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Emilia Pérez: Entenda por que o filme irritou mexicanos
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Emilia Pérez: Entenda por que o filme irritou mexicanos

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Aventuras Na História
30/01/2025 22h00
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©Divulgação/Pathe
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Um thriller policial com comédia e, ainda por cima, um musical, 'Emilia Pérez' acumula motivos para ter chamado atenção nos últimos tempos. Dirigido e roteirizado pelo cineasta francês Jacques Audiard, o filme acompanha um famoso traficante que desaparece e, quando retorna, transformou-se numa mulher e pretende reconquistar sua família.

"Rita trabalha em um escritório de advocacia mais interessado em lavar dinheiro do que em servir a lei. Para sobreviver, ela ajuda um chefe do cartel a sair do negócio para que ela possa finalmente se tornar a mulher que sempre sonhou ser", narra a sinopse. Em seu elenco, destacam-se Karla Sofía Gascón, Zoë Saldaña e Selena Gomez.

A narrativa alucinante de 'Emilia Pérez' chama atenção na temporada recente de premiações: foram quatro categorias do Globo de Ouro, e já possui 13 indicações no Oscar, que ocorre em março. Porém, grande parte da repercussão em torno do longa é controversa. Entenda!

Críticas

Um motivo inicial que já levanta suspeitas sobre o filme é que, por mais que a trama se passe no México, Audiard o produziu em um estúdio perto de Paris. Além disso, exceto por Adriana Paz, o elenco conta apenas com atores não mexicanos — Karla Sofia Gascon é espanhola, enquanto Zoë Saldaña e Selena Gomez são norte-americanas.

Porém, isso continua longe de ser a maior polêmica. Isso porque, conforme escreve a jornalista mexicana Cecilia Gonzalez em publicação no X, "'Emilia Perez' é tudo o que há de ruim em um filme: estereótipos, ignorância, falta de respeito, ganhar dinheiro com uma das crises humanitárias mais graves do mundo (desaparecimentos em massa no México)".

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"Emilia Pérez" es todo lo que está mal en una película: estereotipos, ignorancia, falta de respeto, el lucro de una de las crisis humanitarias más graves del mundo (desapariciones masivas en México). Ofensiva. Frívola. Ganará premios, pero también el desprecio de las victimas.

January 6, 2025

Além disso, o diretor de fotografia mexicano Rodrigo Prieto também criticou em suas redes sociais o fato de o filme não parecer ter nada de autêntico, exceto pela própria Adriana Paz, que interpreta a viúva de uma vítima do cartel do crime no longa.

Outro ponto polêmico foi levantado pelo diretor espanhol Eugenio Derbez, que criticou o espanhol da atriz Selena Gomez, uma norte-americana. No podcast Hablando de Cine, a apresentadora Gaby Meza, em conversa com o diretor, alegou que o desempenho da artista no longa-metragem é "desconfortável".

“O espanhol não é sua língua primária, nem secundária, nem a quinta. E é por isso que sinto que ela não sabe o que está dizendo, e se ela não sabe o que está dizendo, ela não pode dar nenhuma nuance à sua atuação. … Seu desempenho não é apenas pouco convincente, mas desconfortável”, afirmou Meza.

O diretor concordou: “Estou feliz que você esteja dizendo isso porque eu estava pensando: ‘Não acredito que ninguém está falando sobre isso?’”, questionou Derbez. “Selena é indefensável. Eu estava lá [assistindo ao filme] com as pessoas, e toda vez que aparecia uma cena [com ela], nos entreolhamos e dissemos: ‘Uau, o que é isso?’”.

Realidade brutal

O aspecto mencionado por Cecilia Gonzalez, a exploração de "uma das crises humanitárias mais graves do mundo", se deve ao fato de que, há décadas, o México é palco de uma série de crimes hediondos, também relacionados à guerra às drogas e ao tráfico no país, que culminam no desaparecimento diário de pessoas, supostamente sequestradas ou executadas.

Exemplo de como a crise segue grave no país é que, em agosto do ano passado, o Registro Nacional de Pessoas Desaparecidas e Não Localizadas (RNPDNO, na sigla em espanhol) registrou que 116.386 pessoas sumiram no país, mas de todos esses casos, apenas 40 pessoas foram condenadas em tribunal.

Cartazes de desaparecidos no México / Crédito: Getty Images

Isso porque, afirma a coordenadora da rede de direitos humanos no México para a filial alemã do International Human Rights, Francoise Greve, à Deutsche Welle, "autoridades estatais frequentemente estão envolvidas nos crimes", o que lhes garante certa segurança, pois controlam, até certo ponto, as investigações. "Muito poucos casos são resolvidos", pontua.

Cena de 'Emilia Pérez' / Crédito: Divulgação/Pathe

Jacques Audiard reagiu às críticas alegando que não fez muitas pesquisas sobre o México antes de criar o filme, acreditando que já sabia o suficiente sobre o país.

Por mais que a história seja baseada na realidade social e política do México, ele explica, nunca foi intenção fazer um documentário sobre o problema, ou mesmo sobre o tópico da transição de gênero.

Eu uso uma forma exagerada, a artificialidade do musical e do melodrama, para contar minha história emocionalmente", afirma Audiard à DW.

Audiard também menciona que 'Emilia Pérez' foi escrito originalmente como um libreto de ópera, e por isso manteve grande parte de sua estrutura no filme, o que combina com um drama mais exagerado na narrativa, além de permitir a entrada de números musicais. "Aqui, as canções são parte integrante do enredo, não apenas acessórios decorativos", continuou o cineasta francês.

Responsabilidade

A respeito do tema redesignação de gênero no filme, o cineasta afirma que esse não é o foco da história. "A verdadeira questão é: tenho o direito de falar sobre certos tópicos? Como um francês branco e heterossexual com pouco mais de 70 anos, tenho permissão para lidar com a transição de gênero? Com ​​o sofrimento dos sobreviventes de crimes de cartéis? Bem, acho que tenho permissão".

"Eu vivo neste mundo, leio e percebo, penso sobre as coisas. E por que não deveria formulá-las e expressá-las, seja de forma falada, cantada ou mesmo dançada?", acrescenta Audiard. "Eu queria ir para dimensões maiores, ampliar minha perspectiva, atingir um público mais amplo. Claro, isso carrega o risco de ser acusado de simplificação. E é claro que eu poderia ter escolhido um assunto mais fácil. Eu poderia passar minha vida evitando todos os tópicos sensíveis".

Jacques Audiard e Karla Sofía Gascón / Crédito: Getty Images

Embora a motivação para criar a narrativa seja válida, Francoise Greve ainda considera a atenção dada ao filme relativamente problemática, visto que é "extremamente questionável" retratar um líder de cartel se tornando, de repente, um ativista de direitos humanos.

Ela ainda acrescenta que a liberdade de expressão permite, de fato, que Audiard faça "um filme da maneira que quiser", mas isso não é suficiente para que seja ignorado o quão doloroso o tema pode ser no México, onde ele preferiu ambientar a narrativa.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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