Em Nova York, Zabelê celebra influência familiar na música
Caras
Dona de estilo irreverente, Zabelê (47) tem destino certo quando quer inspiração: Nova York, cidade que a acolheu na adolescência e onde se descobriu como artista. E, para ela, não há lugar melhor para se energizar antes de iniciar um novo trabalho, feito que pretende concretizar em 2023. No último disco, Auê, a cantora fez releituras de músicas de seus pais, Baby do Brasil (70) e Pepeu Gomes (70), provando que a família é local de constante reverência.
Em papo exclusivo com CARAS, Zabelê fez uma reflexão sobre o passado musical ao lado das irmãs, Sarah Sheeva (49) e Nãna Shara (46), e sobre o seu futuro.
– Como NY te inspira?
– É como uma segunda casa, tenho uma conexão muito forte, minha veia artística surgiu porque fui acolhida pela cidade. Ter vindo para cá na adolescência e estudado dança me trouxe autoconfiança. Sempre que quero me reconectar buscando novos projetos e ideias, venho para cá. É algo natural. Nova York tem esse poder. É o lugar onde comecei minha carreira e nunca mais saí do palco, um lugar totalmente distante dos meus pais. Estava sozinha comigo mesma.
– Como seus pais te influenciaram em sua trajetória?
– Nossos pais nos deixaram florescer. Vivíamos naturalmente com música, isso já estava no nosso cotidiano. Nunca foi por obrigação. Eu costumo dizer que nossa faculdade era nossos pais, dois grandes professores. Meu último trabalho foi uma reverência à obra deles, uma homenagem. Meus pais têm 40 discos. Escolhi músicas que me marcaram, mas queria que ouvintes que não tiveram essa formação pudessem ouvir também. Queria resgatar essas músicas do passado que ainda são atuais.
– Após o sucesso do SNZ, como é o contato com suas irmãs?
– Existiu um tempo junto maravilhoso e histórico. E chegou um momento em que cada uma seguiu seu caminho. O importante é o respeito diante da escolha de cada uma. Aprendi muito com elas. Cada uma seguiu seu destino e eu sou a única que sigo nesse mercado secular. A gente foi sócia e viveu um tempo
feliz que teve um resultado lindo. Mas temos que entender que as coisas terminam. Tem fã de luto até hoje, mas existem ciclos que precisam terminar.
– Qual o legado do SNZ?
– Fico feliz quando ouço de jornalistas, críticos e fãs que fomos ícones da cultura pop, principalmente sendo um grupo de mulheres, com visual novo, coreografias, composições próprias... Abrimos as portas para uma nova geração de mulheres no pop. Me falaram que tem música nossa estourada no TikTok agora! Eu fico muito feliz com todo esse reconhecimento. A gente fez história.
– O que é a fé para você?
– Nunca fui religiosa. Gosto de yoga, de dançar, de me alimentar bem. Minha fé vem por meio desse tipo de conexão. Acreditar em coisas que te farão feliz e farão bem aos outros. A fé não tem nada a ver com religião, tem que fazer sentido para cada um. Sempre fui muito eclética, muito aberta a todos os tipos de manifestação religiosa. Nunca tive preconceito, tenho amigos de todas as crenças.
– Como vê a política atual?
– Me entristece. Será que as pessoas não estão vendo que estão voltando no tempo? Precisamos evoluir como seres humanos. Acho muito retrógrado. Será que as pessoas não estão entendendo que temos que respeitar o próximo, que cada um pode escolher o caminho que quiser? Sempre fui extremamente consciente disso. Temos a tecnologia a nosso favor, todo mundo está conectado o tempo todo. Se as pessoas quiserem estar conscientes e buscar essa evolução, precisam querer essa paz, esse amor, essa união. Não tem mais cabimento viver tristeza, amargura, repressão. Não vai levar a nada. O artista tem um papel forte de mostrar isso de uma forma amorosa, da importância que é ter cultura para entender que existem outros caminhos além do radicalismo. Ninguém no mundo vive sem arte e sem cultura.
– Quais os planos para 2023?
– Sigo em turnê, estou voltada para terminar os últimos shows com datas ainda no Brasil, nos EUA e na Europa. Em paralelo a isso, já estou me movimentando para o próximo álbum. Essa viagem a Nova York está me servindo como um laboratório musical. A primeira pós-pandemia. Já comecei a compor. Está no forno um novo e fresquinho trabalho para esse ano. Estou abrindo caminhos internacionais aqui, fazendo conexões, meu novo trabalho vai ser lançado mundialmente!
FOTOS: ELTON DAVEL; STYLING: STEPHANIE WENGERKIEWICZ; BELEZA: DANIEL RICARTE