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'Rainha Cleópatra': como série documental discute a cor da faraó?
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'Rainha Cleópatra': como série documental discute a cor da faraó?

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Aventuras Na História
11/05/2023 18h31
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©Reprodução/Netflix
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Chegou ao catálogo da Netflix a série 'Rainha Cleópatra'. Com produção de Jada Pinkett Smith, a obra acompanha parte da trajetória da rainha mais famosa do Egito, e uma das mulheres mais importantes que já existiu.

"[...] A mulher mais famosa, poderosa e incompreendida do mundo — uma rainha ousada cuja beleza e romances ofuscaram seu verdadeiro trunfo: seu intelecto. A herança de Cleópatra tem sido objeto de muitos debates acadêmicos, muitas vezes ignorados por Hollywood. Agora nossa série reavalia esta parte fascinante de sua história", descreve a sinopse.

Porém, da mesma forma como ocorre em diversas produções de cunho histórico, 'Rainha Cleópatra' não escapou de ser alvo de polêmicas. E um dos aspectos mais comentados nos últimos dias sobre a série é o fato de a protagonista ser representada, aqui, como uma mulher negra (interpretada pela talentosa Adele James).

Uma prévia divulgada nas redes sociais da Netflix, antes do lançamento, apresentou especialistas discutindo sobre o tópico, suficiente para levar o nome da faraó para os assuntos mais comentados.

Logo no primeiro episódio, a série aborda a possível verdadeira cor de pele da rainha do Nilo, além da razão para acreditar que ela poderia ser, na verdade, realmente uma mulher negra. Assim, resta a seguinte dúvida: Como a série documental discute a origem da rainha?

A identidade

No primeiro episódio de 'Rainha Cleópatra', que aborda sua ascensão ao trono, uma guerra civil na capital, Alexandria, e uma aliança política com um dos mais importantes líderes romanos que já existiu, Júlio César, um aspecto muito importante mencionado sobre Cleópatra é que ela se importava com a identidade egípcia.

Vale mencionar que o Egito, embora conhecido como uma das civilizações mais antigas da história da humanidade, passou por diversas transformações políticas e culturais ao longo do tempo.

Isso porque os gregos, por exemplo, conquistaram aquele território em 332 a.C., com Alexandre, o Grande, iniciando o que entrou nos livros como Egito Ptolomaico, e em 168 a.C. os romanos dominaram os gregos. Logo, naquele território existiam egípcios, gregos, e até judeus — mas, como enfatiza a série documental, Cleópatra fazia questão de ser uma rainha 'verdadeiramente egípcia'.

Busto de Cleópatra
Busto de Cleópatra / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

Cleópatra se sentia muito próxima do povo egípcio. Ela aprendeu a língua egípcia. Ela praticava a religião egípcia. Ela queria ser lembrada como egípcia. Não sabemos a herança racial exata dela. Não sabemos quem foi a mãe de Cleópatra. Houve muita pesquisa para provar que a mãe dela era egípcia, mas não sabemos ao certo", conta a professora de História Clássica do Hamilton College, Shelley P. Haley, na série.

A autora do livro 'Cleopatra and Egypt' ('Cleópatra e Egito', em português), Sally-Ann Ashton, também comenta sobre a origem da famosa rainha na série: "Também não se sabe quem foi a avó de Cleópatra. O pai de Cleópatra foi cognominado como ilegítimo, então reconhece-se que a mãe dele provavelmente era alguém da corte real. É possível que fosse egípcia. Egípcios antigos tinham pele de diferentes cores, como vemos em outras culturas africanas atuais."

Na produção, Shelley Haley, professora de Estudos Africanos no Hamilton College, disse: "Minha avó foi a inspiração para mim. Eu chegava em casa e contava a ela o que estava aprendendo: 'Ah, estamos aprendendo sobre os gregos, estamos aprendendo sobre os romanos e hoje estamos aprendendo sobre Cleópatra!' E eu me lembro, claro como o dia, dela dizendo para mim, 'Shelly, eu não me importo com o que eles dizem na escola, Cleópatra era negra'". 

Não era Elizabeth Taylor

Certamente uma das interpretações mais famosas de Cleópatra nos cinemas até hoje é a de Elizabeth Taylor, no clássico 'Cleópatra' (1963), dirigido por Joseph L. Mankiewicz. E a atriz, uma típica estrela hollywoodiana das décadas de 1950 e 1960, é branca, tendo nascido em Londres, Inglaterra.

"Dado que Cleópatra se representa como uma egípcia, parece estranho insistir em retratá-la como totalmente europeia", explica Sally, que aparece na série documental da Netflix.

Elizabeth Taylor em 'Cleópatra' (1963)
Elizabeth Taylor em 'Cleópatra' (1963) / Crédito: Reprodução/20th Century Fox

 

Fora da série

Ainda assim, até hoje existe muita discussão a respeito de antigas representações de Cleópatra. Afinal, uma Cleópatra branca é condizente com a realidade, ou apenas uma forma de mascarar uma realidade desagradável à visão dos antigos povos europeus? O ex-ministro das Antiguidades do Egito e um dos mais influentes egiptólogos contemporâneos, Zahi Hawass, é um exemplo de estudioso que acredita na ascendência branca da rainha:

Isso [a ancestralidade africana de Cleópatra] é completamente falso. Cleópatra era [de origem] grega, o que significa que ela tinha a pele clara, não negra", disse ele, que não teve envolvimento na série.

Mostafa Waziri, atual secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito, disse que, por se tratar de um documentário, os responsáveis pela série precisam 'se basear em dados históricos e fatos científicos'. Vale ressaltar que Waziri também não participou da produção. 

“A aparição da atriz é uma falsificação da história egípcia e uma flagrante falácia histórica, até porque o filme é classificado como documentário e não uma obra dramática, o que exige dos responsáveis ​​por sua produção apurar o rigor e se basear em dados históricos e fatos científicos para garantir que a história e as civilizações não sejam falsificadas”, afirmou ele, como repercutido pelo Deadline.

O secretário-geral do Conselho Supremo de Antiguidades do Egito enfatizou que as estátuas e representações em moedas de Cleópatra a representam como características helenísticas e 'pele clara, nariz desenhado e lábios finos'. 

Ainda assim, até hoje muita discussão existe em torno da verdadeira cor de pele da rainha Cleópatra. Mas nada muda que ela, uma mulher que se reconhecia abertamente como egípcia, deixou grandes marcas no mundo e não à toa ficou eternizada na história, sendo um grande símbolo mais de 2 mil anos depois de sua morte.

Quadro retratando a rainha Cleópatra, 'Cleópatra e César' gravada por Jean-Léon Gérôme em 1888
Quadro retratando a rainha Cleópatra, 'Cleópatra e César' gravada por Jean-Léon Gérôme em 1888 / Crédito: Foto por Historical Association UK pelo Wikimedia Commons

 

Diferente do que muitos imaginaram, os especialistas que aparecem na série documental não batem o martelo na hora de discutir a origem da faraó. Fica claro, que eles concordam que especulação e teoria não são o mesmo que fato.

Ainda assim, a escolha da atriz para viver a rainha na série não muda os fatos que envolvem a história contada. Ao mesmo tempo, o foco da série não é a origem da faraó, mas sim um lado dela ignorado por décadas: seu intelecto. 

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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