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O carteiro que se tornou 'anjo da guarda' de Van Gogh
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O carteiro que se tornou 'anjo da guarda' de Van Gogh

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Aventuras Na História
13/04/2025 15h00
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©Museu de Belas Artes de Boston
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Vincent van Gogh passou pelo momento mais difícil e turbulento de sua vida em 23 de dezembro de 1888; quando mutilou sua própria orelha. Nos 19 meses seguintes de sua vida, enfrentou colapsos realmente devastadores.

Mesmo assim, nos 70 últimos dias de sua vida, foi capaz de produzir a impressionante marca de 70 pinturas. Embora não tenha tido o reconhecimento em vida, deixou um legado inestimável para a história da arte. 

Mas um personagem pouco conhecido de sua trajetória tem uma parcela significativa como apoio emocional do pintor: trata-se do carteiro Joseph Roulin, que pode ser considerado um anjo da guarda na vida de Vincent

Embora a relação conflituosa entre Van Gogh e Paul Gauguin ajuda a explicar o fatídico episódio; ela também é responsável por ofuscar a importância de Roulin. Mas a importância do carteiro ainda pode ser vista nas obras do holandês; entenda!

O anjo da guarda

Essa história se inicia em fevereiro de 1888, quando Van Gogh deixa Paris e se muda para Arles, na esperança de aprimorar sua arte com novos ares no sul da França. Vincent chegou lá com o coração aberto para estabelecer novas conexões. 

Antes mesmo de se mudar para a famosa 'Casa Amarela', o pintor se estabeleceu em um quarto acima do Café de la Gare — local que era frequentado por Joseph Roulin; que não só morava na mesma rua do comércio como também trabalhava próximo ao local. 

Naquele tempo, Van Gogh sentia cada vez mais que sua arte se baseava em pintar retratos, mas, em contrapartida, tinha dificuldades em encontrar alguém para servir como 'modelo'. Logo, se encantou quando viu o carteiro com intensa personalidade e que gastava parte considerada de seus ganhos com café. Roulin concordou em posar em troca de comida e bebida. 

Entre agosto de 1888 e abril do ano seguinte, Vincent fez uma série de seis retratos de Roulin, que expressavam não apenas sua arte, mas todo seu sentimento de companheirismo e esperança — uma visão um tanto contrastante quanto sua solidão e desespero. 

Nas obras, aponta a BBC News, Van Gogh pintou Joseph usando sua típica roupa azul de carteiro; destacando a palavra "postes" ostentada orgulhosamente em seu quepe. Já seu nariz era meio atarracado e suas bochechas avermelhadas, devido aos anos de alcoolismo.

Um homem mais interessante do que muitas pessoas", escreveu o holandês em uma de suas cartas. 
Retrato de Roulin - Museu de Belas Artes de Boston

Apesar de ser apenas 12 anos mais velho que Vincent, Van Gogh o enxergava como uma figura paterna, muito por conta de sua barba farta e sua aparência que soava à sabedoria. Não à toa, Joseph ganhou o apelido de Sócrates. 

Roulin também tinha uma criação diferente da vivida pelo pintor; afinal, enquanto Van Gogh vinha de uma família rica, o carteiro tinha uma "forte natureza camponesa" e paciência em tempos difíceis. Era "como algo saído de Delacroix, de Daumier", disse após vê-lo cantar A Marselhesa. "Um eco distante do clarim da França revolucionária".

A amizade entre os dois também abriu o leque de Van Gogh para modelos, visto que a esposa do carteiro e seus três filhos começaram a posar para Vincent. Cada uma das crianças também representava uma fase diferente da vida: Armand, de 17, um aprendiz de ferreiro que apresentava os primeiros sinais de pelos faciais; Camille, de 11, um estudante que ficava "se remexendo na cadeira"; e Marcelle, a bebê de bochechas gordinhas que "enfeita a casa inteira". 

Marcelle e Armand, por Van Gogh - Museu de Belas Artes de Boston

Assim, os Rollins estão presentes em 26 retratos feitos por Vincent. As representações também permitiu que Van Gogh vivesse seu sonho de ser pai e marido, conforme ele descreveu em carta ao seu irmão, Theo, ao falar como o carteiro tratava seu bebê. 

Foi comovente vê-lo com seus filhos no último dia, principalmente com a pequenina, quando ele a fazia rir, pular de joelhos e cantar para ela." 

Enfrentando seus fantasmas mentais, os Roulins ofereciam ao pintor um porto seguro e um colo compreensível, enquanto o resto da cidade o crucificava como "o louco ruivo" e até mesmo pediam sua prisão.

Por outro lado, Van Gogh também era um personagem diferente na vida do carteiro: culto, com um sotaque incomum e que era totalmente diferente de qualquer tipo de pessoa que ele conhecia. 

Joseph gostava de aconselhá-lo e até mesmo o ajudou com sugestões de como mobiliar sua 'Casa Amarela'. Ele o via como uma ótima companhia quando sua família voltou para sua cidade natal, Marselha, e, além do mais, ficava lisonjeado da rara oportunidade de ter retratos pintados gratuitamente.

Certa vez, quando viajou a trabalho para Marselha, se sentiu confortável ao ver que Marcelle podia apreciá-lo pelo retrato seu que ficava em cima de seu berço. A afeição por Van Gogh pode ser notada nas cartas que eles trocavam 

"Continue cuidando bem de si mesmo, siga os conselhos do seu bom Doutor e verá sua recuperação completa, para satisfação de seus parentes e amigos", escreveu ao pintor. "Marcelle lhe manda um grande beijo."

As obras

A coleção das obras pintadas por Van Gogh representam essa relação, como as cores alegres — azul, vermelho, verde ou amarelo — que estampam os fundos das obras de cada um dos membros da família; ou as decorações florais nos quadros de Joseph e sua esposa, conferindo ares de afeição e felicidade. 

A esposa de Roulin - Museu de Belas Artes de Boston

A relação concedeu a Van Gogh uma liberdade para experimentar e representar sua própria arte e a forma emocional como enxergava a amizade. "Não reproduzo o que tenho diante dos meus olhos", mas "me expresso com força", escreveu a Theo.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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