"Alien: Romulus" volta às origens em trama que sustenta o clima de tensão até o fim
Cinebuzz
A franquia “Alien” foi perdendo seu prestígio com o público e a crítica com o passar dos anos. Muito disso por conta de ter seguido caminhos que nem sempre se apresentaram interessantes ao público e também por ter sofrido influências do estúdio e de seus produtores. O caso mais claro é de “Alien³”, assinado por David Fincher, que renega o próprio filme. O diretor de longas como “O Curioso Caso de Benjamin Button” (2008) e “A Rede Social” (2010) já afirmou em diversas entrevistas que não gosta do resultado obtido em sua produção de estreia na direção.
Dito isso, não é exagero afirmar que o sucesso - de crítica e de público - dos dois primeiros filmes se deve ao fato - ou um deles - de que ambos são assinados por seus diretores, o primeiro, de 1979, por Ridley Scott, idealizador da franquia, e o segundo, de 1986, por James Cameron, conhecido por diversos blockbusters como “Titanic” (1997) e “Avatar” (2009). E quando digo assinados é porque se percebe, nitidamente, que ambas as histórias são conduzidas por cineastas que estão empenhados em exibir seus maneirismos e formalmente servindo a gêneros: o primeiro à ficção científica e ao terror enquanto o segundo mais à ação.
Após “Alien - A Ressurreição” (1997), quarta entrada da franquia e que naufragou de vez quaisquer chances de continuações, uma moda do início dos anos 2000, que rendeu até “Freddy vs. Jason” em 2003, foi tentada: um crossover com a franquia “Predador”. O resultado: mais um fracasso de crítica e público. Mesmo assim, dois filmes ainda nasceram dessa inusitada tentativa que tinha como campanha de marketing a frase “não importa quem vença, nós perdemos”, sendo o primeiro lançado em 2004, com direção de Paul W. S. Anderson, conhecido por dirigir algumas das adaptações para o cinema do game “Resident Evil”, e o segundo lançado em 2007, com direção de Colin e Greg Strause, que nunca mais fizeram nada de relevante para o cinema - não que o “Alien vs. Predador 2” deles seja.
Já que a ação não estava rendendo mais frutos, em 2012, Ridley Scott voltou a assumir as rédeas da franquia e dirigiu “Prometheus”, que dividiu opiniões. Nele, Scott apresenta uma abordagem nova e mais filosófica em um filme de aliens que se dedica a questões com as quais a franquia não tinha se preocupado até então. Mesmo divisivo, ganhou a sequência “Alien: Covenant”, em 2017, que não obteve o resultado esperado e sepultou de vez os planos de Scott de realizar ainda mais continuações - que voltaram a ser discutidas após o boom dos streamings.
Aliás, a franquia “Predador” optou pelo mercado de streamings em 2022, quando foi lançado, no Hulu/Star+, “O Predador: A Caçada”, longa que obteve ótima recepção tanto da crítica quanto do público e que parece ter abrido os olhos dos executivos da 20th Century Studios por terem perdido a oportunidade de faturar alguma grana com um filme que poderia ter chegado aos cinemas - e isso é puro achismo meu. Dois anos depois, com “Alien: Romulus”, a estratégia é outra: os cinemas.
E a escolha é acertadíssima em diversos níveis. Além de escalar Fede Álvarez, um diretor acostumado ao terror, “Romulus” volta às origens da franquia, apresentando não só uma história claustrofóbica com operários explorados pelo sistema, mas contando também com protagonistas vividos por atores não tão famosos ou que possam ser reconhecidos de outras franquias, como Cailee Spaeny (“Guerra Civil”) e David Jonsson (“Rye Lane - Um Amor Inesperado”). Se Sigourney Weaver é considerada um ícone hoje, vale lembrar que “Alien” (1979) foi o seu primeiro grande papel no cinema.
Talvez o maior acerto de "Romulus" seja a escalação do diretor Fede Álvarez, que volta a trabalhar em uma franquia de terror, coisa que já havia feito em “A Morte do Demônio” (2013). Álvarez tem o currículo que a franquia precisava por não ser um novato no gênero, seus primeiros curtas são fitas tanto do terror quanto da ficção científica: “El Cojonudo” (2005), uma pequena fábula de terror produzida no Uruguai com apenas 500 dólares, e “Ataque de Pánico!” (2009), um sci-fi de invasão alienígena que também se passa no país de origem do diretor. Já com uma produção maior em mãos, Álvarez entregou “O Homem nas Trevas” (2016), no qual parece se sentir mais à vontade para desfilar sua câmera e seus personagens por ambientes escuros e realizar algo semelhante ao que realiza em “Alien: Romulus”.
Essa volta às origens de “Alien: Romulus” se mostra, ironicamente, o sopro de originalidade que a franquia precisava. A história é simples e bastante semelhante ao filme de 79 - se passando logo após deste. Nela, um grupo de jovens colonizadores espaciais se aventura nas profundezas de uma estação espacial abandonada. Lá, eles descobrem uma forma de vida aterrorizante, forçando-os a lutar por sua sobrevivência. Não há muito mais a ser dito sobre a trama, pois o que faz “Romulus” ser tão gratificante é como ele assume essa roupagem que remete ao clássico original, fazendo diversas referências às sequências - de “Alien - A Ressurreição”, talvez a mais polêmicas delas, já no terço final, a “Prometheus”, quando certo elemento é citado por um personagem de rosto conhecido por alguns e que surge inusitadamente na história.
No entanto, “Alien: Romulus” não se limita às referências. Longe disso. Este é um filme cru e sujo, com foco na construção da tensão encarada pelos personagens e que não pretende apresentar nada que já não tenha sido feito anteriormente. Pode até soar como um clichê dentro da própria franquia - o que seria um exagero afirmar -, afinal, o que importa é a forma com que tudo se desenvolve e Álvarez sabe bem onde está pisando: em uma nave no espaço, de corredores escuros, por onde alienígenas com instinto mortal caçam os seres-humanos. A tensão vai escalonando até a meia hora final, quando o filme se eleva a um patamar de angústia e ação comparável apenas ao que Scott e Cameron atingiram em suas fitas. Vale ficar de olho para o que vem por aí. A franquia tem salvação, afinal.