais?
Acho que essas questões todas passam por um enorme avanço no momento. Muito mais se fala e se luta pela igualdade e equidade hoje do que há dez anos. Mas, ainda há muito a ser vencido e discutido. Precisamos de um trabalho diário e intenso para termos uma sociedade mais humana e igualitária.
Aliás, como surgiu esse projeto?
Eu tinha muita vontade de falar sobre uma mulher em crise com a maternidade, com a profissão e o papel que o feminino ocupa nos espaços sociais e de trabalho. Tinha a ideia de trazer isso para um universo que eu conheço bem, que é a arte. Por isso, sugeri falar de uma atriz em crise na véspera da estreia de um novo espetáculo. Contei essa história para o diretor Juan Posada, que acrescentou diversas camadas ao filme. Da vontade conjunta de contar essa história veio a necessidade de produzir, atuar e ser co-roteirista do projeto. Esse modelo intimista de produção nos permitiu filmar, ir para a ilha de edição e voltar para o set num momento posterior. Algo quase impensável num sistema mais industrial, com equipe grande e demandas ininterruptas de filmagem.
Podemos dizer que a obra fala um pouco sobre suas inquietações como mulher, o processo de trabalho de atriz, crises e inseguranças?
Exatamente. A personagem principal perde uma gestação física e, ao mesmo tempo, se prepara para dar à luz sua nova personagem. Maria, a protagonista do longa, se prepara para estrear a peça Édipo Rei e vive todas as angústias da personagem Jocasta. A intenção foi dar a voz que a personagem feminina não tinha na peça, feita há milênios de anos. E eu queria falar de tantas mulheres por aí, que vivem silenciadas nas suas dores...
Além de atriz, você já fez trabalhos de fotografia, edição de vídeo, produção... É inquieta ou audaciosa?
Acho que sou inquieta mesmo. Tenho sempre vontade de descobrir coisas novas. A fotografia, por exemplo, é algo que faço por puro e exclusivo prazer. Já a produção surgiu da necessidade de fazer projetos autorais no teatro e cinema. Atualmente, estou estudando arquitetura, outro ramo que me desperta curiosidade. Acho que sou assim, inquieta e sempre em busca de novos desafios.
A maternidade transformou você? De que maneira?
Muito! Acho que a maternidade é como atravessar um portal. Aquela Bruna que eu conhecia não existe mais. No dia que a Maria Luísa nasceu, me descobri outra. Alguns medos e inseguranças vieram à tona, porque a gente tem muito medo de falhar como mãe. Mas me senti uma mulher muito mais forte, potente e capaz. Se eu tenho medo de algo, tenho que aprender a lidar e seguir em frente. Porém a maior mudança foi emocional. Eu experimento todos os dias um amor que eu nem imaginava que pudesse existir. Mudou tudo, inclusive a minha relação com os meus pais e a minha família. A maternidade me deu outra perspectiva de mundo.
E quais as dores e as delícias da maternidade real?
É preciso parar de romantizar a maternidade. O começo foi difícil e passei por um processo de muito aprendizado. No início, meus dias alternavam a imensa felicidade de ser mãe com momentos turbulentos, como a privação do sono e a dor inicial da amamentação. Me senti em uma verdadeira gangorra emocional. Foi duro e sofrido, mas faz parte do processo.
A Bruna antes de ser mãe era...
Dorminhoca, preguiçosa, adorava ficar no sofá comendo pipoca e assistindo a filmes.
E depois de ser mãe...
Enérgica, potente, sempre resolvendo mil e uma coisas ao mesmo tempo. E ainda procuro horário para ver meus filmes [risos].
Hoje em dia, o que é mais desafiante para a mãe Bruna? E para a mulher Bruna?
O desafio da maternidade é diário. Desde questionamentos mais simples até escolhas mais complexas que, possivelmente, moldarão o caráter da Maria Luísa. Sempre penso e tento conduzir uma situação da melhor forma, mas não é simples. A gente conversa aqui em casa, tenta de maneiras diferentes lidar com birras e frustrações da nossa pequena. Com a maternidade, a gente entende que não tem controle de nada. Isso frustra um pouco a mulher Bruna. Sempre fui racional e gostava de ter controle, de planejar. Com a maternidade, nem sempre isso e possível.
O que mais amedronta você quando pensa em preparar sua filha para o mundo?
Penso muito no ser humano que ela vai se tornar. Quero que ela seja uma pessoa de bom caráter acima de tudo. E sempre me questiono como as minhas escolhas a influenciarão. Também me preocupo com o mundo que ela vai encontrar pela frente. Eu tenho medo de não estar aqui no futuro para poder estar ao lado dela e apoiá-la nos momentos difíceis que aparecerão pelo caminho.
Você é de bem com a vida e combate os problemas com alto-astral. É isso?
Sou, sim. Acho que, de um modo geral, o mau humor não ajuda em nada. Tento sempre levar a vida de forma leve e de bom humor.
Você já declarou em entrevista: ‘Tento sempre driblar os problemas e acreditar que o dia seguinte será melhor. Sou bem otimista em relação à vida’. O otimismo não ofusca a visão da realidade?
Acho que são duas coisas diferentes. Você pode ser otimista e não ser alienada. Eu encaro a vida com otimismo, mas sou bem realista nas questões práticas. Eu gosto de velejar e sempre acredito que o tempo vai melhorar. Mas estou sempre com as velas amarradas e com o barco pronto para enfrentar as piores condições. Assim, se vier o mau tempo, estou tranquila e saberei agir com cautela e segurança. E se o sol e a brisa aparecerem, estou pronta para aproveitar.