Após o Oscar, Ainda Estou Aqui é alvo de boatos e fake news nas redes

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A campanha bem-sucedida de "Ainda Estou Aqui" no Oscar contou com uma ampla mobilização dos brasileiros nas redes sociais.
Como acontece com fenômenos virais, surgiram diversas postagens com alegações falsas ou enganosas, conforme repercutido e checado pelo Estadão. Entre os principais alvos da desinformação estavam o financiamento da produção, a atriz Fernanda Torres e até a verdadeira família Paiva, protagonista do longa-metragem.
Financiamento
Algumas postagens afirmaram, de forma equivocada, que o filme teria recebido ao menos R$ 1 milhão do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), gerido pela Agência Nacional do Cinema (Ancine), ou recursos da Lei Rouanet.
Na realidade, a VideoFilmes, produtora principal do longa, adotou um modelo de parceria financeira internacional, envolvendo empresas como a brasileira Globoplay e as francesas Arte-Cinema e Mact Productions.
Declarações distorcidas
Fernanda Torres foi um dos rostos mais marcantes da campanha do filme no Oscar, sendo homenageada com máscaras no carnaval, projeções de drones em blocos e até um boneco gigante no tradicional desfile de Olinda. Ela interpretou Eunice Paiva, esposa do ex-deputado Rubens Paiva, sequestrado e assassinado pelo regime militar, cujo corpo jamais foi encontrado.
A atriz também foi alvo de uma campanha de desinformação, sendo acusada falsamente de ter relativizado as mortes por covid-19. Esse boato surgiu durante a pandemia, após Fernanda publicar uma coluna de opinião no jornal Folha de S. Paulo.
A frase atribuída à atriz, de que as vítimas da doença teriam o efeito de abreviar o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, nunca foi dita por ela e nem consta no texto original.
Rubens Paiva
Outro alvo de boatos foi a trajetória de Rubens Paiva e um episódio marcante da luta armada contra a ditadura militar: a guerrilha liderada pelo ex-capitão do exército Carlos Lamarca. Circulou a alegação falsa de que o ex-deputado teria abrigado o grupo armado na Fazenda Caraitá, em Eldorado (SP), propriedade de seu pai, Jaime Paiva.
No entanto, documentos oficiais do Exército Brasileiro contradizem essa informação, apontando que a base da guerrilha de Lamarca localizava-se em Capelinha, uma área de mata fechada no município de Jacupiranga (SP).
O grupo apenas passou por Eldorado, e o episódio ficou marcado por um tiroteio ocorrido em uma praça da cidade, sem qualquer relação com a fazenda de Jaime Paiva.
Também foi disseminada a informação incorreta de que Rubens Paiva teria sido filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) e envolvido em lavagem de dinheiro para a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), grupo liderado por Lamarca.
Na verdade, Paiva foi filiado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) entre 1962 e 1964, tendo seu mandato cassado pela ditadura militar. Historiadores indicam que ele manteve vínculos anteriores com o Partido Socialista Brasileiro (PSB), mas não há registros de qualquer conexão com Lamarca ou apoio à luta armada.


