Oscar: os indicados e quem deveria ter sido - Parte Um
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ICARO Media Group
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Por Neely Swanson* para o Beverly Hills Courier
Todo mundo tem uma opinião sobre quais são os “melhores” filmes de qualquer ano e este não é diferente. O Globo de Ouro deu a largada para a temporada de premiações e, no passado, foi um "oráculo" bastante preciso de quais seriam as indicações ao Oscar, e até os vencedores também. É possível, se não provável, que o grande intervalo de tempo entre o Globo de Ouro e o anúncio dos indicados da Academia tenha tido muita influência sobre os eleitores, não apenas na "descoberta" de filmes que eles poderiam não ter pensado como concorrentes ao prêmio, mas também como uma maneira de deixar de lado filmes que eles poderiam ter levado em consideração ao escolher o que assistir na “Academy Screening Room”**.
Este ano, vi todos os indicados a Melhor Filme e, claro, tenho minhas próprias opiniões sobre o que deveria ou não estar naquela lista. Há poucas e boas surpresas na categoria Melhor Filme.
“Anora” venceu vários prêmios, com elogios para a jovem estrela Mikey Madison. Para alguns ela surgiu do nada mas, para quem a viu na série “Better Things”, de Pamela Adlon, em que ela interpreta a filha adolescente mal-humorada, rebelde e desrespeitosa cuja raiva permite que ela esconda sua vulnerabilidade, os elogios não são uma surpresa. Ela é uma forte concorrente ao Oscar de Melhor Atriz e sua performance como uma dançarina/prostituta que acha que chegou ao estrelato revela uma profundidade que vai além do pornô suave que é orgânico para sua personagem. Ela é hipnotizante e o filme, um concorrente muito digno, revela surpreendentes camadas de complexidade inesperadas em uma história tão gráfica. Nele também está, sem dúvida, a melhor fala de qualquer filme deste ano: “Seu filho te odeia tanto que se casou [com uma prostituta] só para te irritar.” Mesmo que você não tenha visto o filme, essa fala diz tudo.
O grande favorito neste momento é "O Brutalista". Eu demorei para ver este porque, como eu disse a qualquer que quisesse ouvir, "Nada vai me fazer passar quatro horas com Adrien Brody". Mas eu fui ver, e estou feliz. Brody não só me surpreendeu, mas a duração de um pouco menos do que 4 horas valeu a pena. Brody, cujos maneirismos vocais e físicos sempre me irritaram, interpreta o papel principal, um sobrevivente do Holocausto que faz carreira em Pittsburgh como arquiteto. Quase silenciosamente, Brody confia em seu rosto e olhos muito expressivos, cuja profundidade revela uma vida difícil e uma tenacidade para continuar independentemente das probabilidades, desenvolvendo ao longo do caminho um personagem muito memorável. Ele é, de fato, melhor do que o filme, que se perde em caminhos incompletos. Isso não quer dizer que o filme não seja bom, porque é; simplesmente não é tão bom quanto poderia ter sido se o diretor/co-roteirista Brady Corbett tivesse desenvolvido ou eliminado alguns dos personagens inacabados e histórias menores que pouco acrescentam, além de tempo, ao enredo geral. Guy Pearce, muito verossímil como o patrono do arquiteto, tem alguns momentos muito bons mas, novamente, é a falta de desenvolvimento que atrapalha sua capacidade de dar corpo totalmente ao personagem. Felicity Jones, a esposa do arquiteto, merece uma indicação só porque ela encontrou mais elementos para interpretar neste personagem mal esboçado do que o que aparece nas páginas do roteiro.
“Um Completo Desconhecido”, a tentativa de contar a história da origem de Bob Dylan, é uma revelação. Dirigido e coescrito por James Mangold, o Bob Dylan na tela se desenrola como um músico e escritor genial que não se desculpava pela maneira como usava pessoas e circunstâncias para se destacar do já talentoso grupo de cantores folk no Greenwich Village do início dos anos 60. Este filme não é apenas evocativo de uma era, mas também produz uma das melhores e mais surpreendentes performances do ano. Timothée Chalamet entrega uma performance que não poupa a arrogância, o narcisismo e a manipulação de um dos nossos maiores artistas vivos. Para mim, tendo reverenciado aquela era desde a adolescência, Mangold fez uma obra-prima. O mais surpreendente, no entanto, é Chalamet, um jovem ator que sempre pareceu que um vento forte o derrubaria e um aperto de mão poderia quebrá-la. E, além de tudo, Chalamet canta todas as músicas com tamanha verossimilhança que você poderia jurar que era a voz de Dylan. Para mim, uma das pequenas fraquezas é Monica Barbaro, que interpreta Joan Baez. Não senti nada do fogo ou do pé-no-chão de Baez e seu canto, diferente do de Chalamet, não se aproximou da magia de Baez. Ed Norton, como Pete Seeger, é muito bom e verossímil, ao retratar a bondade fundamental e a eventual perplexidade de um homem cujo tempo já passou.
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Foto cortesia da Focus Features
“Conclave” é um filme excelente que levanta questões intrigantes sobre o processo de eleição de um papa. Embora o filme de Nanni Moretti, “Temos Papa”, seja um filme mais complexo mesmo cobrindo muito do mesmo material, “Conclave” apresenta as facções, a política e as estratégias de obtenção de votos do Colégio de Cardeais como o conflito entre ideologia e Realpolitik. O que é inegavelmente ótimo neste filme é a performance de Ralph Fiennes como o Cardeal que lidera a eleição. Sutil, sensível, realista e político, Fiennes encontra todas as sutilezas, e mais, para escavar a fundo esse personagem e, assim, elevar o filme acima de alguns de seus elementos menos sutis. Isabella Rossellini também foi indicada por seu papel como a freira que tem algumas das cartas nas mãos.
* Neely Swanson passou a maior parte de sua carreira profissional na indústria da televisão, quase toda trabalhando para o roteirista David E. Kelley. Em seu último cargo de tempo integral como Vice-Presidente Executiva de Desenvolvimento, ela revisou o material submetido pelos escritores e selecionou conteúdo para adaptação. Como ela sempre disse, ela fazia resenhas de livros como profissão. Por vários anos, ela foi escritora freelancer para a “Written By”, a revista da WGA West, e foi professora adjunta na USC, na divisão de escrita da School of Cinematic Arts. Neely escreve resenhas de filmes e televisão para o “Easy Reader” há mais de 10 anos. Suas resenhas anteriores podem ser lidas no Rotten Tomatoes, onde ela é uma crítica aprovada pelo tomatometer.
** Academy Screening Room é o aplicativo em que os eleitores da Academia podem assistir os filme concorrentes.
Leia o artigo original no Beverly Hills Courier .
A segunda parte deste artigo será publicada neste domingo, 23/2.
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