Como eram os alimentos da Última Ceia de Jesus, retratada em ‘The Chosen’?
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Aventuras Na História
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Intitulada “A Última Ceia”, a quinta temporada da série dramática “The Chosen” irá estrear nos cinemas brasileiros em 10 de abril. Os ingressos já estão à venda, com artes oficiais fotografadas por Annie Leibovitz.
Filmada especialmente para as telonas, a nova temporada retrata os eventos da Semana Santa, mostrando Jesus Cristo (Jonathan Roumie) acolhido como rei pelo povo de Israel, o que desperta a oposição dos líderes religiosos. Os episódios estarão disponíveis para streaming ainda este ano.
No trailer divulgado, é possível ver a recriação da Última Ceia. A cena retrata a refeição de Jesus com seus discípulos em Jerusalém, pouco antes de sua crucificação.
Banquete simples
Na celebração da Páscoa com seus discípulos, Jesus sabia que sua morte estava próxima, conforme relatado nos Evangelhos. Durante o evento, ele partilhou pão e vinho, afirmando que aqueles seriam seu corpo e sangue, pedindo que seus seguidores repetissem o ritual "em memória de mim".
Historicamente, o pão consumido era o pão ázimo, sem fermento, feito de farinha e água, e frequentemente misturado com outros cereais, como aveia e cevada.
Esse tipo de pão era essencial para os judeus durante a fuga do Egito, e considerando que Jesus e seus discípulos eram judeus pobres, esses ingredientes provavelmente estavam ao alcance deles.
Em entrevista à BBC, o historiador e professor titular do Instituto de História da UFRJ André Leonardo Chevitarese destacou que o banquete era simples, com pão, vinho e algumas frutas, como romãs, tâmaras e uvas. Somente a elite tinha acesso a uma mesa mais farta, enquanto figuras como Jesus e seus seguidores tinham refeições mais modestas.
O vinho
A refeição também incluía vinho, mas em moderação, já que a mesa não era abundante. Pesquisas sugerem que, naquela época, a bebida era de qualidade inferior e sem um padrão consistente.
Para melhorar o sabor, o vinho era misturado com ervas aromáticas, mel e frutas, o que ajudava a suavizar o gosto amargo, diminuir o avinagrado e o gosto oxidado devido à falta de conservação adequada.
O arqueólogo Patrick Edward McGovern, em seu livro “Ancient Wine: The Search for the Origins of Viniculture”, aponta que era comum adicionar especiarias como alcaparras, açafrão e pimenta à bebida. Além disso, o vinho era diluído com água antes de ser consumido.
Devido à ausência de garrafas e tonéis adequados, as uvas eram secas e utilizadas para produzir vinhos ao longo do ano. Esses vinhos, feitos de uvas secas, tinham maior teor alcoólico e um sabor que variava entre o doce e o amargo, similar aos vinhos feitos com passas hoje em dia. O clima quente e seco da região favorecia a produção de uvas mais doces, o que resultava em vinhos mais alcoólicos.
O consumo de vinho também era uma medida de segurança sanitária, já que a água não era tratada e a bebida alcoólica ajudava a evitar contaminações. Com a expansão do império romano, a produção de vinhedos foi incentivada para garantir o fornecimento aos soldados, explica o arqueólogo na obra.
Embora não haja consenso sobre o tipo de uva cultivada em Jerusalém, acredita-se que a variedade ancestral do vinho produzido na região seja uma versão da uva syrah, adaptada ao clima e solo local.
Simbolismo
Para teólogos e estudiosos do cristianismo, não há dúvida de que o pão e o vinho, com seus significados religiosos, foram os principais elementos da última ceia de Jesus.
A refeição aconteceu durante a celebração da Páscoa, uma festa judaica tradicional que remonta à fuga apressada dos judeus do Egito, quando se alimentaram de ervas amargas, repartiram o pão e comeram o cordeiro sacrificado, conforme explicou o historiador, filósofo e teólogo Gerson Leite de Moraes, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, à BBC.
A Páscoa, segundo Moraes, é uma celebração de libertação, e os pães ázimos, sem fermento, simbolizam essa fuga apressada, pois eram alimentos simples, típicos de pessoas com poucos recursos. Já o vinho era uma bebida comum e parte da alimentação cotidiana.
Moraes enfatizou que é historicamente certo que Jesus bebia vinho com frequência, o que não deve ser visto com escândalo. “Em algum momento, Jesus acaba sendo acusado de beberrão, de acolher prostitutas, de participar de festas, de andar com pessoas simples e pobres… Jesus era um homem festeiro e o último momento dele é um momento em que ele está como um judeu típico celebrando a Páscoa”, afirmou.
O ponto crucial, de acordo com o historiador, é a ressignificação que Jesus fez desse ato, transformando-o em um novo sacramento que fundamenta a Igreja: a Eucaristia, ou Santa Ceia. Ao modificar o significado do pão e do vinho, foi estabelecido um novo rito, incorporado ao cristianismo.
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