O Abismo: Veja curiosidades sobre a cidade que será movida e inspirou filme da Netflix
Aventuras Na História
Presente entre os filmes mais assistidos pelos brasileiros na Netflix, 'O Abismo' é uma produção dirigida pelo cineasta sueco Richard Holm que retrata uma história cuja premissa impressiona por si só.
Isso porque, na trama, os residentes de uma cidade mineradora vivem uma grande catástrofe, depois que ela começa a desmoronar.
"Com o afundamento da cidade sueca de Kiruna, Frigga se vê dividida entre a família e o trabalho como chefe de segurança da maior mina do mundo", descreve a sinopse do filme, disponibilizada pela própria Netflix.
Embora a premissa do filme seja exagerada, digna de qualquer filme do subgênero de catástrofe, surpreendentemente 'O Abismo' é inspirado em um evento real.
A cidade em questão, Kiruna, realmente existe, e também cresceu baseada na mineração e, mais importante, também está afundando. Felizmente, a tragédia retratada no filme é a parte ficcional da obra.
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1. Projeto ambicioso
Localizada no extremo norte da Suécia, a cidade de Kiruna nasceu em 1900 a partir da extração de minério de ferro, sendo essa a atividade que forneceu grande parte da renda. No entanto, a exploração mineral também se tornou um risco, com o tempo.
Isso porque também é ali que está a maior mina de minério de ferro do mundo, gerida pela empresa estatal sueca LKAB, e responsável por 80% do abastecimento de ferro de toda a União Europeia, segundo o The Guardian.
Foi essa exploração exacerbada que provocou rachaduras no subsolo da cidade, o que poderia se tornar um risco para sua população e suas estruturas.
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Por essa razão, em 2004, a cidade iniciou uma competição entre empresas de arquitetura. A ideia é que apresentassem a melhor solução para, por mais absurdo que soe a ideia, mover a cidade. A vencedora do projeto foi anunciada 8 anos depois, em 2012: a White Architects.
Agora, Kiruna vive um ambicioso projeto que pode durar até 2040. O objetivo é realocar a parte do centro da cidade — previsto para afundar até 2050 — a uma região a 3,2 quilômetros ao leste do município, distante da mina de ferro. Posteriormente, também serão erguidos setores inéditos para Kiruna, ao norte, sul e leste.
2. A Igreja de Kiruna
Um fato de destaque sobre o projeto se refere à Igreja de Kiruna. Apresentada ao público em 1912, o prédio já foi eleito o mais bonito da Suécia.
Assim como casas que serão transportadas, a igreja deve mudar de endereço peça por peça, completamente, até 2026. Construída de madeira e com cerca de 600 toneladas, ela é descrita por Lena Tjärnberg, vigária da cidade, como "a sala de estar da comunidade", logo, é importante para a própria população de Kiruna que a obra seja salva.
Estamos mais do que felizes que a igreja possa se mover", disse ela ao The Guardian. "Claro, eu sei que as pessoas podem ficar tristes. A igreja de Kiruna é um marco aqui, você pode vê-la em todos os lugares. Você pode ficar triste com o horizonte."
3. Revolução verde
Responsável pelo que poderia se tornar um desastre, hoje a LKAB está na vanguarda de uma revolução industrial verde da Europa, incentivando o impulsionamento à autonomia de recursos naturais, em resposta à crise climática e à dependência entre países da Europa.
Como exemplo, a LKAB começou a produzir ferro sem a utilização de combustíveis fósseis em 2021, trocando o carvão por hidrogênio gerado a partir de eletricidade verde.
"A Europa precisa de aprender a lição de não ser tão dependente de um único país para o gás como éramos [da] Rússia", disse em coletiva de imprensa a vice-primeira-ministra, Ebba Busch, responsável pelo clima e pelos negócios.
4. Povo Sami
A realocação de Kiruna, porém, é um problema para os indígenas Sami. Séculos antes de a exploração de ferro, os Sami pastoreavam renas pelas terras árticas da Suécia, porém, com a crise climática e agora a possibilidade de a cidade ser movida, eles têm outra preocupação.
"Temos uma estrada-de-ferro e também temos a mineração e agora a movimentação do centro da cidade... É cada vez mais difícil continuar com o movimento das renas", afirma Stefan Mikaelsson, vice-presidente da direção do parlamento Sami, ao Observer.
Vale mencionar que, no país, quase 10 mil Sami constam no registro eleitoral do parlamento, mas a verdadeira população é desconhecida, visto que o censo não reúne dados étnicos.
Queremos manter a nossa antiga cultura e os nossos antigos valores para ter uma vida boa, não para ter uma vida fácil com gastos elevados e hábitos de consumo pouco saudáveis."
Infelizmente, as autoridades locais não podem prometer que o pastoreamento de renas não será impactado com as mudanças, mas, ainda assim, Nina Eliasson, chefe de planejamento do município de Kiruna, afirma que "poucas discordam" sobre a realocação da cidade.
De qualquer forma, a verdadeira Kiruna não foi assolada por uma tragédia tão chocante quanto ao que é exibido em 'O Abismo', e agora, peça por peça, caminha para um futuro mais distante das minas.