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Maldivas diverte ao entregar um Desesperate Housewives tropical (crítica)
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Maldivas diverte ao entregar um Desesperate Housewives tropical (crítica)

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Tecmundo
15/07/2022 22h00
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A princípio, a badalada Maldivas - série brasileira da Netflix cujo marketing tem sido construído pelo menos desde janeiro - não me chamou a atenção. Talvez isto tenha ocorrido pela presença de artistas como Bruna Marquezine e Manu Gavazzi, cuja fama tem mais a ver com o buzz que elas conseguem gerar na internet do que, efetivamente, pela qualidade dos seus trabalhos. Mas frente a alguns comentários positivos nas redes sociais, resolvi dar uma chance.

E fiz bem: já no primeiro episódio, dá para notar que Maldivas é bem diferente do que talvez sugira seu material de divulgação, que exibe mulheres lindas, ricas e coloridas, dando margem para que se imagine uma certa trama vazia. A primeira boa surpresa é que todo essa ambientação alegre tropical é, na verdade, uma espécie de deboche às posturas elitistas de uma classe média (que se julga alta) em algum lugar do Rio de Janeiro.

A segunda boa surpresa é que o texto é bom e a trama até que surpreende. A história, escrita e narrada por Natalia Klein (que faz Verônica, uma das atrizes centrais de Maldivas), é cheia de reviravoltas em cada episódio e consegue transitar bem entre a comédia e o suspense, em um bom equilíbrio entre os gêneros.

Mulheres (meio) ricas à beira da piscina

(Fonte: Netflix)(Fonte: Netflix)

A série se inicia contextualizando o espaço onde praticamente toda a trama irá se desenrolar: em um condomínio chamado Maldivas, localizado em algum lugar na Barra da Tijuca. Lá, aparentemente algumas mulheres (amigas ou rivais?) passam boa parte de seus dias desocupadas na piscina tomando seus bons drinks sem grandes preocupações.

As mais próximas são Milene (Manu Gavazzi), uma dona de casa neurótica pela aparência cuja única ocupação é ser síndica do Maldivas, Rayssa (Sheron Menezes), uma mulher exuberante que há quinze anos mantém um grupo de axé de sucesso com o marido, e que planeja expandir os seus negócios para um spa e Kat (Carol Castro), outra dona de casa, mãe de dois filhos gêmeos, e cujo marido está em prisão domiciliar por lavagem de dinheiro.

Na piscina, elas ainda convivem com Verônica, a quem chamam de “Mortícia”, pelos seus looks meio sombrios, e com uma mulher mais velha chamada Patrícia (Vanessa Gerbelli), que fingem tolerar, mas de quem falam mal a cada oportunidade que surge. Patrícia logo descobre alguns podres de cada uma das “amigas” e, misteriosamente, morre em um incêndio ocorrido no apartamento, levantando várias suspeitas: todas, a princípio, teriam razões para querer liquidá-la.

Mas esta não é exatamente uma série estilo whodunnit, ou seja, que gira em torno da descoberta de quem é o assassino. Há mais tramas por trás deste assassinato, e que envolvem a chegada de Liz (Bruna Marquezine), a filha de Patrícia, que foi afastada dela ainda criança e criada pela avó (Angela Vieira) em Goiás. Desesperada por conhecer a mãe, Liz chega até o Maldivas no exato dia de sua morte, e passa a atuar, de forma meio camuflada, na investigação sobre o crime.

Donas de casa desesperadas à brasileira

(Fonte: Netflix)(Fonte: Netflix)

Uma das grandes sacadas de Maldivas está na construção sutil do universo em que elas mulheres habitam. Elas são basicamente peruas que acreditam viver vidas maravilhosas dentro de um condomínio bem artificial e pouco realista (soar verossímil não é uma preocupação da série, assumidamente over). No local, tem bar sempre aberto, piscinas envoltas em coqueiros iluminados com neon, spa e palco para shows.

Por outro lado, quando os apartamentos são enquadrados do lado de dentro, parecem estranhamente simples e apertados em relação à suntuosidade daquele espaço. Fica bastante evidente que a vida luxuosa daquele grupo ocorre apenas na superfície, e que eles se julgam mais importantes e glamourosos do que são.

A referência mais óbvia da série, e já apontada em várias críticas, é a de Desperate Housewives, trama icônica da ABC, produzida entre 2004 e 2012, que fez muito sucesso ao explorar a ideia de que a fachada de lares americanos perfeitos escondia muita podridão, inclusive crimes. As donas de casa desesperadas do Maldivas têm algum comum com as americanas, embora elas tenham menos drama (no sentido de menos profundidade) que as “concorrentes”.

Da mesma forma que a série da ABC, um dos trunfos de Maldivas é conseguir trazer alguma surpresa ao fim de cada episódio. Tem algo que imaginávamos já saber que se desmente toda vez, trazendo uma expectativa de ver o próximo capítulo. Consequentemente, o espectador se sente incitado a ir até o fim.

Performances irregulares

(Fonte: Netflix)(Fonte: Netflix)

Maldivas aposta em um elenco estelar (para certos padrões), o que tem a ver com uma expectativa de repercussão em mídias sociais. Não obstante, há alguma irregularidade entre os atores – às vezes por conta de seus recursos, às vezes por conta do que eles tinham à disposição para explorar em seus personagens.

Manu Gavassi e Bruna Marquezine parecem, na minha visão, a ponta mais fraca do elenco. Manu, que faz a personagem mais fútil e criticável do grupo, está bastante caricaturada como sua Milene, uma mulher com duas fixações: as cirurgias plásticas e o interesse do marido. Ela está um tanto fora do tom do que conseguiria, de fato, tornar Milene uma personagem cômica.

Bruna, por outro lado, parece ter o problema contrário: ela parece estar sempre num mesmo tom, condizente com a sua figura midiática já explorada à exaustão, da linda moça meio ingênua meio sedutora que os homens não conseguem resistir. Infelizmente, sua Liz não consegue colocar novas nuances no seu repertório de atriz.

Já Carol Castro e Sheron Menezzes estão bem mais desenvoltas e têm tramas bem interessantes e divertidas ao lado de  seus maridos, o corrupto Gustavo (Guilherme Winter) e o muito "desenvolto" Cauã (Samuel Melo), com quem Rayssa mantém um relacionamento aberto.

Mas, em termos de performance, penso que as melhores entregas são da experiente Vanessa Gerbelli (que parece menos explorada na trama do que poderia) e da engraçada Natalia Klein – que, na verdade, é a cabeça da série toda e conseguiu guardar uma ótima personagem para si. A série é inteira narrada em off pela sua Mortícia/ Verônica - recurso que, embora às vezes pareça menosprezar o espectador pelo excesso de explicações, também carrega boa parte do humor de Maldivas.

Embora não faça jus a todo o buzz que a Netflix gerou em cima da série, Maldivas vale a pena ser conferida naqueles momentos em que procuramos uma série para não pensar (nem sofrer) muito.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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