Greve dos roteiristas e atores: filmes e séries vão mudar?
Tecmundo
Parou tudo! Depois de dois meses de greve dos roteiristas do WGA, sindicato da categoria, os atores de Hollywood, vinculados ao SAG-AFTRA, também aderiram ao movimento . São 11 mil escritores e mais de 160 mil atores e atrizes pressionando os estúdios não só por pagamentos residuais justos de episódios vistos e revistos nas plataformas de streaming, mas principalmente com uma preocupação àla Black Mirror .
E nem é força de expressão. Quem viu a nova temporada da série da Netflix , assistiu ao episódio ‘A Joan é Péssima’ (‘Joan IsAwful’), em que uma mulher cede seus direitos de imagem e acaba sendo protagonista de uma produção de streaming. O temor dos atores é justamente esse: serem substituídos por inteligência artificial (IA), citando a própria série. Algo que também tira o sono dos roteiristas.
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Poucas são as profissões totalmente despreocupadas com o uso da IA como substitutas. Os primeiros a falar sobre isso foram ilustradores, que viram seus traços serem replicados pelos robôs. A coisa escalou muito rápido até chegar aos roteiristas (incluindo o próprio Charlie Brooker, criador de Black Mirror), grupo que já tinha salários defasados há anos, e aos atores. Qualquer expectativa de acordo entre patrões e empregados tem a tecnologia como entrave.
Para se ter uma ideia, esta é a primeira vez em 43 anos que os atores entram em grevee a primeira desde os anos 1960 que o sindicato para junto com o WGA. Eles até tinham um contrato anterior, mas sem cláusulas apropriadas sobre reprodução artificial.
Em um novo documento, as propostas dos produtores não agradaram nem um pouco. Em entrevista para o Deadline, Duncan Crabtree-Ireland, que negocia pelo SAG-AFTRA, revelou que teve estúdio planejando até escanear o rosto de figurantes para usar “pela eternidade”.
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Assuperestrelas também estão entrando na greve, mas não serão elas as mais afetadas: atoresnão tão conhecidos, que recebem por diária,podem nunca mais conseguir um emprego. E não é só em Hollywood que essas pessoas estão apreensivas.
No Reino Unido, por exemplo, o sindicato de roteiristas listou as principais preocupações com o uso de IA generativas, como o ChatGPT. Seutrabalho pode ser explorado sem autorização, pode rolar a não identificação de onde o sistema foi usado, haver redução de vagas de trabalho e, por conseguinte, o não pagamento — sem falar na questão criativa.
Em entrevista à BBC britânica, a cineasta inglesa Justine Bateman disse que a tecnologia chegou para solucionar problemas. Mas a real é que não há escassez na indústria, pelo contrário: tem muita gente disposta a colocar a mão na massa. Só que o buraco é mais em baixo, ela bem lembra:a IA agrada aos estúdios por proporcionar maiores lucrose dar satisfação a investidores.
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A lógica por trás disso é simples, como acontece em diversos outros mercados. A IA será comprada uma veze não vai exigir melhores condições de trabalho ou aumentos salariais. Enquanto isso, o dinheiro economizado pode ser direcionado como faza Netflix, que adquiriu oito empresas de conteúdonos últimos seis anos, sendo metade no ano passado. Movimentoque deu bons resultados aos acionistas.
Alguns executivos da indústria, aliás, têm menos humanidade no coração do que os robôs. Uma parte deles chegou a concordar que só vai negociar quando os roteiristas"começarem a perder suas casas" — palavrasditas por uma fonte ao Deadline .
Enquanto esperam isso acontecer, o pessoal do alto escalão segue enchendo os bolsos. Bob Iger, CEO da Disney, por exemplo, renovou o contrato com a empresa do Mickey neste mês de julho até 2026,recebendo USD 27 milhões por ano, além de um bônus de até 500%.
Sem essa pressa de negociar, a greve poderia durar mais alguns meses. Estúdios e serviços de streaming como Warner Bros Discovery, Apple , Netflix, Amazon , Disney e Paramount acreditavam que, até outubro, os roteiristas, parados desde 2 de maio, estariam desesperados o suficiente parapressionar a liderança do WGA por um acordo.
Só que a previsão não considerava a entrada dos atores. Com isso, a expectativa é de que os ladosvoltem à mesa em poucas semanas. As produções de filmes e séries já estavam paradas, ou atrasadas. Sem atores, apenas filmes independentes são rodados.
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Mesmo que todo o imbróglio seja resolvido logo, nada será como antes – inclusive se considerarmos outras paralisações. E não estamos exagerando: há alguns anos havia programas com temporadas de 22 episódios, agora são várias centenas de shows simultâneos.
Em 2002, 182 séries foram lançadas.Corta para 2022, período que Hollywood bateu o recorde e chegou a 599 séries de TV veiculadas. Naquele momento, os roteiristas e atores tinham mais estabilidade e segurança. Agora, viraram trabalhadores itinerantes, dando mais uma justificativa à greve.
A primeira consequência é nas produções recentes, com várias atrasadas, incluindo indicadas ao Emmy, como The Lastof Us e Wednesday (Wandinha). Só que isso é só a pontinha do iceberg. Os atores decidiram que vão participar da promoção de filmesem turnês ou entrevistas, em um momento em que os estúdios ainda tentam se recuperar da pandemia da covid-19.
Enquanto isso, a gente parafraseia as palavras da Isabela Boscov: bora maneirar nas maratonas.
Não é má ideia maneirar nas maratonas: daqui a algum tempo vai rolar desabastecimento de novidades em filmes e séries americanos. A greve dos roteiristas de 2007-2008 causou um impacto imenso. Agora, com os atores junto...
Em tempo: as reivindicações são justíssimas. https://t.co/wPxyDMsR3d
Também não deve demorar muito para vermos por aí mais uso de IAs na geração de abertura de produções, como em Invasão Secreta. Os chatbots devem invadir ainda os processos de roteiros de alguma forma – a Globo mesmo anunciou que vai adotar a solução em algumas etapas, mas não espere bots escrevendo novela.
Fato é que o resultado parece de fato artificial, sem aquele toque humano. Convenhamos, é complicado um robô escrever uma história complexa como deFamília Soprano, Twin Peaks eSuccession.
Cada época tem sua revolução e Fran Drescher, protagonista de The Nannye presidente do SAG-AFTRA, quer firmeza para que os profissionais não sejam substituídos por máquinas. Pelo menos, por enquanto.
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