Cidade Tóxica: Veja a história real por trás da série da Netflix
Aventuras Na História
Nesta quinta-feira, 27, chegou à Netflix a nova minissérie 'Cidade Tóxica', que, em quatro episódios, narra os eventos em torno de um escândalo de envenenamento ambiental registrado há mais de uma década na Inglaterra.
Nessa história alarmante, "quando dezenas de bebês nascem com defeitos congênitos na cidade de Corby, as mães embarcam em uma batalha por justiça", segundo a sinopse disponibilizada na própria Netflix.
Os eventos em torno de 'Cidade Tóxica' ocorrem devido a uma poeira tóxica que pairava sobre a cidade, causando problemas a moradores e a bebês que ali nasciam.
A decisão tomada no tribunal em 2009 contra o município configurou a primeira vez que um tribunal civil da Inglaterra relacionou defeitos congênitos ao gerenciamento negligente de resíduos tóxicos.
Confira a seguir a verdadeira história por trás de 'Cidade Tóxica':
Defeitos congênitos
Na série, Susan McIntyre (interpretada por Jodie Whittaker) começa a suspeitar depois que deu à luz, e percebeu que o seu bebê nasceu com uma mão deformada. No hospital, outra mãe também teve um bebê com um defeito de nascença. Ela, então, recebe uma ligação de um jornalista, que a fez perceber que havia algo errado.
Na vida real, o jornalista Graham Hind ligou para McIntyre quando seu filho já tinha 18 meses, após noticiar, em um artigo de 1999 do Sunday Times, que um grupo de crianças com deformidades vivia próximo a uma rede de aterros sanitários tóxicos, anteriormente associados a uma antiga usina da siderúrgica British Steel.
Hind e seu coautor, Stephen Bevan, acessaram um relatório de auditores locais que apontou que, de fato, uma pedreira local apresentava níveis de arsênio, zinco, boro e níquel superiores aos aceitos pelas diretrizes de segurança ambiental, mesmo após a limpeza do local.
Bevan, inclusive, disse à Time, na época, que as mães de Corby suspeitavam que não eram as únicas com filhos com defeitos congênitos. Eventualmente, foram descobertos vários casos de deformidades nos membros. Como resultado, uma ação coletiva foi assinada por 19 famílias.
"Nossa história foi a faísca que acendeu o fogo", disse Bevan à revista Time. "Você tem pessoas comuns que são as vítimas, pagando o preço pela má gestão. Esse é um dos papéis de uma imprensa independente: falar em nome das pessoas que não têm voz".
Vida local
Conforme relatavam moradores locais, em Corby havia lagoas lamacentas que cheiravam "como uma enfermaria de hospital", e era comum que crianças brincassem próximo a grandes poças de líquido que, curiosamente, borbulhavam quando pedras eram atiradas. Porém, é possível que o que mais afetava o dia a dia era uma poeira que pairava por toda a cidade.
Tracey Taylor (Aimee Lou Wood) também é uma figura importante nesse caso e na série. Seu primeiro filho nasceu com uma orelha deformada, mas infelizmente morreu pouco depois. Ela e McIntyre são boas amigas em 'Cidade Tóxica', mas Taylor não pôde ser uma das reclamantes no caso, pois, seu filho não sobreviveu.
E, ela se lembrou de que havia "uma poeira fina que se espalhava por todo lugar", como se "o deserto do Saara tivesse acabado de passar por cima de uma grande nuvem", relatou à Time na época. "Você podia limpar sua mesa e, quando pegava sua xícara de café, ela estava coberta de poeira novamente", acrescenta Tracey Taylor.
Por conta da poeira, ela mal podia sair de casa na hora do jantar, pois, o ar irritava sua garganta, e também precisava constantemente usar inaladores para sua asma quando estava em Corby. No entanto, quando saía da cidade, se sentia bem.
Outra mãe envolvida na ação, e na série, é Maggie Mahon (Claudia Jessie), cujo marido Derek (Joe Dempsie), que trabalhava no local de recuperação da siderúrgica, chegava todos os dias em casa com as roupas cobertas por poeira.
O filho do casal foi mais uma das crianças com deformações congênitas, nascendo com o pé torto. Ele precisou passar por várias cirurgias para andar normalmente.
Conclusão do caso
Bem como a nova minissérie da Netflix mostra, a equipe jurídica do advogado Des Collins, um nativo de Corby que representava as famílias no caso, recebeu documentos de um ex-funcionário do conselho, que comprovaram definitivamente que as medidas tomadas pelo município de Corby para impedir a contaminação foram inadequadas.
Em 2009, uma década após a publicação do primeiro artigo do Sunday Times sobre o caso, um tribunal decidiu responsabilizar o conselho municipal de Corby por negligência.
"O conselho municipal de Corby permitiu e levou à ampla dispersão de lama e poeira contaminadas em áreas públicas de Corby e em residências particulares, com o resultado de que os contaminantes poderiam realisticamente ter causado os tipos de defeitos congênitos dos quais os reclamantes se queixaram (salvo em aspectos limitados)", escreveu o juiz responsável pelo caso.
Vale mencionar que muitos dos funcionários responsáveis por limpar esses locais de contaminação eram ex-operários da siderúrgica, que ficaram desempregados depois que a empresa recuou, mas conseguiram ainda trabalhar no local de recuperação, mesmo que não tivessem especialização em remoção de resíduos tóxicos.
A inexperiência era notável: material tóxico grudava nas rodas dos veículos, o que espalhava contaminação por toda a cidade. Além disso, as rodas eram lavadas com água contaminada, em vez de água limpa, o que piorava ainda mais a situação.
Por fim, em abril de 2010 o conselho municipal de Corby resolveu um acordo com as famílias afetadas — em um valor que não foi divulgado —, e o caso se tornou uma referência no que se tange à contaminação ambiental.
A história de Corby e da contaminação que afetou diversas famílias e recém-nascidos é retratada em 'Cidade Tóxica', já disponível na Netflix.
