Novo filme de Julia Murat ganha o Leopardo de Ouro no Festival
Filmow
Imagem: Primeiro Plano/Divulgação
O filme brasileiro “Regra 34”, dirigido por Julia Murat, acaba de receber o Leopardo de Ouro, o prêmio máximo do Festival de Locarno, na Suíça. É um feito que não acontecia há 55 anos. Desde “Terra Transe”, de Glauber Rocha, filme de 1967, que o Brasil não ganha o prêmio máximo no festival suíço, um dos mais respeitados e prestigiosos festivais de cinema do mundo. A cerimônia de premiação foi hoje, 13 de agosto de 2022.
O longa-metragem, estrelado por Sol Miranda, Lucas Andrade , Lorena Comparato e Isabela Mariotto conta a história de Simone (Sol Miranda), uma jovem negra que acabou de passar para a defensoria pública e pagou os estudos fazendo performance on line de sexo como camgirl. O filme, uma produção das brasileiras Esquina Filmes e Bubbles Project, além da francesa Still Moving, será distribuído no Brasil pela Imovision.
Para a diretora Julia Murat, “ganhar esse prêmio nesse momento em que a extrema direita detém o poder no país, valoriza um filme que representa tudo o que eles odeiam e tentam exterminar”. Para Murat, esse é um filme sobre afeto, escuta e consensualidade. “Regra 34” competiu no evento com 16 produções de diferentes países, incluindo o filme mais recente do consagrado cineasta Aleksandr Sokurov, “Fairytale”.
No filme, a personagem Simone atende mulheres vítimas de violência doméstica. No entanto, seus próprios interesses sexuais a levam a um mundo de brutalidade e erotismo. “Regra 34” teve uma excelente repercussão na imprensa durante a exibição no festival de Locarno, um dos festivais importantes do mercado internacional. “O filme de Julia Murat sobre uma estudante de direito com hábitos pornográficos é um trabalho corajoso, imoral e essencial”, comenta o crítico Oris Aigbokhaevbolo, The Film Veredict. Para Redmond Bacon, do Dirty Movies, o filme é “um crepitante e brilhante estudo de personagem [...] explorando os limites do consentimento, o significado de se procurar a dor, e a interseção entre opressão sistêmica e livre arbítrio”. Já Timé Zoppé, do Trois Couleur, afirma: “a brasileira Julia Murat analisa brilhantemente as problemáticas atuais ligadas às opressões... Essa não-linearidade do percurso é o que nos toca e interessa politicamente nos permitindo apreender as imbricações tão diabolicamente complexas entre ordem e caos, doçura e violência, desejo e opressão.”
A diretora Julia Murat, anteriormente já tem um histórico de prêmios em outros festivais internacionais. Seu primeiro filme de ficção, “Histórias que Só Existem Quando São Lembradas” (2011), que estreou no Festival de Veneza, foi selecionado pelos festivais de Toronto, Rotterdam e San Sebastian, ganhando 39 prêmios internacionais, incluindo Melhor Filme em Abu Dhabi, Sofia e Lima. “Pendular” (2017) também ganhou o Prêmio FIPRESCI, na mostra Panorama do Festival de Berlim, e foi selecionado por diversos festivais ao redor do mundo.
Julia Murat dirigiu também dois documentários, “Dia dos Pais”, que estreou no Cinéma du Reel, em 2008, e “Operações de Garantia da Lei e da Ordem” (2017), exibido no Festival de Cinema de Brasília, além de curtas e videoinstalações.