A talentosa nadadora trans que é constante alvo de fake news
Aventuras Na História
Lia Catherine Thomas é uma atleta de natação dos Estados Unidos que alcançou grande destaque durante as competições nacionais universitárias de 2022, ficando em primeiro lugar na prova de 400 metros livres e entre as primeiras dez posições de outras duas categorias.
Seu sucesso esportivo chamou a atenção da população norte-americana, todavia, não apenas por se tratar de uma jovem nadadora demonstrando grande potencial, mas também pelo fato da estadunidense ser transexual, isso é, se identificar com um gênero diferente daquele que lhe foi determinado no momento que nasceu.
Nascida em um corpo masculino, Lia apenas compreendeu sua verdadeira identidade quando já estava na faculdade. Ela competiu na equipe masculina de natação durante os anos de 2017, 2018, 2019 e 2020, apenas integrando o time feminino em 2021 e 2022, após fazer sua transição através de tratamentos hormonais.
Lia Thomas com equipe feminina em 2022 / Crédito: Getty Images
O destaque alcançado pela estudante no esporte infelizmente fez com que fosse alvo de críticas por parte dos setores mais conservadores dos Estados Unidos. Frequentemente usando o argumento que a jovem teria vantagens físicas que lhe permitiriam sair na frente em relação às suas adversárias, diversas figuras da extrema-direita acusaram Catherine de estar criando condições injustas para outras atletas.
História
Nas temporadas de 2018 e 2019, Lia, que então ainda respondia pelo seu nome de nascimento, estava tendo os melhores desempenhos esportivos de sua vida, mas, apesar do sucesso dentro da piscina, sua saúde mental estava se deteriorando rapidamente.
Ela experienciava um sentimento de "desconexão" com seu próprio corpo, conforme explicou em entrevista ao Sports Illustrated em 2022, e, aos poucos, começou a entender que sofria com disforia de gênero.
Descobrir sua verdadeira identidade, todavia, ainda não seria o que ajudaria Catherine. Ela revelou ser transexual para a família, mas publicamente ainda vivia com o peso de um segredo que se tornava cada vez mais difícil de carregar.
Eu estava muito deprimida. Cheguei ao ponto de não conseguir ir à faculdade. Eu estava faltando nas aulas, meu horário de sono estava super bagunçado. Eu sabia naquele momento que precisava fazer algo para resolver isso", narrou ela ao veículo.
O início do tratamento de reposição hormonal ainda significaria uma perda de massa muscular e maior fatiga, que são algumas das consequências possíveis da ingestão de estrogênio, o hormônio feminino.
Quando se identificou como trans, portanto, Lia Thomas não estava tentando melhorar sua carreira na natação (algo do qual foi acusada durante 2022), muito pelo contrário, estava inclusive pronta para possivelmente precisar abandonar o esporte:
Fiz o tratamento hormonal sabendo e aceitando que talvez não voltasse a nadar. Eu estava apenas tentando viver minha vida", revelou ao Sports Illustrated.
Felizmente, a melhora de sua saúde mental lhe deu impulso para continuar treinando, mesmo que passasse por uma piora inicial em seu desempenho.
Lia Thomas nadando na temporada de 2022 / Crédito: Getty Images
Em 2019, ela já estava vivendo como uma mulher trans, porém ainda não havia recebido permissão para trocar para a equipe feminina, de forma que competiu com os rapazes, porém usando maiô.
Preconceito
As vitórias de Lia na natação durante a temporada de 2022 acabaram colocando-na nos holofotes, e, embora isso possa ter inspirado outros atletas transexuais a se aventurarem no mundo do esporte, também acabou atraindo atenção negativa por parte de pessoas preconceituosas.
Lia Thomas em imagem de entrevista / Crédito: Divulgação/ Youtube/ ESPN
Houve uma série de fake news cercando a nadadora. Uma delas diz respeito à sua conquista do 1° lugar na prova de 400 metros livres, em que, durante uma foto, é possível ver a segunda, terceira e quarta colocada reunidas a certa distância de Catherine.
A imagem acabou sendo tirada de contexto, usada como prova de uma suposta recusa das atletas de subir ao pódio em protesto à vitória da jovem transexual. Na verdade, elas só estavam tirando uma foto juntas antes de ocuparem seus lugares, conforme esclareceu uma delas, Erica Sullivan, em suas redes sociais após a mentira ter viralizado.
Outra fake news é que Lia Thomas era uma nadadora ruim quando competia contra homens, tendo apenas alcançado sucesso após nadar junto das mulheres. Na verdade, a estudante estava melhorando seus recordes pessoais a cada ano, tendo sido um dos destaques a representar sua faculdade nos campeonatos da Ivy League quando ainda não tomava hormônios. A informação foi repercutida pelo portal Best Swimming.
Também é mentira que a jovem transexual teria "tirado a bolsa esportiva" de outras atletas da natação, já que Catherine nunca usou esse recurso, conseguindo se habilitar para a entrada na instituição de ensino simplesmente devido às notas altas que obteve no colégio.
Em uma entrevista de 2022 ao programa de TV "Good Morning America", Lia ainda esclareceu que atletas trans não são uma ameaça aos títulos das atletas cis (isso é, que se identificam com o gênero normalmente associado com o corpo no qual nasceram):
Mulheres trans que competem em esportes femininos não ameaçam os esportes femininos como um todo. Mulheres trans são uma minoria muito pequena de todos os atletas. As regras da NCAA [Associação Atlética Universitária Nacional] sobre mulheres trans que competem em esportes femininos existem há mais de 10 anos. E não vimos nenhuma onda maciça de mulheres trans dominando", concluiu.