'Garoto do Balão': Farsa ou desespero real? A história do novo documentário da Netflix
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Outubro de 2009. Um enorme balão cheio de hélio, no formato semelhante a um disco voador, é visto sobrevoando Fort Collins, Colorado. Se a cena não fosse incomum o suficiente, havia algo que deixava o cenário ainda mais único: o balão transportava um passageiro de seis anos que logo ficou conhecido como "Garoto do Balão".
Pelo menos, foi o que todos ouviram. Afinal, depois da decolagem, os pais do menino, Richard e Mayumi Heene ligaram para as autoridades em pânico, dizendo que seu filho, Falcon, havia subido no balão e agora estava voando a uma altitude de 2.130 metros. A polícia local e helicópteros da Guarda Nacional perseguiram o balão por quase duas horas na esperança de resgatar Falcon Heene.
Enquanto tudo isso acontecia, diversos veículos de comunicação faziam a cobertura do caso ao vivo, mostrando o balão em pleno voo — que fez uma viagem de aproximadamente 80 quilômetros até pousar ao norte do Aeroporto Internacional de Denver; sem nenhuma criança a bordo. No entanto, ninguém o viu cair. Então, onde estava Falcon Heene?
A pergunta ficou no ar por mais tempo que o balão. Horas depois, o "Garoto do Balão" foi encontrado. Ele estava escondido no sótão de sua casa, bem e vivo. No entanto, quando os repórteres o questionaram sobre os eventos daquele dia, as respostas do jovem Falcon sugeriram que todo o incidente havia sido uma farsa mal orquestrada.
Mais de uma década e meia depois, a história é resgatada pela Netflix no documentário "Desastre Total: Garoto do Balão", onde Falcon e seus pais falam sobre esse período traumatizante. Veja como eles respondem às alegações de que armaram uma farsa.
A versão do Garoto do Balão
Conforme recorda matéria da Time, o balão de hélio foi uma invenção do pai de Falcon, que gostava de conduzir experimentos científicos e filmá-los — muitas vezes levando os filhos para perseguir tornados.
Porém, Richard aponta que nunca teve a intenção de que o balão ficasse solto, apenas pairando a cerca de 6 metros acima do seu quintal. Construído como um disco voador, era uma atração tentadora para uma criança.
Tem um pequeno compartimento lá que é perfeito para o meu tamanho, sabe?", diz Falcon, agora com 22 anos, no documentário. "Eu queria morar lá."

No fatídico dia, Falcon aponta que tentou entrar no balão algumas vezes, mas que foi reprimido por seu pai, que gritou com ele. Sentindo-se "assustado", ele decidiu voltar para dentro de casa, para seu esconderijo favorito, o sótão da garagem, onde "ficou entediado e adormeceu". Ele se lembra de acordar com muita confusão na casa.
Quando questionado sobre o motivo de não ter saído da casa durante a busca, durante uma entrevista com Larry King, naquela época, Falcon respondeu: "Vocês disseram que a gente fez isso para o show".
Refletindo sobre todo o incidente e a entrevista viral com Larry King, Falcon diz que sente que suas palavras foram exageradas. "Lembro-me de me sentir mal por ter feito algo errado. Mas, olhando para trás agora, eu tinha seis anos e todos aqueles adultos pegaram tudo o que eu dizia e conseguiram juntar o que pensavam ser outra coisa e torná-lo tão, tão grandioso. É desconcertante."
Uma farsa?
O episódio, porém, não foi a primeira vez que os Heenes foram mostrados na televisão. Apenas um ano antes do incidente com o "Garoto do Balão", a família havia aparecido em um episódio do programa Troca de Esposas.
O show mostrou que os Heenes não eram nada tímidos em frente as câmeras. Assim, surgiu a especulação que a família tentou criar uma sensação nacional para tentar voltar aos holofotes — e talvez até mesmo ganhar um programa de televisão próprio.
Dois dias depois, a polícia do Condado de Larimer pediu que Richard e Mayumi comparecessem ao seu escritório. Até então, seus relatórios sugeriam que "toda interação [entre Richard e Mayumi] demonstrava emoções consistentes com um processo de luto ou preocupação por um filho perdido". Para chegar ao fundo da questão, Richard e Mayumi foram submetidos a testes de polígrafo separados.
Ficou muito evidente para nós que eles estavam mentindo", disse o xerife ao The Denver Post em uma entrevista subsequente em 2009. "Não temos a menor dúvida de que isso foi uma farsa. Foi um golpe publicitário feito na esperança de se posicionarem melhor para um reality show."
No documentário da Netflix, a família se defende. "Isso não faz sentido. Por que eu sequer consideraria fazer algo que vai me virar contra mim, potencialmente me mandando para a cadeia? Tipo, como eu vou conseguir que um programa de TV faça isso?", fala Richard.

Quanto àqueles que citam sua participação no Troca de Esposas como prova de que ele era capaz de aplicar a farsa do "Garoto do Balão" para chamar a atenção: "As pessoas nos acusavam de sermos ávidos por fama porque estávamos no Troca de Esposas, o que é completamente falso. Eu nunca teria participado do programa nem em um milhão de anos. Parecia nojento para mim. Mas eles se ofereceram para nos pagar, e precisávamos de dinheiro."
O fato é que os Heenes foram investigados por conspiração, contribuição para a delinquência de um menor e tentativa de influenciar um funcionário público. No fim, em 23 de dezembro de 2009, Richard Heene foi condenado a 90 dias de prisão e 100 horas de serviço comunitário, além de ter escrito uma carta formal de desculpas às agências que partiram em busca de Falcon.
Mayumi Heene também foi condenada a 20 dias de prisão, a serem cumpridos em serviço comunitário supervisionado dois dias por semana. Além disso, Richard foi condenado a pagar US$ 36.000 em restituição.
