Salão de Baile apresenta a cena ballroom pelo olhar de quem a vive | #CineBuzzIndica
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Uma das falas que mais me marcou na entrevista que fiz com Juru e Vitã, diretoras do documentário Salão de Baile: This is Ballroom — e que vivem a cena —, é a afirmação de que é muito legal receber prêmios e toda a visibilidade que o vencedor do Coelho de Ouro no 32º Festival MixBrasil está recebendo, mas nada supera ver a cena local e a comunidade se sentindo representada e valorizada pelo projeto.
A partir de declarações como essa, Salão de Baile ganha contornos de um documentário que é feito por e para as pessoas da cena ballroom. Mas não só. Aqueles que se aventurarem em conhecer mais sobre os bailes ballroom — venhamos e convenhamos, essa é a principal premissa de um documentário como este — irão perceber muita verdade por parte de Juru e Vitã neste mergulho na cena do Rio de Janeiro, explorando tanto a individualidade dos artistas e performers quanto a força da coletividade que caracteriza esse espaço.
O filme, no entanto, não se limita a ser uma simples documentação da cena, justamente por ter essa noção de que é um manifesto coletivo, um espaço de visibilidade para as histórias pessoais que compõem a ballroom, abordando as transformações individuais e coletivas. É um documentário politizado que, a partir de seu espaço de resistência, no qual essas pessoas invisíveis para a sociedade podem se manifestar e manifestar seus corpos, se torna identitário e transformador.
Criando uma narrativa plural, sem centrar a história em poucos protagonistas e costurando as histórias de suas personagens — algo semelhante ao feito no clássico Paris is Burning (1990) —, Salão de Baile reflete a diversidade da cena e a multiplicidade das histórias que surgem ali sem perder a conexão emocional com o público. Essa decisão de pluralidade se reflete também no processo de produção, que incluiu membros da cena como parte fundamental da equipe, uma escolha que demonstra o compromisso das diretoras em não apenas retratar, mas também incluir e dar voz àqueles que fazem parte desse universo.
A estratégia de equilibrar o foco no indivíduo e na comunidade resulta em uma narrativa rica e envolvente, que transmite a complexidade e a beleza da ballroom. Esse processo de proximidade com o ambiente e as pessoas que participam da cena é um dos maiores méritos do filme pois, dessa forma, Salão de Baile traz um olhar sincero e profundo sobre uma cultura tão rica em expressão.
O filme também se destaca pela sensibilidade na abordagem das questões de gênero, raça e identidade, temas centrais da cena ballroom. As discussões sobre transformação pessoal, autoexpressão e o impacto da ballroom na vida das pessoas são tratadas com delicadeza e respeito, criando uma narrativa que não só documenta, mas também celebra a pluralidade de vivências dentro da comunidade LGBTQIAPN+ e das pessoas pretas que a compõem.
Embora Salão de Baile seja uma celebração da cultura ballroom e sua comunidade, o documentário não deixa de abordar questões tensas e delicadas, que permeiam tanto a cena quanto a vida dos indivíduos nela envolvidos. Entre as questões mais intensas, estão as dificuldades enfrentadas por pessoas trans e não-binárias, que lutam não apenas por reconhecimento dentro da ballroom, mas também pela aceitação e sobrevivência no mundo fora dela. A precariedade social e a marginalização dessas pessoas são elementos recorrentes, muitas vezes refletidos nas suas performances e nas histórias que elas compartilham no espaço da ballroom.
Além disso, o filme traz à tona a violência simbólica e o estigma que ainda cercam as identidades trans, com destaque para o impacto negativo da transfobia, tanto dentro quanto fora da comunidade. Essas questões são tratadas sem disfarces, o que confere ao filme uma profundidade emocional e crítica, mostrando que, apesar de ser um espaço de expressão e empoderamento, a ballroom também é um reflexo das dificuldades estruturais que a sociedade impõe aos corpos dissidentes.
Em suma, Salão de Baile é um documentário que não só registra um fenômeno cultural, mas também participa ativamente do fortalecimento e da visibilidade da cena ballroom, mostrando sua riqueza e diversidade de forma sincera e respeitosa. Ao equilibrar histórias individuais com o coletivo, o filme de Juru e Vitã — e desta comunidade — consegue capturar a energia única da ballroom, tornando-a mais acessível e compreendida, ao mesmo tempo em que celebra sua complexidade e transformação contínua.
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