Voo IC 814 Sequestro a Bordo: Veja a história real por trás da série
Aventuras Na História
Na última quinta-feira, 29, chegou à Netflix mais uma minissérie inspirada em um caótico evento real. Ambientada na Índia, 'Voo IC 814: Sequestro a Bordo' nos apresenta os detalhes e o desenrolar do tenso sequestro do Voo Indian Airlines 814 no fim de 1999, que ficou marcado como a mais longa apreensão de aeronave da história da aviação indiana.
A nova série, uma produção indiana, é adaptada através do livro "Flight Into Fear: The Captain's Story", escrito por Devi Sharan, o piloto a bordo da aeronave durante o sequestro. A nova série, por sua vez, investiga a crise a partir de diferentes perspectivas, não apenas dos pilotos, mas também dos políticos e burocratas que tentavam lidar com o caso e dos reféns aterrorizados a bordo.
"Depois que o voo IC 814 é sequestrado no caminho para Nova Deli, na Índia, centenas de vida estão em jogo durante a crise mais longa e grave da aviação indiana", explica a sinopse da nova minissérie, já disponível na Netflix.
Confira a seguir mais detalhes sobre a verdadeira história por trás de 'Voo IC 814: Sequestro a Bordo':
O sequestro
No dia 24 de dezembro de 1999, o voo Indian Airlines 814 saiu do Aeroporto Internacional Tribhuvan, em Katmandu, capital do Nepal, com destino a Nova Delhi, capital da Índia. 40 minutos após o início do trajeto,cinco homens mascarados entraram no avião e anunciaram o sequestro.
O piloto da aeronave, Sharan, foi obrigado pelos sequestradores a lançar a aeronave pelo espaço aéreo paquistanês, onde não conseguiu autorização para pousar. Uma luz no fim do túnel veio pouco antes das 19h, quando contava apenas com 10 minutos de combustível, em Amritsar, também na Índia.
Lá, autoridades indianas fizeram de tudo para atrasar o máximo possível o reabastecimento do avião; o que certamente não agradava os sequestradores, que queriam que a aeronave voltasse logo ao ar, e com permissão para pousar no Paquistão.
"Por favor, peçam permissão para pousar no OPLA (Aeroporto Internacional Allama Iqbal em Lahore)... caso contrário, eles estão prontos para cair em qualquer lugar... eles já selecionaram 10 pessoas para matar", disse Sharan na ocasião ao Controle de Tráfego Aéreo Indiano, relembra o India Today.
Não demorou até que o caos tomasse conta da aeronave. Tanto que, em um segundo contato com o Controle de Tráfego Aéreo Indiano, Sharan relatou que os sequestradores começaram a matar reféns. Então, às 19h30, no horário local, a aeronave decolou novamente.
Destino da aeronave
No céu, os sequestradores forçaram Sharan a pilotar até Laore, no Paquistão, onde o piloto até conseguiu realizar um pouso desesperado, mesmo que não tenha conseguido permissão do controle de tráfego aéreo local, que até mesmo desligou todas as luzes de sinalização do aeroporto. Lá, reabasteceu mais uma vez e, depois, partiu em direção a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, onde também teve permissão de pouso negada.
Ainda assim, o piloto conseguiu pousar na Base Aérea de Al Minhad, também nos Emirados Árabes Unidos, onde os sequestradores permitiram a libertação de 27 dos 176 passageiros a bordo; entre eles, havia ainda o corpo de um homem de 25 anos, esfaqueado pelos sequestradores e morto.
Após esse episódio, o avião conseguiu pousar no destino que os sequestradores pretendiam desde o início: o aeroporto de Kandahar, no Afeganistão, controlado na época pelo Talibã.
Lá, os reféns, que ainda estavam no avião, foram mantidos pelos seis dias que se seguiram, enquanto o governo do então primeiro-ministro indiano, Atal Bihari Vajpayee, negociava com os terroristas. Eles, porém, queriam apenas uma coisa: que a Índia libertasse 36 prisioneiros em troca dos reféns.
Negociações
Conforme repercutido pelo The Independent, os sequestradores paquistaneses foram identificados como Ibrahim Athar, Shahid Akhtar Sayed, Sunny Ahmed Qazi, Mistri Zahoor Ibrahim e Shakir. Eles eram do grupo Harkat-ul-Mujahideen (HuM), uma organização terrorista islâmica com sede no Paquistão, e exigiam, com o sequestro, a libertação de dois membros da HuM e de um militante da Caxemira apoiado pelo Paquistão.
Foi somente após longas e intensas negociações, além de uma série de conflitos internos, que, no dia 30 de dezembro, dias após o início do sequestro, o governo da Índia conseguiu convencer os sequestradores a libertarem todos os reféns.
Vale mencionar que as três pessoas libertadas conforme pedido dos sequestradores foram implicados em ataques terroristas conhecidos, como o ataque ao parlamento da Índia e Nova Delhi em 2001, os ataques em Mumbai de 2008 e até mesmo no sequestro e assassinato do repórter Daniel Pearl, do The Wall Street Journal, em 2002.
"Fracasso diplomático"
Logo após a libertação dos reféns, autoridades indianas pensaram que os oficiais do Talibã prenderiam os sequestradores, e protegeriam os três terroristas libertados. Porém, o que aconteceu foi que o Talibã os levou através da fronteira, em direção a Quetta, no Paquistão, de onde vieram originalmente.
Desde então, o governo indiano recebeu críticas por não conseguir resolver a crise rapidamente, além de ter permitido que a aeronave deixasse seu território. Para o ex-chefe do Bureau de Inteligência da Índia, AK Doval, que liderou a equipe de negociação, o caso pode ser lembrado como um "fracasso diplomático" e uma "vergonha sangrenta" na história da Índia.
Houve uma falha diplomática em nossa incapacidade. Quando sabemos que os EUA são totalmente contra os terroristas, eles são contra o Talibã, eles tinham controle total sobre os Emirados Árabes Unidos, não conseguimos alavancar essa coisa. Nosso embaixador não conseguiu nem entrar no aeroporto (em Abu Dhabi)", afirmou à Press Trust of India.
Agora, toda a história em torno desse episódio conturbado da história da aviação da Índia pode ser assistido em 'Voo IC 814: Sequestro a Bordo', já disponível na Netflix.