O marcante casamento de Henrique VIII que inspirou filme

No momento, ocorre na França um dos principais festivais de cinema do mundo, o Cannes. E em meio aos 11 dias de evento — que começou no último dia 16 de maio, e se encerrará no próximo sábado, 27 —, diversas produções são exibidas, muitas delas tentando concorrer à tão requisita Palma de Ouro, prêmio de prestígio do festival.

Entre os novos filmes exibidos no evento, um que se destacou bastante foi 'Firebrand', um drama de época que acompanha parte da história do casamento do polêmico monarca britânico Henrique VIII — aquele que fundou a Igreja Anglicana e começou a aceitar o divórcio — com Catarina Parr, sua sexta e última esposa.

Baseado no romance histórico de Elizabeth Fremantle, a obra 'Queen's Gambit', o filme imagina os últimos anos da Inglaterra na era Tudor, sob o reinado de um Henrique que, nesta versão, possui sua morte apressada pela própria rainha, segundo a Vogue. Confira a seguir alguns detalhes sobre o casamento entre Henrique VIII e Catarina Parr:

Como se conheceram

'Firebrand' já começa com Catarina na posição de rainha, sem tratar da relação entre Henrique e as esposas anteriores. Na ocasião, seu marido, um jovem rei de 32 anos, está fora do palácio real em campanha militar na França, no ano de 1544.

Ela, que já havia se casado e tornado viúva duas vezes — por Sir Edward Burgh e John Neville —, estava apaixonada por outro homem, o influente barão e político Thomas Seymour, quando despertou o interesse de Henrique VIII. 

Interessada em permanecer na corte real mesmo após a morte de John Neville, uma pessoa também bastante influente, Catarina usou a amizade de sua falecida mãe com Catarina de Aragão para estabelecer, por si só, uma proximidade com a filha Lady Mary. Foi assim que, em 1542, conseguiu um cargo na casa da princesa e conheceu Henrique.

De acordo com a Vogue, depois que o rei escolheu-a como sua sexta esposa, ela se sentiu obrigada a aceitar a proposta, deixando assim ThomasSeymour de lado. Porém, alguns historiadores também apontam que ela aceitou a proposta por acreditar que o rei não teria muito mais tempo de vida, sofrendo com obesidade e um grave ferimento na perna. Então, os dois se casaram no Palácio de Hampton Court em 12 de julho de 1543.

Importância

Como se sabe, Henrique VIII faleceu no dia 28 de janeiro de 1547, de forma que o casamento entre ele e Catarina Parr durou somente cerca de três anos e meio. Porém, é dito que nesse período a mulher teve um impacto bastante positivo em sua vida familiar, tendo sido responsável pela reconciliação do rei com as princesas Mary e Elizabeth, além de ter desenvolvido um forte vínculo afetivo com o filho, Eduardo.

Além disso, ela foi nomeada como regente na ausência de Henrique VIII, de forma que obteve controle efetivo do reinado. Ela ainda foi a responsável por cuidar das finanças e provisões para a campanha do rei contra os franceses, tendo assinado cinco proclamações reais.

Ela também conquistou uma considerável reputação como estudiosa: em 1544, publicou anonimamente 'Salmos ou Orações', uma tradução de uma importante obra em latim, e em 1545 seguiu-a com 'Orações ou Meditações', um compilado de textos vernáculos para devoção pessoal. Este último, porém, foi o primeiro livro de língua inglesa a ser publicado por uma mulher em seu próprio nome no país.

Relacionamento com o rei

Apesar de tantos feitos, o filme 'Firebrand' apresenta o relacionamento entre Henrique VIII e Catarina Parr como extremamente combativo. Porém, embora alguns historiadores realmente acreditem nisso, é altamente improvável que seja fato.

Um dos fatores que levam às crenças de que o relacionamento era conturbado, é citado que a rainha era uma vigorosa defensora da Reforma Inglesa, além de ser conhecida por levar seus pontos de vista evangélicos muito longe em discussões religiosas com o marido.

Oponentes ideológicos começaram a suspeitar que ela fosse, na verdade, uma protestante — argumento apoiado pelas ideias expressas em seu terceiro livro, 'A Lamentação de uma Pecadora' —, de forma que uma conspiração foi tramada para colocar o rei contra ela. Embora um mandado de prisão tenha até mesmo sido elaborado, Catarina recebeu um aviso e se entregou a Henrique, implorando-lhe perdão, e assim conseguiu uma reconciliação.

Apesar desses momentos de bastante tensão, é dito que Catarina Parr e Henrique VIII se deram bem no tempo que antecedeu a morte do monarca. Essa ideia é apoiada pelos fatos de que o rei providenciou-lhe um generoso subsídio anual, e ordenou que ela ainda recebesse todo o respeito que uma rainha merecesse, mesmo após seu falecimento.

Depois da morte

Embora as circunstâncias da morte de Henrique VIII sejam consideravelmente misteriosas, muito disso se deve mais ao fato de ser um acontecimento do passado que de um possível envolvimento de Catarina Parr. Em seus últimos meses de vida, o rei ficou aleijado devido sua obesidade e o ferimento em sua perna, além de possivelmente sofrer de gota e escorbuto. A causa da morte final varia, entre os historiadores, desde uma febre forte a uma parada cardíaca, mas nenhuma se associa à rainha.

Já Catarina Parr, depois da morte de Henrique VIII e da coroação de Eduardo VI como seu sucessor, finalmente aposentou-se da corte e se casou com Thomas Seymour. Porém, pouco depois disso, ela também faleceu, logo após dar à luz sua filha.