Ramille, a Melissa de 'Encantado’s', fala sobre representatividade negra nas telinhas
Anamaria
Moradora do bairro de Irajá, subúrbio do Rio de Janeiro, Ramille iniciou a carreira em 2014. Morou na China, atuando como cantora e dançarina no espetáculo Ginga Tropical. E, como a dança é uma de suas paixões e seu combustível diário, também já foi passista da escola de samba Salgueiro e participou do reality Got Talent Brasil, em 2013, na RecordTV: “Quem canta e dança é mais feliz”, fala com empolgação.
Vivendo sua primeira personagem na televisão, a carioca de 25 anos vem brilhando com a personagem Melissa, em Encantado’s, da Globo. A série, que tem elenco predominantemente preto, a representa. Ela diz que olhar para o lado e se deparar com referências negras em destaque é algo importante. “É uma conquista, apesar de tardia. São tantos artistas talentosos que só precisam de espaço e oportunidade, sabe?”.
Determinada, pé no chão e realista, a artista sabe bem o quanto estar na TV é essencial, ainda mais em papéis relevantes, sem nenhum viés de estereótipos. “Dessa maneira, dizemos para o mundo que somos capazes e pertencemos a esses lugares. Representatividade pura!”, fala.
Está aí uma artista empoderada, orgulhosa de sua origem e que não está para brincadeira (ainda que a leveza, o sorriso largo e a descontração sejam marcantes nela). Sua estreia numa produção que tem o Carnaval como pano de fundo, certamente, é só a primeira de inúmeras outras. Que venham os próximos capítulos, então!
Confira a entrevista completa:
Como está sendo a experiência do primeiro trabalho na TV, na série Encantado’s? Está acontecendo do jeitinho que você sonhou?
Eu estou amando tudo! Poder viver do meu sonho é maravilhoso, ainda mais ao lado de pessoas tão incríveis e talentosas... Não poderia ser melhor! Encantado’s é um projeto especial e muito diferenciado para todas as pessoas envolvidas. Estou realmente muito feliz e realizada.
A série é escrita por mulheres pretas e o elenco, em sua maioria, também é de atores pretos. Considera isso uma conquista? Como você enxerga esse movimento na TV nos dias de hoje?
É uma conquista nossa, sim, apesar de tardia. Mas que bom que está acontecendo cada vez mais... São tantos artistas talentosos que só precisam de espaço e oportunidade, sabe? Ter referências pretas na televisão é essencial, ainda mais em papéis de destaque. Dessa maneira, dizemos para o mundo que somos capazes e pertencemos a esses lugares. Representatividade pura!
O que a Ramille tem de semelhanças com a personagem Melissa?
Acredito que a ousadia. A gente fala as coisas na cara e vai atrás do que quer!
Você morou na China e trabalhou como cantora e dançarina em um espetáculo brasileiro. Quais boas lembranças guarda dessa época?
Ah, a gente zoava muito [risos] e se divertia demais com coisas simples. Durante a folga, às vezes, uma saída para comer algo fora que fosse já virava um acontecimento, entende? Sem falar as brincadeiras nos camarins, a nossa ida à Muralha da China, as cantorias no carro...
Aliás, além de talento para a dramaturgia, é nítido seu dom para a música também. Não à toa, você participou do programa Got Talent Brasil, da Record TV, em 2013. Quais os prós e os contras de participar de um reality?
Ah, é bom porque você fica em evidência e surgem oportunidades de trabalho. As pessoas te conhecem e vão lembrar de você. O ruim, diria, é que você precisa aprender a lidar com as críticas maldosas. A saúde mental precisa estar em dia, do contrário...
Você foi passista do Salgueiro. O que o samba representa em sua vida?
Eu amo o samba e ele sempre foi uma diversão para mim. Tenho memórias lindas da época em que fui passista. Nossa, realmente, fui muito feliz no Salgueiro. Nós éramos (somos ainda) uma família. O samba representa amor, família, amizade.
Você posta vários vídeos no Instagram dançando... E qual o papel da dança no seu dia a dia?
Essencial! Eu AMO dançar. É um movimento muito natural meu. Sempre fui muito curiosa, observadora e me arriscava dançando. Não sou profissional, mas tenho facilidade para pegar os passos, sabe? E não tenho vergonha. Já fiz aulas de hip hop quando era pequena, depois fui passista, fora os milhões de vídeos que fico assistindo o dia todo se deixar [risos]...
Quem canta (ou dança) seus males espanta?
Sem a menor dúvida! Quem canta e dança é mais feliz.
Tem algum segredinho de beleza para compartilhar?
Água, água e água. Eu sempre brinco dizendo que as bonitas bebem água [risos novamente]. E, claro, não dormir de maquiagem, se alimentar bem, cuidar da saúde como um todo.
Você já teve os cabelos trançados e, agora, está ainda mais poderosa com os belos cachos. Assumir os fios enrolados, um dia, já foi problema para você?
Com certeza! Toda menina preta já teve questões de aceitação com o cabelo e comigo não foi diferente. Sofri bullying, já alisei os fios para me ‘encaixar’ no tal padrão estético, até entender o quanto sou bonita com meus cachos. Aí tudo mudou!
O que você faz para manter a boa forma? Como é sua alimentação?
Eu treino na academia. De um ano para cá, tenho tido ajuda de um personal, o Ronny, e tenho mantido uma constância – o que é essencial. E tento me alimentar bem durante a semana. Às vezes, consigo mais, outras menos, mas o importante é não parar e saber equilibrar as coisas.
Falando nisso, como lida com o espelho?
Tenho altos e baixos, mas estou na minha melhor fase de autoestima, confiante, me achando linda!
Sabemos que Encantado’s terá a segunda temporada ainda neste ano. Já está preparada? Tem outros projetos em vista?
Já estamos gravando a segunda temporada da série e estou realmente muito feliz. E vamos que vamos. Um dia de cada vez [risos]. Estou sempre aberta às possibilidades.