Atriz de Terra e Paixão debate luta contra transfobia: 'Problema recorrente'
Caras
Cantora, atriz, artista plástica, escritora e sagitariana. Essas são algumas palavras que ajudam a descrever quem é Valéria Barcellos (43), que pode ser vista em Terra e Paixão na pele de Luana Shine. Em conversa com a CARAS Brasil, a multiartista —como se define— debateu a luta contra a transfobia, celebrou o papel na trama da Globo e ainda contou sobre novos projetos da carreira.
"Esse problema é recorrente, existente e persistente", começa a atriz de Terra e Paixão. No início de novembro, Valéria foi vítima de transfobia ao entrar em no banheiro feminino em um hotel do Rio de Janeiro, e relatou o caso em seu perfil do Instagram. A artista ressalta a importância de denunciar o crime e pontua que o agressor nunca deve ser escondido.
"Denunciar, mostra que é um problema a se pensar uma solução para isso, que não são casos isolados, e que, principalmente, há meios legais que nos protejam. Esse episódio veio de uma maneira abrupta e a vontade de responder também, para que as pessoas sempre falem sobre assuntos como esse e não se calem."
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Apesar do episódio de transfobia, a atriz conta que tem recebido muito carinho dos espectadores de Terra e Paixão, especialmente do público idoso que assiste ao folhetim. Para ela, o movimento foi uma surpresa, mas se tornou necessário para aproximar as gerações e naturalizar a presença de pessoas trans nesse espaço.
Paralelamente à novela, a artista também pode ser vista com o espetáculo de comédia Isso a TV Não Mostra, que terá passagens pelo Rio de Janeiro, São Paulo e pela região sul do país. Além disso, ela também trabalha no lançamento de seu novo álbum, Saraval (que mistura as palavras Sarau e Valéria), entre dezembro e janeiro de 2024.
O projeto musical irá apresentar uma mistura de rock, com samba, tango e pop. "Todos os projetos tem esse papel: falar, denunciar e lutar pelo direito não só de estar, mas de ser", completa. Abaixo, Valéria Barcellos fala sobre sua relação com as redes sociais, o futuro de Luana Shine em Terra e Paixão e o ofício de multiartista. Leia trechos editados da conversa.
Você se define como uma multiartista. Como equilibrar a carreira como DJ, cantora, atriz, performer, escritora e artista plástica?
Equilibrar as facetas de uma multiartista vem de vontades múltiplas. Minha cabeça inquieta não permite que eu seja uma pessoa, arte ou vontade só. Toda vez que eu não me vejo em um lugar eu sinto vontade de estar naquele lugar e me transformo em uma coisa nova.
Você já contou em entrevistas que é a "paixão das senhorinhas" em Terra e Paixão. Você esperava esse carinho do público?
Eu amo as senhorinhas, é um carinho muito genuíno. É naturalizar nossa presença nesses espaços e na vida dessas pessoas, a gente está na casa delas todos os dias, acho que elas se sentem parte das nossas vidas. Não esperava essa resposta tão imediata, embora perceba e saiba que é o público que consome novelas desde sempre e está consumindo até agora. Estou amando poder fazer parte disso, é necessário, uma aproximação de gerações.
O que podemos esperar de Luana Shine para os próximos capítulos da novela?
Tem uma cena que mexeu muito comigo, até chorei quando acabou. Nessa nova fase da Luana como professora ela fala um pouco sobre os direitos humanos. Isso me deixou tão presente nessa cena, faz parte da minha vida esse discurso. Se pode esperar ela cada vez mais natural e comum no meio das pessoas, o que queremos na vida real é isso. Não queremos ser a pessoa, queremos ser só mais uma.
Você também está no espetáculo Isso a TV não mostra. Como está o coração com a peça?
O espetáculo reúne diversos desejos meus. Entender o que as pessoas estão esperando da Luana, de mim e também do espetáculo. O teatro tem esse poder de quebrar a barreira da tela da televisão e colocar a gente muito pertinho. Eu amo fazer teatro.
Você fez publicações em seu Instagram com a frase "o show tem que continuar". Como está sendo esse momento de retomada para você?
Para nós artistas essa frase é muito mais que um jargão da banda Queen. É uma tentativa de buscar forças no nosso trabalho para a nossa vida. Não consigo imaginar um artista que consiga viver sem arte. Quando dizemos que o show tem que continuar, durante algum tempo foi cerceado esse prazer e ofício. Foi tirada a nossa essência de vida.
Qual a sua relação com as redes sociais?
As redes sociais tem sido uma ferramenta importante, mas ao mesmo tempo, tem sido um fator bem curioso com relação a lidar com haters, de entender o lugar da privacidade e da falta dela também. As pessoas ainda não entenderam muito bem o papel das redes sociais, que é socializar. No entanto, as pessoas ficam dentro de si e mostram uma realidade que não é real.
Em 2018, você superou um câncer raro. Como é olhar agora, para trás, e rever toda essa trajetória?
Meu produtor de Porto Alegre fala que é mais um título para ser colocado na minha biografia, que lutou contra um câncer, lutou contra transfobia, e se eu chegar até o fim da vida depois de passar por isso significa que eu venci. Certas situações da vida me fazem olhar de maneira diferente para elas. Ou você enfrenta ou sucumbe, e sucumbir, para mim, não é uma opção.