Ainda Estou Aqui: entenda por que a importância do filme vai além do Oscar

Um dos maiores filmes do último ano, "Ainda Estou Aqui" conquistou não só os brasileiros, mas também o público internacional.

No Oscar, maior premiação de cinema do mundo, o longa-metragem ambientado na ditadura militar foi indicado em três categorias: "Melhor Filme", "Melhor Filme Internacional" e "Melhor Atriz", com Fernanda Torres, protagonista. 

O desempenho de Torres, vale lembrar, resultou na vitória do longa-metragem na categoria de 'Melhor Atriz em filme de drama' no Globo de Ouro. 

Independente da vitória, que pode ser consagrada no próximo domingo, 2, o longa-metragem de Walter Salles já entrou para a história do país. Juliana Dal Piva, autora de 'Crime sem castigo: Como os militares mataram Rubens Paiva', explica em entrevista à AH que "[O filme] vai sim ficar marcado na história do Brasil, independente do que aconteça".

"A gente está vendo o Supremo Tribunal Federal voltar a discutir o tema [crimes cometidos na ditadura militar], a sociedade tomar conhecimento da história do Rubens Paiva e também abrir espaço para falar dos outros casos. Então, o filme já marcou um tempo e vai ficar na história do Brasil", aponta. 

Juliana, que resgata a trajetória e morte de Rubens Paiva nas mãos do regime militar, explica que a história contada em "Ainda Estou Aqui" poderia ter acontecido em qualquer lugar do mundo.

"Eu acho que o filme acaba cumprindo um papel maravilhoso didático de emocionar com uma história que poderia infelizmente ter acontecido em muitos lugares do mundo e aconteceu em muitos lugares do mundo, que é como uma família destruída por uma violência brutal que atravessa ela do dia para a noite. De maneira injustificada e que perdura por décadas", enfatiza Dal Piva.

O filme

 "Ainda Estou Aqui" compreende uma adaptação da obra escrita Marcelo Rubens Paiva, que retrata a dura jornada de sua mãe, Eunice Paiva, durante a ditadura militar brasileira.

A trama se concentra nos anos 1970 e retrata como a vida rotineira de uma dona de casa, casada com um político, vira do avesso com o sumiço de seu marido, após ser sequestrado por nomes do regime militar.

"Rubens é levado de casa na frente da mulher e dos filhos. É sequestrado e preso, porque foi levado de maneira ilegal, sem uma ordem, sem uma justificativa, sequer legal para isso. Sai de casa dirigindo o próprio carro, e é levado ao DOI-CODI, e nunca mais é visto com vida. Ele é torturado por cerca de 24 horas, pouco mais do que isso, e é assassinado sob tortura. E depois tem a monstruosidade do corpo dele ser enterrado e desenterrado várias vezes pelo Rio de Janeiro para que o corpo fosse ocultado. A ditadura sabia que não podia entregar um corpo todo violentado de uma pessoa que tinha saído de casa, saudável, e da qual tinham várias testemunhas do momento em que ele saiu de casa, foi levado pelos militares", explica a escritora. 

Com as ilustres Fernanda Torres e Fernanda Montenegro no papel de Eunice, o filme mostra como uma dona de casa se transforma numa defensora dos direitos humanos.

Com a angústia de familiares e amigos, Eunice luta incansavelmente pela verdade e pela justiça, desafiando os horrores do Anos de Chumbo.

O filme, entretanto, não aborda unicamente o drama pessoal de Eunice, mas também o impacto devastador da ditadura militar em famílias brasileiras.