Das novelas mexicanas aos doramas: entenda o sucesso das produções no país

Vivemos uma época repleta de séries interessantes, com roteiros arrojados e tramas originais. Ainda assim, nós, brasileiros, seguimos fascinados pelas novelas , um formato que parece, para muita gente, "inferior" às séries. 

E a paixão pelas novelas é tanta que estamos assistindo ao surgimento de um novo fenômeno: o sucesso enorme de folhetins de outros países nas plataformas de streaming que temos disponíveis. Não bastava o gosto pelas novelas brasileiras, nós também estamos muito propensos a acompanhar com muito interesse os melodramas mexicanos, coreanos e até turcos.

E por que isso acontece? E como essas telenovelas se consolidaram com força em nosso país? Esta é a história que contamos neste texto.

A novela Usurpadora é um dos grandes sucessos da teledramaturgia mexicana no Brasil.

Em 1982, o SBT exibia pela primeira vez uma telenovela chamada Os Ricos Também Amam, que havia sido criada e exibida originalmente no México entre 1979 e 1980. Iniciava ali uma história dos brasileiros com as novelas mexicanos, em uma relação que só se consolidaria desde então.

Foram dezenas de novelas, exibidas sobretudo no SBT, que exploravam uma matriz um pouco diferente da usada nas novelas feitas no Brasil. Os folhetins mexicanos abusam de tramas mais melodramáticas (com dramas mais exagerados e visíveis, inclusive nas expressões dos personagens), histórias mais rocambolescas e repletas de romances e vilões estereotipados (quem lembra de Paola Bracho?).

O auge destas novelas talvez tenha ocorrido com a exibição pelo SBT por folhetins que marcaram gerações, como a infantil Carrossel (que fez tanto sucesso que recebeu uma versão brasileira), A Usurpadora e a chamada "trilogia das Marias", com Maria Mercedes, Marimar e Maria do Bairro, todas estreladas pela cantora e atriz Thalía, que se tornou uma espécie de símbolo do gênero.

Reprisadas inúmeras vezes pelo SBT, as novelas mexicanas foram recentemente acrescentadas ao catálogo da Globoplay e, para surpresa de muitos, estão configurando entre as atrações mais assistidas desse streaming.

Para os especialistas, isto nos mostra que o brasileiro continua com um gosto dedicado a narrativas mais "simples", que se prestam mais ao relaxamento do que aos conflitos "cerebrais". A jornalista e professora universitária Carol Braga explica: “elas têm um padrão de produção que fica até engraçado. 

As pessoas veem como um divertimento, como aquele momento de descompressão sem grandes exigências intelectuais. É algo para se divertir, para lembrar de uma época passada da vida”, afirmou, em entrevista ao jornal O Tempo.

As novelas turcas também cairam no gosto do público brasileiro.

Desde os anos 1990, outro país começou a se destacar na exportação de novelas para outras culturas, chegando, inclusive, no Brasil. As novelas turcas começaram a ser exibidas em 2015 pela Band, mas estouraram por aqui durante a pandemia.

Atualmente, há várias opções que estão capturando o interesse de muitos espectadores em plataformas como Globoplay, HBO Max, Netflix e Amazon Prime. Mas o bom resultado não vem por acaso: ele resulta de um alto investimento que foi feito pelas produtoras deste país, o que já fez com que uma novela como Kara Sveda vencesse o Emmy Internacional em 2017.

A tradição em novelas turcas foi construída de maneira programada. Depois de anos comprando folhetins latinos (especialmente brasileiros e mexicanos), os produtores locais começaram a investir alto nas novelas. Só para se ter uma ideia, um único capítulo de uma novela turca custa às emissoras cerca de R$ 800 mil, o que é um valor mais alto do que é investido pelas produções da Globo.

Este investimento deu resultado, e as novelas passaram a conquistar público internacional. No Brasil, o consumo das tramas turcas se iniciou com Mil e Uma Noites, que deu boa audiência para a Band em 2015. Isso abriu as portas para Fatmagul (2015-2016) e Minha Vida (2018-2019). 

Mas o público brasileiro que ama novelas turcas está hoje no streaming. Em entrevista à BBC, Burhan Gun, que é presidente da Associação dos Produtores de Cinema e TV da Turquia, afirmou que o sucesso no Brasil tem a ver com o fato de que os turcos compartilham elementos culturais em comum com os latino-americanos: uma forte moralidade voltada à família e desafios semelhantes, como a urbanização e a migração campo-cidade, que são temas que costumam aparecer nas telenovelas.

(Fonte: Hypando)

Por fim, vale mencionar outra paixão dos brasileiros: os doramas, as novelas produzidas em países como Coreia do Sul, Japão, China e Tailândia . E o sucesso por aqui não é pequeno: segundo pesquisa feita pela Fundação Coreana para Intercâmbio Cultural Internacional, o Brasil é o terceiro país do mundo que mais consumiu doramas durante a pandemia.

Os doramas estão presentes em várias plataformas de streaming, com destaque da Netflix, que tem várias opções para os assinantes e investiu US$ 600 milhões nos últimos anos apenas neste formato. São novelas mais curtas (o que facilita o binge watching), que costumam ter apenas uma temporada e são concretizadas por vários gêneros, com destaque para as comédias românticas.

O sucesso dos dramas coreanos se relaciona também com o interesse brasileiro pelo K-pop e outras expressões culturais do país asiático. Conforme explica Carol Akioka, diretora do portal KoreaIN, “quando uma pessoa se interessa e vai pesquisar (sobre BTS) ela se depara com um mundo audiovisual muito grande. Clipes diferentes, filmes para todos os gostos, artistas de k-pop que também atuam. É uma porta de entrada para outros aspectos da cultura”, explicou ao site Bitniks.

Dentre os doramas mais assistidos no Brasil, estão Beleza Verdadeira, Desgraça ao Seu Dispor e Então Eu Me Casei com Minha Anti-Fã. Não faltam opções para todos os gostos.

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