A trajetória do bisneto de Mussolini no time mais fascista da Itália
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Embora ainda tenha uma carreira curta no futebol, o lateral-direito Romano Floriani vem chamando a atenção na Itália. Com 20 anos, o atleta, que atualmente atua pela Lazio, já assinou contrato profissional até 2024, mas foi relacionado poucas vezes para o time principal.
Mas o que chama a atenção em Floriani, até o momento, não é sua habilidade com a bola nos pés, mas sim o passado de sua família e o quanto ela foi influente na Itália. Afinal, como o próprio nome completo do defensor sugere, Romano Benito Floriani Mussolini é descendente do ditador fascista Benito Mussolini.
Mussolini no futebol
Nascido em Roma, em 27 de janeiro de 2003, Romano Benito Floriani Mussolini é o terceiro filho de Mauro Floriani e Alessandra Mussolini (neta de Benito Mussolini e ex-membro do Parlamento Europeu pelo partido Forza Italia).
Floriani Mussolini fez as categorias de base na AS Roma até os 13 anos, quando se mudou para a Lazio, recorda matéria do Sky Sports. Os dois clubes da capital possuem uma das maiores rivalidades do país.
Do Biancocelesti, o defensor foi emprestado para a equipe amadora do Vigor Perconti em 2018. A transferência aconteceu, pois Floriani tinha poucas participações pela Lazio nos últimos dois anos e precisava manter o ritmo de jogo.
Na sua volta, acabou conquistando espaço e chegou a estrear pela equipe sub-17 da Lazio. Mas Floriani Mussolini ganhou destaque mesmo em 2021; em relações que pouco tem ligação com seu desempenho dentro das quatro linhas.
Conforme recorda o The Times, a torcida da Lazio é conhecida por sua associação ao fascismo — algo que será explicado mais abaixo —, e Floriani foi usado para inflar os adeptos da ideologia supremacista.
Quando questionado se o sobrenome do jogador limitaria seu tempo de jogo, o técnico de juniores da Lazio, Mauro Bianchessi, afirmou: "O sobrenome pesado? Nunca falei com seus pais e a única coisa que importa é se um jogador merece jogar. Nada mais", repercutiu o The Guardian.
Em entrevista ao jornal Il Messaggero, Floriani Mussolini declarou que gostaria de ser lembrado por seu desempenho em campo e não por seu sobrenome. "Aqui na Lazio, eu espero ser julgado apenas pelo futebol que apresento, e não porque meu sobrenome é Mussolini"
Em março daquele mesmo ano, Romano Benito Floriani Mussolini assinou seu primeiro contrato profissional com a equipe Biancocelesti até 2024. Em 24 de outubro, ele foi relacionado pela primeira vez para um jogo da Série A contra o Hellas Verona, mas não entrou em campo.
Atualmente, porém, ele defende a equipe sub-19 da Lazio e, na temporada 2022/23, segundo o Transfermarket, site de estatística de futebol, entrou em campo em 21 jogos, possuindo seis assistências para gols e sendo expulso em uma partida.
A Lazio e o fascismo
Embora Benito Mussolini fosse torcedor do Bologna, Il Duce adotou a Lazio como seu segundo clube. O ditador fascista, ao contrário do que acontece com outros déspotas, realmente tinha um apreço pelo futebol e sabia usar o esporte como ferramente política — um exemplo disso foi a Copa do Mundo de 1934, disputada na Itália e vencida pelo país sede.
Desde então, a Lazio virou um símbolo do neonazismo na terra da bota. Até hoje, seus aficionados protestam contra a contratação de jogadores negros ou de origem judaica, recorda matéria do UOL Esportes. A proibição da presença feminina nas arquibancadas mais próximas ao gramado também se tornou cultura entre os Biancocelesti.
Na Itália há também o fenômeno dos Ultras, nome dado as torcidas organizadas que possuem um histórico de violência fora das arquibancadas — mais ou menos como eram os hooligans na Inglaterra.
Os Irriducibili, como os Ultras da Lazio são chamados, despertam a antipatia de muitos ao ocuparem a Curva Nord do Estádio Olímpico, mas, ao mesmo tempo, se tornaram referência pelo país.
Segundo matéria da ESPN, a grife Irriducibili possui mais de dez lojas espalhadas pela capital, onde se vendem camisas, agasalhos e bonés da organizada. O valor arrecadado também é usado para propagar discursos políticos.
Um exemplo das atrocidades dos Irriducibili aconteceu na temporada 1998/1999, quando os Ultras da Lazio estenderam uma frase com a frase "Auschwitz vossa Pátria, os fornos nossa casa" em uma partida contra a Roma.
Já em 2005, o ex-atacante Paolo di Canio, que sempre foi assumido admirador das ideologias nazifascistas, comemorou um gol da vitória fazendo o Saluto Romano, gesto feito pelos fascistas em sinal de respeito a Benito.
Segundo a Agência EFE, em 2017, 16 torcedores da Ultra Irriducibili foram identificados por usarem fotos de Anne Frank com a camisa da Roma e com insultos antissemitas em partida contra o Cagliari.
Um dos episódios mais recentes aconteceu em 2021, quando o lateral albanês Hysaj foi contratado pela equipe. Acontece que em seu vídeo de apresentação, ele apareceu cantado Bella Ciao, hino da resistência antifascista do país. Como represália, a torcida estendeu faixas com os dizeres: "Hysaj Verme. A Lazio é fascista".