Herege é terror questionador que tem Hugh Grant como seu maior trunfo | #CineBuzzIndica
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Não é exagero afirmar que Heregeé uma das surpresas do terror em 2024. Nem tanto por sua história, que vai perdendo força com o desenrolar dos acontecimentos, mas sim por trazer um Hugh Grant (Wonka), ator que se consagrou na comédia romântica, em um papel envolto em mistérios e, por vezes, de porte assustador, parecendo estar sempre um passo à frente das protagonistas e de nós, espectadores.
A dupla de diretores Scott Beck e Bryan Woods volta às origens após o fracasso de 65 - Ameaça Pré-Histórica, ficção científica de ação estrelada por Adam Driver (Megalopolis), lançada nos cinemas em 2023. Em 2019, Beck e Woods chamaram atenção com A Casa do Terror, longa de baixíssimo orçamento que conta a história de um grupo de amigos que encontram uma casa mal-assombrada no Halloween.
Efetivos em uma proposta de espaço limitado que promete surpresas - e sustos - aos personagens conforme eles vão explorando os cômodos da casa, A Casa do Terror pode ter ficado esquecido dentro do gênero, no entanto, com a chegada de Heregeaos cinemas, aqueles espectadores curiosos em saber “de onde esses diretores vieram?”, agora têm a oportunidade de conhecer mais as origens da dupla, que parece gostar de contar histórias em espaços claustrofóbicos.
Em Herege, as missionárias Irmã Paxton (Chloe East, Os Fabelmans) e Irmã Barnes (Sophie Thatcher, Yellowjackets) vão à casa de um homem (Hugh Grant, Wonka) para tentar convertê-lo. Entretanto, a situação que começa com uma recepção amistosa e agradável, logo vai se tornando incômoda, revelando-se muito mais perigosa do que as jovens poderiam imaginar.
Cheio de reflexões acerca da religiosidade das Irmãs, o embate de ideias apresentado por Heregemantém um tom de suspense que faz muito bem ao filme na primeira metade, e o grande trunfo disso está na atuação de Hugh Grant, que defende seu personagem com argumentação e referências à cultura pop (a sequência em que ele compara Monopoly - aqui chamado de Banco Imobiliário - com as religiões monoteístas é hilária) sempre em um tom provocador, se aproveitando da pouca idade e bagagem das Irmãs.
O Mr. Reed de Grant é como um jogador experiente que se senta em uma mesa e tem dois peões dispostos em um tabuleiro para o seu entretenimento. Eles, os peões, podem fazer suas escolhas - o tal livre-arbítrio - mas é como se o manipulador Reed já soubesse que, independente do caminho escolhido, o destino lhes traria o mesmo infortúnio. É exatamente esse passo à frente de Reed que torna o personagem tão intimidador e deliciosamente instigante sem que se faça necessário o confronto físico, apenas o de ideias, a partir de monólogos indagadores que vão fazendo com que as Irmãs se questionem e fiquem encurraladas dentro de suas próprias crenças.
Contudo, se os questionamentos levantados pelo personagem de Grant diretamente às Irmãs Paxton e Barnes mantém Heregenum patamar de imprevisibilidade nos dois primeiros atos, logo o filme se transforma em um jogo de gato e rato que faz com que ele perca grande parte de sua força ao abandonar essa abordagem mais acintosa, caindo justamente no positivismo da fé. A história deixa de ser provocadora e passa a ser mais direta, saindo do suspense que incomoda e nos faz rir de nervoso para um terror mais óbvio que não se sustenta por muito tempo.
No terceiro ato parece que rola um esgotamento de ideias da parte de Beck e Woods. Os ótimos cenários da casa do Sr. Reed, tão bem explorados e trabalhados até então, não parecem interessar mais à dupla de diretores, daí em diante, Heregecai em um lugar comum dentro do gênero, transformando um vilão intrigante e ameaçador em uma presença pouco amedrontadora justamente por buscar um enfrentamento que até então tinha causado muito mais tensão enquanto no campo da sugestão. Em suma, Heregeé o tipo de história que deixa uma sensação de que poderia ter sido mais, principalmente quando apostava em menos. Pelo menos, vale para curtir Hugh Grant em uma atuação fora do convencional para a sua carreira.
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