O que aconteceu com a mulher que inspirou ‘Hilda Furacão’?
Aventuras Na História
No ano de 1998, uma minissérie brasileira estreava em 27 de maio nas telas de todos os brasileiros pela TV Globo. Ao ar até 23 de julho, com um total de 32 capítulos, ‘Hilda Furacão’ foi um grande sucesso de audiência, principalmente com seus personagens marcantes e elenco de peso.
Produzida por Glória Perez e sob a direção de Wolf Maya, a minissérie é uma adaptação do romance de Roberto Drummond (com o mesmo nome da produção), que por sua vez se inspirou na juventude da prostituta Hilda Maia Valentim, famosa na zona boêmia de Belo Horizonte como Hilda Furacão.
O elenco contou com a presença de um grande elenco, com atores renomados. Dentre eles, estavam Ana Paula Arósio — que viveu a protagonista —, Rodrigo Santoro, Danton Mello, Eva Todor, Paulo Autran, Thiago Lacerda, Tarcísio Meira e Rogério Cardoso.
Entretanto, poucas pessoas sabem que ‘Hilda Furacão’ foi inspirada em uma história real, de uma mulher real.
"Hilda existiu. Agora de tal forma ela foi mitificada, e mistificada que ela se transformou em um boato. Um boato festivo, colorido, maravilhoso, então o livro é contado através desse boato", explicou o criador de 'Hilda Furacão' em 1991, segundo o programa Fantástico, da Rede Globo.
Trama e realidade
Uma parte da narrativa se desenrola em um clube frequentado pela elite de Belo Horizonte, onde a personagem seduz os jovens talentosos da sociedade. Posteriormente, ela se torna uma profissional do sexo, causando escândalo na cidade.
Na obra que serviu de inspiração para a série, Hilda é apresentada como uma jovem da alta sociedade de Belo Horizonte que se torna prostituta. No entanto, na realidade, HildaMaia Valentim não fazia parte da elite mineira.
Contrariando a ficção, Hilda Furacão tinha origens humildes, tendo migrado com a família do Recife quando ainda era criança. Ela casou-se com um jogador de futebol,Paulo Valentim, que foi contratado pelo Boca Juniors nos anos 1960. Paulo tornou-se uma figura idolatrada na região, levando a família a se estabelecer em Buenos Aires.
A alegria do casal viu-se ampliada com o nascimento de Ulisses, e Hilda ansiava por deixar seu passado para trás, concentrando-se na felicidade de sua família. No entanto, em 1972, Valentim, após anos de comportamento viciado em jogos e alcoolismo, conduziu a família à decadência.
O casal decidiu se mudar para o México, mas já não desfrutava do estilo de vida luxuoso anterior. Hilda viu-se obrigada a assumir trabalhos como faxineira e costureira para sustentar o lar.
Após o falecimento de Paulo em 1984, Hilda, desolada, retornou a Buenos Aires com o filho. No entanto, o destino reservava mais uma tragédia para sua vida: a mãe teve que lidar com a dolorosa perda do próprio filho.
Com problemas de saúde, Hilda ficou um tempo internada no hospital e, após sua melhora, foi enviada para um asilo de idosos, onde foi visitada pelo programa Fantástico, da TV Globo. O marido faleceu em 1984 e ela não tinha familiares por perto.
Destino de Hilda
Hilda faleceu em uma segunda-feira, 29 de dezembro de 2014, um dia antes de seu aniversário. Ela estava prestes a completar 84 anos de vida.
Ela morreu devido a complicações no sistema respiratório enquanto estava sob cuidados em um asilo que era mantido pela prefeitura. A assistente social encarregada, Marisa Barcellos, informou que Hilda estava hospitalizada e não se alimentava há mais de uma semana, sendo mantida hidratada por meio de sondas.
Barcellos enfatizou que Hilda "faleceu de causas naturais, não na rua e nem sem assistência", de acordo com a Folha de S. Paulo. A assistente social capixaba Marisa Barcellos, residente na Argentina há mais de duas décadas e então responsável pelo asilo Guillermo Rawson, foi quem encontrou Hilda.
Ligação com a obra
Marisa Barcellos decidiu investigar seu histórico, suspeitando que ela pudesse ser a mesma mulher que inspirou o escritor Roberto Drummond. Ao entrar em contato com o jornalista Ivan Drummond,parente de Roberto, a identidade foi confirmada, resultando em uma reportagem publicada no jornal O Estado de Minas.
Valentim, como Hilda preferia ser chamada, não apreciava o apelido "Furacão", embora tenha confirmado ser este o seu apelido devido à sua natureza "estressada". Não houve cerimônia fúnebre para Hilda, uma vez que ela não recebia visitas de familiares. Seu corpo foi conduzido ao cemitério de Chacarita, em Buenos Aires.
Em um estado emocional fragilizado, Hilda, por vezes, não conseguia recordar seu passado boêmio, concentrando-se apenas em seu amor por Paulo Valentim, do qual afirmava sentir saudades todos os dias.