Inferno em La Palma: Afinal, um vulcão pode causar um tsunami?
Aventuras Na História
Na semana passada, a minissérie "Inferno em La Palma" estreou no catálogo da Netflix e se tornou um dos grandes sucessos dentro da plataforma de streaming. Atualmente, a produção é a mais assistida dentro da categoria 'séries', superando Senna.
O drama, dividido em quatro episódios, relata a história de uma família norueguesa que viaja até a ilha de La Palma, no Oceano Atlántico, durante suas férias. Entretanto, durante o descanso, o cenário paradisíaco se torna uma cena de terror depois que uma pesquisadora alerta sobre a possibilidade iminente de erupção vulcânica seguida de tsunami.
+ Inferno em La Palma: Existe uma história real por trás da série da Netflix?
O enredo da série causou uma dúvida entre os espectadores: afinal, uma erupção vulcânica pode mesmo provocar tsunami? Entenda!
Do vulcão ao tsunami
Embora não seja baseado em uma história real, "Inferno em La Palma" possui um contexto plausível, visto que não só a Ilha de La Palma existe, como também abriga o Cumbre Vieja — vulcão mais antigo das Ilhas Canárias que entrou em erupção em 2021.
Em 2021, a atividade vulcânica devastou a ilha por quase 100 dias — entre 19 de setembro e chegou ao fim em 13 de dezembro. Foi a primeira vez em 50 anos que o vulcão das Ilhas Canárias despertou. Ao todo, a lava devastou uma área de 1.219 hectares, desabrigando cerca de 7 mil pessoas (mas, vale ressaltar, não houve vítimas).
Durante a erupção, em 2021, voltou a tona o debate sobre a possibilidade de atividades vulcânicas ocasionaram a formação de tsunamis ao redor do mundo. Em 1999, por exemplo, um estudo alertava que uma erupção explosiva no local poderia gerar deslizamentos e causar um tsunami que teria força para chegar até à nossa costa.
Ao UOL, o doutor em Ciências Marinhas pela Universidade de Sydney e professor e pesquisador na Universidade Federal da Bahia (UFBA), Guilherme Lessa, explicou que os tsunamis são provocados por uma onda de choque, que se propaga na superfície do oceano.
No entanto, o tsunami não é necessariamente um fenômeno que pode causar destruição, dependendo de sua dimensão: que pode ir de centímetros até metros. "Isso depende da intensidade do abalo sísmico, ou do volume de terra que desaba", explicou Lessa ao veículo em 2021, quando a última erupção em La Palma foi registrada, despertando preocupações.
Já no caso de um tsunami formado após uma atividade vulcânica, o fenômeno só seria possível se ocorresse uma forte erupção explosiva — o nível mais alto da atividade — que provocasse abalos sísmicos e um grande desabamento de terra na água.
A lava força a passagem por entre fissuras nas rochas, e isso gera tremores ao longo do processo, mas são muito fracos comparados aos das placas tectônicas. Não são os tremores que geram tsunamis", explicou o especialista.
Para que tal cenário ocorresse em La Palma, o pesquisador explica que os tremores teriam que causar a queda de uma parte da ilha que já está fraturada. No entanto, o volume de terra que poderia cair das Ilhas Canárias é ridiculamente menor do que a previsão feita no estudo de 1999.
"Os maiores deslizamentos que ocorrem geralmente são de 50 ou 80 metros cúbicos", contextualizou o pesquisador do Instituto de Ciências do Mar, da UFC (Universidade Federal do Ceará), Carlos Teixeira ao UOL.
Para se ter uma ideia, a pesquisa citada foi pensada em um deslocamento de terra que movesse cerca de 500 metros cúbicos. "A possibilidade de um tsunami é muito baixa, teria que ter um deslocamento muito grande de terra e em uma velocidade muito alta. Toda essa terra teria que cair de uma vez", continuou Teixeira.
Por fim, George Sand França, doutor em sismologia e professor do Observatório Sismológico da UnB (Universidade de Brasília), disse ao veículo que vulcões que provocam tsunamis são raros. E quando acontecem, a área afetada é muito próxima de onde aconteceu a atividade vulcânica, portanto, não seria capaz de alcançar a costa brasileira.
"Pode ser que possa gerar ondas, mas muito próximas. Não é comparável com os tsunamis como os que aconteceram na Indonésia, em 2004, e no Japão, em 2011", encerra.