The Quarry aprende com Until Dawn e dobra o terror
Tecmundo
Quando a Supermassive Games lançou Until Dawn em 2015, confesso ter batido uma certa dúvida se o game realmente seria assustador, principalmente pelo fato de seguir o estilo de uma narrativa interativa, mais semelhante a um filme do que aos modelos tradicionais de survival horror.
Obviamente, muitos sustos, gritos e momentos segurando o controle com extremo cuidado provaram que não havia motivos para preocupações, e logo me tornei fã de outros trabalhos da desenvolvedora, fazendo questão de jogar todas as histórias da antologia The Dark Pictures lançadas posteriormente.
Então, no momento que The Quarry foi anunciado como um sucessor espiritual de Until Dawn, apresentando ainda um elenco de peso – que inclui David Arquette da franquia Pânico e Lin Shaye de Sobrenatural – fiquei extremamente ansiosa para seu lançamento.
Mas será que esse novo game atende às expectativas dos amantes do terror? Bom, confira nossa análise para descobrir!
O que não te mata, te deixa mais forte (ou severamente ferido e traumatizado)
Ah, o fim da adolescência! Que época incrível para passar o verão trabalhando como conselheiro em um acampamento, se apaixonando e formando laços significativos com os seus colegas através do trauma de uma noite horrenda sendo perseguido por mortíferas criaturas sobrenaturais.
Bem, esse pode não ser o caso para muitas pessoas, mas com certeza é a realidade para os protagonistas em The Quarry, um grupo de sete adolescentes composto pela inocente Abigail, o piadista Dylan, a “blogueirinha” Emma, o atleta gente boa Jacob, a debochada Kaitlyn, o fofinho Nick e o misterioso Ryan.
Após dois meses trabalhando no acampamento Hackett's Quarry, eles estão prontos para voltar para os confortos da sociedade moderna, porém acabam presos no local por mais uma noite devido a um “probleminha” com o carro causado por Jacob em uma tentativa desesperada de reatar seu namoro com Emma.
Contrariando os pedidos do chefe Chris Hackett para ficarem quietinhos dentro da cabana principal, os jovens decidem aproveitar que não tem mais ninguém na área para fazer uma última festinha, e as coisas acabam indo de mal a pior quando monstros grotescos e estranhos caçadores surgem na floresta ao redor.
A partir daí, os adolescentes precisam lutar com garras e dentes para encontrar uma forma de sobreviver até o dia raiar, e descobrir o mistério ligado ao acampamento e seus donos.
A trama de The Quarry pode parecer a famosa premissa de muitos filmes de terror, mas não deixa de ser extremamente bem elaborada, e mais importante, cheia de gore. Cada pista descoberta ao longo da exploração ajuda a montar o quebra-cabeça do enredo macabro enfrentado pelos protagonistas, nos levando a um passo mais próximo da verdade.
Os personagens possuem personalidades bem diferentes, incluindo figuras femininas fortes e para lá de determinadas. Então, fica impossível não gostar dessa turminha adolescente e se preocupar se cada decisão tomada não irá acabar levando um deles a um fim trágico.
Outro detalhe interessante é que, assim como The Dark Pictures Anthology apresenta o Curador e suas dicas enigmáticas entre os capítulos, aqui temos a Cartomante, que oferece algumas informações e pequenos vislumbres do futuro conforme recebe as cartas de tarô encontradas ao longo do gameplay.
Em alguns momentos, achamos mais do que uma carta, e aí que está o problema. Só é possível ver a premonição de uma delas, trazendo um novo nível de nervosismo para selecionar a que parece a ideal para a situação, e aumentando ainda mais o valor de replay do jogo, afinal, e se você escolheu uma que não vai te ajudar muito?
E falando em repetição de jogatina, The Quarry possui diversos caminhos a serem escolhidos, com algumas pistas ficando para trás conforme suas decisões. Tudo isso garante diversos finais, que podem ser felizes ou muito amargos. Ou seja, vale a pena jogar várias vezes e descobrir tudo que o ele tem para te contar, principalmente por ser um jogo razoavelmente rápido, com cerca de 10 horas de duração.
Pense rápido e não respire
Para quem está familiarizado com o estilo de gameplay da desenvolvedora, não se surpreenderá com os famosos Eventos de Ação Rápida (EAR), momentos nos quais temos que pensar e agir com muita agilidade para ajudar um personagem a concluir uma ação com sucesso, e até mesmo continuar vivo.
A variações desses eventos são introduzidas através de cômicos tutoriais de acampamento, e diferente dos outros títulos da Supermassive, a mecânica é mais tranquila em The Quarry, com tempos maiores para acertar os comandos e utilizando principalmente os direcionais, com apenas momentos mais complexos apresentando mais botões.
Outro recurso do título é prender a respiração em momentos tensos e esperar o problema passar. Contudo, há um limite de quanto tempo os personagens conseguem se manter assim, então é preciso decidir com sabedoria o momento de segurar o fôlego para não acabar voltando a respirar bem na cara do perigo.
Para quem já ficou extremamente frustrado por errar um EAR em outros games que acabou levando ao fim de um personagem por um pequeno deslize, temos uma boa notícia! Quando um dos protagonistas morrer em uma situação que poderia ser evitada, o jogo pausa como se fosse uma antiga fita VHS, oferecendo a opção de gastar uma das três “vidas” disponíveis para refazer a cena.
Porém, mesmo assim é bom não confiar demais nesse recurso, afinal, temos dez capítulos e muitos jovens, então nada de relaxar no volante, hein?
Outro detalhe legal são os modos de jogos disponíveis. Assim como em Until Dawn, é possível jogar solo ou dividir a tensão com os amigos, e o Modo Filme dá a chance de curtir a jornada sem se preocupar, podendo escolher se todos sobrevivem, morrem, ou acompanhar a trama com a opção Cadeira do Diretor e definir comportamento específicos para ver como cada um vai reagir a momentos críticos ou mais tranquilos.
Nem tudo são flores
Por mais que seja muito interessante, The Quarry também não deixa de apresentar seus problemas. Em alguns momentos, o game trava ao trocar de cenas, repetindo diálogos em um verdadeiro efeito de disco riscado.
E por mais que os capítulos sejam bem interativos, com pistas e cartas para descobrir, o sétimo acaba se arrastando muito em cenas para explicar a história, ficando maçante e passando uma sensação de quase interminável.
Além disso, como mencionado acima, os EARs dão mais tempo para pensar e possuem comandos simples, e juntando isso com a chance de salvar personagens pelo menos três vezes, pode acabar tirando parte da tensão para algumas pessoas de agir rapidamente e não errar.
Vale a pena?
Mesmo com seus pequenos defeitos, The Quarry com certeza oferece uma jornada extremamente interessante para os amantes de um bom mistério. Seu enredo é bem elaborado, com pistas e informações reveladas aos poucos ao longo da exploração dos cenários permitindo juntar bem as peças do quebra-cabeça sobrenatural que envolve essa aventura.
Ele pode não ser um dos jogos mais aterrorizantes já feitos, mas ainda oferece muitos momentos de pura adrenalina, nos quais me encontrei tensa e rezando para não ter tomado a decisão errada e estragado as chances de sobrevivência dos personagens carismáticos.
Se você gostou de Until Dawn, vale muito a pena conferir este novo game da Supermassive e descobrir os segredos que um acampamento aparentemente inocente pode estar escondendo durante a noite.
The Quarry foi gentilmente cedido pela 2K para a realização desta análise.