A experiência traumática da atriz que passou pela mirabolante tentativa da “cura gay”
Aventuras Na História
No século 19, “terapias” que tinham como objetivo alterar a identidade de gênero ou sexualidade de uma pessoa começaram a ser desenvolvidas. Isso porque, no mesmo período, qualquer um que fosse diferente do modelo cis-hétero seria considerado patológico.
Ainda que estejamos falando do século 19, muitos desses métodos persistem na atualidade, mesmo que inúmeros países já tenham banido as terapias de reorientação sexual. Entre terapia de choques elétricos e regimes hormonais, o “tratamento” para algo que não é uma doença continua sendo observado ao redor do mundo.
Na última semana, a atriz estadunidense Alyson Stoner contou que, em pleno século 21, passou por uma “terapia de conversão” para sua sexualidade. A artista deu detalhes da experiência traumática em uma entrevista à revista Insider, que foi repercutida pelo portal UOL.
Stoner é conhecida por interpretar inúmeros personagens em filmes infantis na televisão, como Camp Rock (2008) e Doze é Demais (2008), que tiveram sequências. Embora estivesse um pouco afastada do cinema, a atriz afirmou publicamente que faz parte da comunidade LGBTQIA+ em 2018.
Mas ela não estava lidando bem com o fato. Quando a artista se apaixonou pela primeira vez por uma mulher, teve problemas em aceitar os sentimentos que estava tendo por alguém do mesmo gênero, principalmente devido à religiosidade que praticava, algo que acabou causando inúmeros conflitos pessoais.
"Eu me senti presa, péssima, senti que tudo estava errado comigo, embora eu, no fundo do meu coração, só quisesse ser uma devota seguidora de Deus", explicou Alyson durante a entrevista.
Foi então que ela decidiu buscar ajuda para lidar com a sexualidade: hoje, a americana se descobriu pansexual, porém, no começo, era bem mais difícil que isso. Ela já estava em um conflito pessoal, mas as pessoas ao redor dela fizeram com que a atriz se sentisse ainda pior.
"Então, ouvir de pessoas que você confia, respeita e admira, que você é podre e abominável e está marcada pelo diabo por causa da sua posição em Hollywood, leva você a uma espiral. Pelo menos pra mim, eu só queria fazer a coisa certa", contou Stoner à revista.
“Cura gay”
Ainda que Alyson tivesse buscado ajuda para lidar com os confrontos internos que estava vivendo, a assistência que ela procurou acabou causando ainda mais traumas.
A “terapia de conversão” contou com pastores e muito mais para que a orientação sexual da atriz 'voltasse à conformidade', o que claramente não aconteceu.
A “cura gay”, além de não ser possível, causou inúmeros transtornos na vida da americana, que considera o capítulo extremamente difícil até mesmo para ser relembrado. Ela afirmou que nem mesmo gosta de pensar sobre o período.
"Minha mente nem quer pensar nisso. Minhas pernas começam a tremer só de pensar em reviver um pouco daquilo. Eu sei em primeira mão o quão perigoso isso foi pra mim como alguém que tinha acesso a terapia e outras formas de apoio", disse.
Além da própria experiência causar traumas inimagináveis, viver um período em que você quer mudar tudo sobre si mesmo causa pensamentos até mesmo suicidas. Foi o que relatou Alyson a partir da sua vivência.
Ela relembrou que se questionava constantemente.
“E eu ainda estava pensando se minha vida valia a pena ser vivida. Se tudo em mim estava errado, então porque seria bom me ter por perto? Eu comecei a me ver como alguém que só fazia mal aos outros”.
Para Stoner, existem “cicatrizes” e “sombras” que continuam com a pessoa que passa por uma situação daquelas, mesmo que ela consiga viver bem depois de tudo.
"Então, sim, ainda não sou capaz de voltar e detalhar o que aconteceu, o que é um indicador de como aquele capítulo foi difícil para mim".