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Documentário do caso Gabby Petito tem editora brasileira: 'Vai além do crime'
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Documentário do caso Gabby Petito tem editora brasileira: 'Vai além do crime'

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Aventuras Na História
19/02/2025 22h00
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©Divulgação/Instagram/@gabspetito
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Dividido em três episódios, 'Homicídio nos EUA: Gabby Petito' estreou na Netflix na última segunda-feira, 17, e já é a segunda série mais assistida dentro da plataforma de streaming. A trama relembra o assassinato da jovem influencer americana em 2021, nas mãos de seu noivo, Brian Laundrie.

A produção conta com a cineasta brasileira Fernanda Schein como parte do time de editores do documentário. Schein é reconhecida por seus trabalhos em 'Poisoned', que recentemente venceu o Emmy, e pelo documentário 'O Caso dos Irmãos Menendez'.

"A edição de true crime caminha em uma linha tênue entre engajamento e exploração. Minha abordagem é sempre priorizar a história, mas com um olhar ético. É preciso estruturar a narrativa de um jeito que respeite as vítimas e, ao mesmo tempo, tenha impacto", aponta Fernanda em entrevista exclusiva à equipe do Aventuras. 

No caso da Gabby Petito, onde as redes sociais tiveram um papel central, a edição pode tanto humanizar a vítima quanto transformar a história em espetáculo. A responsabilidade está em escolher a primeira opção", ressalta. 

Em comparação com a produção sobre o Irmãos Menendez, Fernanda Schein explica que a principal diferença entre o caso de Lyle e Erik está no contexto. "No início, a mídia retratou os dois como jovens mimados, mas o documentário recente reavaliou a história pelo viés de abuso. Decisões de edição — como quais vozes são amplificadas e como imagens de arquivo são usadas — influenciam diretamente a forma como o público percebe a justiça".

O caso Gabby Petito

Em 2021, a jovem influencer americana Gabby Petito e seu noivo, Brian Laundrie, embarcaram em uma viagem com o intuito de conhecerem parques nacionais ao redor dos Estados Unidos. 

A viagem, entretanto, registrada por Gabby em suas redes sociais, acabou interrompida com menos de dois meses, quando as postagens cessaram de forma repentina. Assim, apenas Brian voltou para a casa dos pais, na Califórnia, enquanto a influencer foi dada como desaparecida

O caso da Gabby Petito teve um impacto global porque se desenrolou em tempo real nas redes sociais. A história dela foi contada através de vlogs, postagens no Instagram e imagens de câmeras corporais da polícia — elementos que deram uma sensação de urgência raramente vista em casos de desaparecimento", diz a cineasta brasileira. 

Com o desenrolar das investigações, as autoridades descobriram que Gabby Petito foi assassinada por Laundrie. O crime gerou uma enorme comoção e repercussão. "Como editora, estou sempre atenta a como imagens brutas influenciam a percepção do público. A abordagem policial, por exemplo, se tornou um momento decisivo. Isso é um lembrete de como a edição, até na vida real, molda narrativas".

Gabby Petito / Crédito: Divulgação/Netflix

"O documentário vai além do crime em si. Ele aborda o impacto da mídia e das redes sociais na investigação, o papel da internet na busca por justiça e, principalmente, as falhas sistêmicas em reconhecer e intervir em relacionamentos abusivos", explica Schein sobre seu trabalho. 

Fernanda conta que durante o processo de montagem do documentário, uma das grandes preocupações foi entre equilibrar a cronologia dos fatos com análises mais profundas — dando voz a especialistas em violência doméstica e jornalistas que acompanharam o caso.

"Espero que o público saia do documentário não só com uma visão mais ampla do que aconteceu com a Gabby, mas também refletindo sobre as disparidades na cobertura da mídia e a forma como lidamos com sinais de abuso em nossa sociedade. Para mim, foi um projeto que reforçou a responsabilidade que temos como contadores de histórias — não basta apenas relatar um caso, é preciso dar contexto e humanidade a ele", assegura. 

Reflexões pós-Gabby Petito 

A cineasta brasileira Fernanda Schein explicou que mesmo após quase quatro anos do crime, o caso da Gabby Petito ainda é um exemplo da força e da fragilidade da era digital. "Por um lado, ele mostrou como as redes sociais podem ajudar na resolução de crimes — internautas analisaram pistas, conectaram informações e pressionaram autoridades de um jeito que não seria possível anos atrás". 

Mas, ao mesmo tempo, o episódio serviu para revelar o quanto o consumo de tragédias pode se tornar um espetáculo. "O caso viralizou, e muita gente acompanhou como se fosse uma série de suspense, sem pensar no impacto real para a família dela".

A cineasta brasileira Fernanda Schein - Gabriela Ono

Schein ainda aponta que revisitar o caso após tanto tempo continua sendo importante, pois ainda há muito sobre o quê discuti-lo. "A cobertura midiática do caso gerou debates sobre a 'síndrome da mulher branca desaparecida' e como outras vítimas, especialmente mulheres negras, indígenas e de outras comunidades marginalizadas, não recebem a mesma atenção". 

Outro assunto essencial, completa, é a questão da violência doméstica, que acaba disfarçada de relacionamento 'perfeito' nas redes sociais. "Quando se volta a esse caso, não é só para lembrar o que aconteceu com a Gabby, mas para questionar o que aprendemos (ou não) desde então".

O caso reflete muita coisa sobre o momento em que vivemos. Ele escancara como a imagem pública que construímos online nem sempre corresponde à realidade — o relacionamento dela parecia um sonho nas redes sociais, mas por trás havia um histórico de abuso e controle. Isso levanta questões sobre como as mídias sociais moldam nossas percepções e como sinais de alerta podem passar despercebidos porque estamos acostumados a consumir apenas a versão 'editada' da vida das pessoas".

Fernanda também levanta a discussão em torno das "falhas no sistema": como a abordagem policial antes da morte da influencer; mostrando que nem sempre as autoridades estão preparadas para identificar e lidar com vítimas de abuso psicológico. "E também há a questão da cobertura midiática: por que esse caso mobilizou tanta gente enquanto outros desaparecimentos não ganham sequer uma nota na imprensa?", indaga.

"No fim, a história da Gabby é sobre mais do que um crime trágico. É sobre gênero, privilégio, o poder (e os perigos) da internet e as lacunas no modo como a sociedade enxerga relacionamentos abusivos. Documentários têm um papel fundamental nesse debate, porque ajudam a resgatar essas reflexões e a garantir que histórias como essa não sejam apenas manchetes passageiras", finaliza.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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