O Leopardo: conheça o escritor por trás da nova série da Netflix

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Na última semana, chegou à Netflix a minissérie 'O Leopardo', que chama atenção dos brasileiros. Um conto de realeza, tragédia e revolução, a obra possui uma narrativa ambientada na turbulenta Itália durante seu processo de unificação.
"Em meio à unificação da Itália nos anos 1860, um príncipe siciliano enfrenta o conflito entre os antigos privilégios de sua família e as mudanças causadas pela revolução", narra a sinopse da Netflix.
Apesar da ambientação histórica, 'O Leopardo', na verdade, é um clássico da literatura italiana, escrito pelo último príncipe de Lampedusa, Giuseppe Tomasi.
Publicada originalmente em 1985, a obra carrega uma visão rara e detalhada sobre como foi a queda da aristocracia siciliana com a ascensão do Risorgimento, como ficou conhecido o movimento de unificação, a partir do olhar de uma figura da própria aristocracia.
Segundo a revista Tatler, o protagonista de 'O Leopardo' é baseado no bisavô de Tomasi, mas desde a época de sua publicação, a obra foi razão para debate político. Isso porque a esquerda alegava que o romance era muito conservador; enquanto a direita o rotulava como muito liberal.
De fato, é impossível desvincular a narrativa criada por Giuseppe Tomasi de seu caráter político. Porém, conforme opina Tom Shankland, diretor de vários episódios, em entrevista ao Tudum, a história é, na verdade, incrivelmente pessoal e bem focada na família, mesmo em meio a um tumulto nacional.

Sempre tive a sensação de que não estava sendo vendida uma mensagem no livro, mas que definitivamente estava sendo presenteado com uma experiência realmente profunda e tocante da vida familiar e da maneira como ela tem que navegar por enormes e turbulentas mudanças históricas", contou Shankland.
Mas afinal, o que está realmente por trás de 'O Leopardo'? Confira a seguir detalhes sobre quem foi e qual a história de seu autor, Giuseppe Tomasi:
Origem aristocrática
Giuseppe Tomasi di Lampedusa nasceu em 23 de dezembro de 1896 em Palermo, na Itália, onde viveu boa parte de sua vida no grande Palazzo Lampedusa. Filho único, ele era descendente da aristocracia italiana, e era apegado a mãe, Beatrice di Cutò, que cuidou pessoalmente de sua educação.
Foi Beatrice quem o criou com grande influência de filosofias iluministas, encorajando-o a estudar as Guerras Napoleônicas e a ler autores como Émile Zola e Giovanni Verga. Vale mencionar também que a casa de sua família, em Santa Margherita, possuía uma enorme biblioteca, onde Giuseppe passou muito tempo.
Guerra e viagens
No fim de sua adolescência, em 1915, Giuseppe foi convocado para participar da Primeira Guerra Mundial, e acabou feito prisioneiro. Após meses se recuperando na Sicília, esperando para retomar sua vida normal, ele começou a viajar pela Europa, passando por Gênova, Munique e Londres, na Inglaterra.
Ao longo de sua vida, ele nutriu um grande amor pela literatura inglesa — tanto que, quando tinha pouco mais de 20 anos, e finalmente visitou Londres, já tinha lido todas as obras de Shakespeare.

Casamento
Giuseppe foi casado com Alexandra von Wolff-Stomerse, uma psicanalista alemã chamada pelos familiares de "Licy", e essa também não é uma história de amor muito convencional. Quando eles se conheceram, em 1925, Licy ainda era casada com o barão Adolf Pilar von Pilchau, que era gay.
Eventualmente, Licy se separou do barão, e casou-se com Giuseppe em 1932.
Embora passassem apenas os verões e invernos junto, o casal seguia com vidas amplamente separadas. Licy atuava como psicanalista, enquanto Giuseppe dirigia o palácio.

Segunda guerra
Essa dinâmica do casal permaneceu até 1940, quando Giuseppe foi, mais uma vez, convocado para prestar serviço militar, dessa vez na Segunda Guerra Mundial.
Apesar de esse ter sido um dos maiores conflitos armados que a humanidade já viu, a família de Giuseppe sobreviveu à guerra, mas sua casa, o Palazzo Lampedusa, foi fortemente danificada pela artilharia norte-americana, ficando assim em ruínas.
Glória literária
Em 1946, após a morte de Beatrice, Giuseppe foi incentivado por Licy a dedicar-se à literatura, e assim se tornou uma figura recorrente em livrarias, lendo em cafés e ditando para a esposa. Ele também começou a dar aulas de inglês em seu apartamento, na Via Butera.

A ideia inicial do que eventualmente se tornaria 'O Leopardo' já havia sido fermentada há muito tempo em sua mente, antes de ele começar a escrever em 1955. O romance foi rejeitado duas vezes por editores, antes de ser publicado e impresso definitivamente em 1958 — um ano após a morte de Giuseppe, em 23 de julho de 1957.
Giuseppe não pôde viver para apreciar toda a controvérsia que seu romance desencadearia. Seu filho adotivo, Gioacchino Lanza, restaurou eventualmente o Palazzo Lampedusa, que agora possui apartamentos que podem ser alugados, e a influência e o legado de Giuseppe Tomasi na literatura italiana seguem vivos.


