Elísio Lopes Jr. estreia como autor de novelas e defende representatividade: 'Posicionamento'
Caras
Coautor da novela Amor Perfeito, nova trama do horário das 18 horas da TV Globo, Elísio Lopes Jr. (44) tem se mostrado peça fundamental para o novo posicionamento da emissora quanto a questões raciais. Através de uma história que fala sobre o amor interracial, ele pretende mostrar um lado pouco abordado na televisão.
Em entrevista à CARAS Brasil, o baiano, que é primo do ator Lázaro Ramos, defendeu a busca por mais representatividade dentro e fora da televisão. Ele afirmou que a contratação de autores pretos faz total diferença na hora de contar histórias que envolvem pessoas negras.
"É muito diferente você ler um texto escrito por um autor preto e você ler um texto escrito por um autor que não tem essa vivência. Porque existe uma tendência quando os personagens pretos estão em cena, eles estarem falando do que o branco vê do preto, que é exatamente a questão do racismo. E a existência do preto vai muito além do racismo”, declarou ele, que foi roteirista dos filmes Medida Provisória e da continuação de Ó Paí Ó.
O artista também aproveitou para refletir sobre o valor cultural que as novelas têm na vida dos brasileiros. Ele afirmou que é importante entregar narrativas responsáveis, dispostas a educar e promover uma melhora social.
"Tudo que a gente faz é posicionamento político, sim. Eu tenho a convicção de que a gente não transforma nada se a gente não transformar as narrativas, a forma de contar as histórias. E se você está morando num país como o Brasil, onde o maior produto de entretenimento que entra na casa das pessoas diariamente, que forma opinião, forma estética, forma aceitação e negação, que é a novela, é muito feio se você não encara esse desafio de colocar é narrativas responsáveis diariamente da casa das pessoas", disse.
Quanto ao papel que deve assumir nos próximos anos dentro da TV Globo, Elísio foi direto e garantiu que não será responsável por promover tramas que reforcem estereótipos racistas da população negra. "Eu quero, desejo e almejo poder construir na teledramaturgia personagens que beijam, que amam, que são felizes, que têm objetivos próprios, que são vilões, mocinhos, pobres e ricos, com sua existência humana, humanizados, com alma", afirmou
"Se o racismo, que faz parte da história do nosso país e que atravessa a nossa existência, tiver sentido e passar ali, na vida do personagem, ele vai ser retratado. Mas se não é necessário, eu não gostaria que o público me visse no lugar da vitimização, nem do algoz, nem retratando e reforçando estereótipos de dor que já foram contados muitas vezes", finalizou.