Oscar: os indicados e quem deveria ter sido - Parte Dois
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Por Neely Swanson* para o Beverly Hills Courier
Segue a continuação de minha crítica dos indicados ao Oscar...
Perdeu a parte 1? Confira aqui
Parte 2:
"Duna: Parte Dois" parece ser uma indicação baseada nos quase US$ 300 milhões que arrecadou até agora nas bilheterias. Baseado no romance de 1965 de Frank Herbert, tem temas que lembram “Star Wars”, com uma população em jogo e ameaças de aniquilação por outro grupo com poder de fogo muito superior. Um jovem herói, Paul Atreides, está decidido a vingar a morte de sua família nas mãos de conspiradores. Amor, ódio, guerra, vingança e muitas armas gigantescas preenchem a tela que tem em sua raiz (bem no fundo da raiz) um tema religioso onde Atreides é “aquele” que foi chamado para trazer unidade. Denis Villeneuve dirigiu um filme de efeitos especiais magníficos e escrita clichê onde qualquer tentativa de desenvolvimento de personagem é pontuada por uma explosão porque isso não é realmente sobre personagem ou história; é sobre os visuais. A Parte Um apresentou Atreides enquanto ele vê seu pai tentar em vão trazer diferentes forças em harmonia. A Parte Dois é o esforço com poucos recursos de Atreides para vingar seu pai e unir essas forças. Não se engane, haverá Parte Três, porque, como na televisão em série, a última cena prepara o próximo filme enquanto a batalha pela unidade continua. Não houve indicações de atuação, e com razão porque a atuação é, na melhor das hipóteses, superficial. A cinematografia, os efeitos visuais e sonoros, todos indicados, devem se beneficiar generosamente quando os Oscars forem entregues. Surpreendentemente, figurinos e maquiagem não foram incluídos.
“Emilia Pérez” foi um dos meus favoritos e é um dos principais concorrentes para Melhor Filme, entre muitos outros. Não houve uma história tão original há algum tempo, se é que alguma vez houve, e o fato de ser um musical, ou melhor, uma história com números musicais, o torna ainda mais único. Liderado pela atriz trans e indicada a Melhor Atriz (e quanto menos se falar sobre ela, melhor), Karla Sofía Gascón, esta história de um traficante que passa por uma cirurgia para se tornar seu verdadeiro eu, “Emilia Pérez” ostenta um ótimo roteiro, um elenco fantástico, incluindo Selena Gomez e Zoe Saldaña, uma ótima trilha sonora e números musicais. Foi indicado em quase todas as categorias concebíveis, mas é, sem dúvida, a criação e o trabalho do diretor/co-roteirista Jacques Audiard. É um musical em espanhol ambientado no México com atores latinos dirigido por um audacioso diretor francês, indicado não apenas para Melhor Filme, mas também é a entrada da França para Melhor Longa-Metragem Internacional. Mesmo que não ganhe nada, e isso só vai acontecer se não houver justiça no mundo do cinema, Audiard quebrou barreiras que não sabíamos que existiam. Saldaña fez uma performance de ouro, e minha esperança é que ela ganhe o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, como fez no Globo de Ouro.
“I'm Still Here”, a entrada do Brasil para Melhor Longa-Metragem Internacional, é um caso isolado. Seu lançamento no final do ano e a publicidade em torno de seu tema, os sequestros de supostos oponentes políticos por um governo repressivo, podem ter contribuído para sua surpreendente indicação na categoria Melhor Filme. É um bom filme, mas não um ótimo. Fernanda Torres, vencedora do Globo de Ouro de Melhor Atriz, pode ter contribuído para sua indicação ao Oscar como Melhor Atriz em Papel Principal. Ela é muito boa, mas, no que me diz respeito, sua performance não chega ao nível de algumas outras atrizes mais dignas em filmes que não se beneficiaram do notável impulso publicitário deste.
“Nickel Boys” definitivamente merece estar nesta lista, embora seja um tiro no escuro. Baseado no excelente romance de Colson Whitehead, o diretor e co-roteirista RaMell Ross tentou contar esta história de detenção juvenil no Sul segregado através dos olhos dos dois garotos encarcerados, literal e figurativamente. Às vezes funciona, às vezes não, mas a abordagem é original e merece reconhecimento.
“The Substance” foi uma escolha interessante, ajudada, sem dúvida, pela vitória de Demi Moore no Globo de Ouro. “The Substance” é aquele raro filme de terror a cruzar a brecha para o território de Melhor Filme. Uma comédia de humor negro sobre a tendência de Hollywood de deixar de lado atrizes (não atores) de uma certa idade e o desejo de recapturar a beleza da juventude, “The Substance” conta a história de uma atriz mais velha, mas ainda bonita, que foi destituída de seu emprego na TV. Ela aprende sobre um novo processo que a deixará, em uma base compartilhada, retornar à sua juventude e viver a vida novamente como aquela mercadoria procurada. O que acontece quando seu eu mais jovem se recusa a compartilhar e retornar ao seu eu mais velho, conforme o acordo, rapidamente se transforma em uma história de terror gráfica. O enredo é interessante, a atuação é muito boa, mas, no final, literal e figurativamente, é um show de terror gótico. Um artigo de opinião recente no “New York Times” criticou a falta de reconhecimento dado a filmes de terror no Oscar. O que o escritor não reconhece é que a maioria dos filmes de terror são pesados na maquiagem e no sangue e leves na escrita, mesmo quando o enredo é bom. Um exemplo? “Nosferatu”, o remake deste ano da história do Drácula que não acrescentou nada ao cânone, mas teve a inocência de olhos arregalados necessária, muito sangue e diálogo ruim o suficiente para ganhar um Framboesa de Ouro.
Demi Moore em “The Substance” foi boa em um papel que ela, sem dúvida, viveu, mas não chega ao nível de uma ótima atuação. Se ela ganhar, será um voto de todas as atrizes mais velhas da Academia que foram injustamente expulsas sem cerimônia e se reconhecem neste papel. Isso justifica um Oscar? Não na minha opinião e eu entendo completamente o julgamento injusto com base na idade. Dadas as circunstâncias, Margaret Qualley, a atriz que interpreta a versão mais jovem, deveria ter sido indicada para Melhor Atriz Coadjuvante porque ela é a outra metade da performance de Moore.
“Wicked” é o número três nas bilheterias de 2024 com US$ 433 milhões em receita até agora e só estreou em 22 de novembro. É um gigante e merece estar nesta lista porque é o pacote completo — luzes, câmera, ação, ótimas atrizes em Cynthia Erivo e Ariana Grande, ambas indicadas. A única controvérsia é que o diretor John Chu foi deixado de fora da lista de indicações para o Oscar e o DGA. Isso é um quebra-cabeça porque há muitas partes móveis neste musical amado e todas elas funcionaram juntas como engrenagens em sincronia. Ainda mais surpreendente foi que Winnie Holzman, escritora do musical original e coautora do roteiro, não foi indicada para roteiro adaptado. O maior filme do ano e nem o diretor nem o escritor foram indicados? Esse é um quebra-cabeça insondável.
Esnobados? Muitas pessoas lamentaram que Denzel Washington não tenha sido indicado por “Gladiadores II”. Adorei sua performance irônica, mas ser a melhor coisa em um filme não muito bom (mas divertido) é tão improvável de render uma indicação quanto perder como MVP quando você é o melhor jogador em um time ruim.
Fiquei muito surpreso que Saoirse Ronan não tenha sido indicada por sua excelente performance em “The Outrun”, um filme completamente esquecido sobre uma jovem mulher voltando para casa para se recuperar do alcoolismo e enfrentar os demônios que ela deixou para trás. E, goste do filme ou não, Amy Adams, no filme quase-horror “Nightbitch”, deu uma visão multifacetada sobre a depressão pós-parto e a busca de uma mulher por identidade.
E, finalmente, se dependesse de mim, eu teria incluído “O Conde de Monte Cristo” na lista de Melhor Filme. É em francês e não teve grande exposição, mas tinha o pacote completo, desde ótima atuação, história fantástica e design de produção capturando aquele período da história.
Não há espaço suficiente para dissecar o resto das indicações. Houve e ainda há alguns filmes fantásticos por aí e mais por vir. Vá ao cinema. Veja um filme!
*Neely Swanson passou a maior parte de sua carreira profissional na indústria televisiva, quase toda trabalhando para David E. Kelley. Em seu último cargo de tempo integral como Vice-Presidente Executiva de Desenvolvimento, ela revisou submissões de escritores e direcionou conteúdo para adaptação. Como ela sempre disse, ela fazia resenhas de livros para viver. Por vários anos, ela foi escritora freelancer para a “Written By”, a revista da WGA West, e foi professora adjunta na USC na divisão de escrita da School of Cinematic Arts. Neely escreve resenhas de filmes e televisão para o “Easy Reader” há mais de 10 anos. Suas resenhas anteriores podem ser lidas no Rotten Tomatoes, onde ela é uma crítica aprovada pelo tomatometer.
Leia o artigo original aqui
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