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The Baby: série da HBO é uma metáfora sobre a vida das mulheres (crítica)
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The Baby: série da HBO é uma metáfora sobre a vida das mulheres (crítica)

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Tecmundo
21/07/2022 16h00
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Há uma discussão bastante frequente nestes dias que envolve o direito das mulheres de não desejarem a maternidade. Por todos os lugares, as taxas de natalidade estão em decadência, e cada vez mais mulheres fazem outros planos para si além do de ter filhos e gerenciar famílias. Neste contexto, um bom mote para uma história de terror é o de um bebê que simplesmente cai no colo de alguém e não há forma de se livrar dele.

Esta é, literalmente, a sinopse da minissérie The Baby, do HBO Max, cuja trama é desenvolvida ao longo de oito episódios curtos de meia hora cada. Acompanhamos a vida de Natasha (vivida pela atriz e modelo Michelle de Swarte), uma chef de cozinha de vida meio errante que, aos 38 anos, não parece ser uma pessoa muito agradável (mas, paradoxalmente, a personagem é bem carismática). Suas poucas amigas estão tendo filhos, e sua irmã está tentando adotar um com a companheira. Mas Natasha só consegue pensar em quando vai poder acender o próximo beck – o que não significa que ela seja exatamente feliz ou relaxada com o seu estilo de vida.

Mas tudo muda quando ela vai parar em um Airbnb alugado e um bebezinho de cerca de seis meses cai, literalmente, de um penhasco sobre seus braços (?). Em seguida, um corpo de uma mulher se estatela na sua frente. Aparentemente, a mãe do bebê se matou, e Natasha agora está atada a um bebê fofinho e sem nome que carrega uma maldição: todo mundo que está ligado a ele parece estar fadado à morte, das formas mais aleatórias possíveis. Simplesmente estar perto desta criança faz com que a pessoa tenha um fim trágico.

O mistério então passa a ser o de descobrir não simplesmente quem são os pais do bebê misterioso, mas qual é o segredo que ele carrega. O contrassenso é proposital: como pode uma criança tão indefesa ser capaz de causar tanto estrago? Fica claro que há algo de muito sombrio que deve estar atrelado à existência dele.

Uma alegoria sombria sobre a vida das mulheres

(Fonte: HBO Max)(Fonte: HBO Max)

Claramente, a premissa de The Baby não tem nada de realista. Na verdade, trata-se de uma grande alegoria à situação histórica das mulheres e às limitações de suas vidas – não necessariamente às causadas pelo nascimento de bebês. A criança aqui é como se fosse uma metáfora de um pesadelo coletivo, de todas as razões que, ao longo dos séculos, fizeram com que mulheres tivessem seus direitos violados, como se isso fosse normal ou até mesmo esperado a elas.

Mas olhando a partir do sentido literal, o bebê diabólico também simboliza o “poder” que a maternidade opera na vida de boa parte das mulheres, sendo capaz de “sugá-las” para dentro de uma realidade sem deixar espaço para muita coisa além dela. Muitas vezes, ter um bebê pode significar a destruição (involuntária) de tudo aquilo que está em volta da mãe, incluindo a sua noção sobre a sua individualidade.

No entanto, as respostas sobre quais são de fato as críticas sociais que The Baby está fazendo só começam a se esclarecer a partir do episódio 5 – ou seja, depois da metade da trama. Portanto, leva-se um bom tempo para que a trama pegue no tranco, o que pode fazer com que alguns espectadores desistam no meio do caminho.

Personagens conflitantes

(Fonte: HBO Max)(Fonte: HBO Max)

The Baby é uma série oscilante – nossa relação com ela tende a mudar de episódio a episódio. Às vezes, quando está mais arrastada, é difícil engajar na história. Mas noutros, é quase impossível escapar do drama de Natasha e das demais personagens que a circundam.

A mais interessante delas, sem dúvida, irá cruzar seu caminho mais ou menos na metade da série. Mrs. Eaves (vivida pela atriz Amira Ghazalla) é uma senhora meio sinistra que, de uma hora para a outra, aparece na casa de Natasha e parece conhecer mais segredos sobre o bebê – mas não está propensa a revelar a verdade rapidamente. Juntas, elas sairão numa espécie de cruzada em busca da dissolução da maldição.

Logo saberemos que Natasha e sua irmã Bobbi (Amber Grappy) têm mais coisas em seu passado que podem talvez trazer pistas sobre sua relação com a maternidade – a primeira, totalmente avessa à ideia de que as pessoas podem desejar ter filhos; já a irmã mais nova, que é quase uma hipnotizadora de bebês, está desesperada por ter um, mesmo que não haja reconhecimento de seus parentes nem das instituições do governo de que ela esteja pronta para isso.

Uma confusão entre gêneros

(Fonte: HBO Max)(Fonte: HBO Max)

Já esclarecemos que a premissa de The Baby é interessante, que a estrela (Michelle de Swarte) é cativante e que a alegoria sobre o feminino é precisa. Por que, então, The Baby parece não engatar – ou seja, não nos prende em um só fôlego do início ao fim?

Penso que a resposta a este questionamento pode estar na transição meio insegura que a série faz entre os gêneros. Com isto, quero dizer que a série se propõe como uma comédia de horror com toques dramáticos, mas não arranca muitas risadas, nem causa muito medo.

A sensação principal causada por The Baby certamente é a do desconforto paranoico de alguém que está em meio a uma situação desconfortável e indesejada, mas que não consegue se livrar dela – algo que todo mundo é capaz de se identificar. No fundo, Natasha, que beira os 40 anos, está sendo o tempo todo confrontada a crescer, pois mais que o desejo de permanecer a mesma pessoa (imatura, egocêntrica) seja sempre a alternativa que ela prefere.

Ou seja, ao fundo da trama sobre um bebê maldito (resquícios de O Bebê de Rosemary ou de A Profecia?), há uma discussão – não tão bem desenvolvida assim – sobre a transformação que a criação de um filho pode levar na vida de qualquer sujeito, seja homem ou mulher.

Bem adequada ao contexto pós-pandêmico, The Baby também traz uma boa articulação sobre como estamos todos cansados do que a vida “jogou” nos nossos colos – independente de sermos responsáveis por uma criança ou não.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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