Cuca: “Temos que pagar, todos os envolvidos”, disse treinador a jornal após sair da prisão
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Em julho de 1987, o Grêmio fazia uma excursão pela Europa quando quatro atletas (Cuca, Eduardo, Fernando e Henrique) foram acusados de estuprarem uma menor de 13 anos. Os atletas ficam presos por cerca de um mês, mas conseguiram o direito de responderem o processo em liberdade.
O Escândalo de Berna, como o caso ficou conhecido, voltou a tona há pouco mais de uma semana, quando Cuca foi anunciado como técnico do Corinthians. Afinal, apesar de condenados, os atletas jamais cumpriram a pena — visto que a Justiça brasileira não extradita seus cidadãos.
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Cuca pediu para deixar o cargo de treinador do Timão após apenas dois jogos, ficando menos de sete dias no cargo. Embora sempre tenha negado o crime, em entrevista ao Jornal Zero Hora, em 31 de agosto de 1987, Cuca afirmou: “Temos que pagar, todos os envolvidos”.
As declarações
Ao jornal gaúcho, Cuca afirmou que nunca pensou que algo do tipo pudesse acontecer com ele, e que uma situação parecida jamais se repetiria. Cuca ainda relatou estar de braços abertos para qualquer decisão e que todos os envolvidos teriam que pagar.
Jamais pensei que uma coisa assim pudesse acontecer comigo. Não sei se foi ato infantil, um passo em falso, mas é difícil julgar os 50 dias em poucos minutos. Só posso garantir que isso nunca se repetirá.
A tensão e a angústia quase me mataram. Se tivesse que ficar preso, eu preferia morrer. Eu pensava na minha mulher, quase nunca dormia. Quando conseguia, acordava, passava a mão do lado e não encontrava a Rejane. Aí me batia o desespero.
Passei 10 dias sem falar nada e só me acalmava com injeções e sedativos. Cheguei ao desespero, cheguei a desacreditar em Deus, mas só podia falar com ele, por isso minha fé foi reafirmada. Foi um longo martírio de reflexão...
Tive medo de ficar traumatizado sem saber qual a reação das pessoas, dos torcedores, dos dirigentes. Estou de braços abertos para qualquer decisão. Temos que pagar, todos os envolvidos. Não adianta separar menor ou maior participação".
Henrique classificou o escândalo como uma brincadeira que terminou em pesadelo, relatou estar abalado psicologicamente com o tempo que ficou preso e que procurou conforto nas palavras de Deus.
"Não sei como classificar esse caso. Penso que foi uma espécie de brincadeira que terminou como um pesadelo. Eu não podia imaginar as consequências, mas quanto estava na prisão em Berna, sozinho num espaço de três metros por dois, com apenas uma janelinha para o corredor, pensei muito.
Perdi peso, estou um bagaço fisicamente, mas acho que vou me recuperar. Eu lia muito. Não cheguei a fazer promessa, mas peguei uma bíblia que o Silas [ex-colega de seleção de base] e li muito. Foram longas horas de reflexão e a palavra de Deus, que eu havia abandonado, me manteve psicologicamente com resistência".
Já Eduardo disse que passou um dos piores momentos de sua vida ao ficar preso em uma cela de dois pro três metros, além de relatar ter falado poucas vezes e que desmaiou ao tirar sangue.
Esse fato mudou toda minha vida. Amadureci muito e nunca serei o mesmo... Naquela cela de dois por três metros com uma pia, vaso e cama, passei os piores momentos da minha vida.
Eu estava sozinho, não falava com ninguém, nem saía, só para falar com advogados, uma única vez vi outros presos. Eu estava tenso e angustiado. Duas vezes que me tiraram sangue, senti formigamento e caí desmaiado. Tinha vontade de berrar, gritar, mas isso poderia me prejudicar, então passei a escrever.
Depois de quatro dias comecei a escrever, e escrevi muito. Chorava toda hora que pensava como meus pais estavam em Porto Alegre. Sei que falhamos, mas somos humanos. Pensei muito no prejuízo que causamos ao Grêmio e aos companheiros neste sentido psicológico. O conselho que dou a um atleta jovem é: pense muito na vida antes de fazer algo que possa ser errado".
Por fim, Fernando mostrou incerteza sobre seu futuro no clube gaúcho, mas que aceitaria qualquer decisão que, por pior que fosse, jamais se compararia à prisão — onde se sentiu solitário e tampouco se alimentou.
"Nunca vou esquecer o que passei na prisão da Suíça. Não tenho ideia do que o Grêmio vai fazer comigo, e o que decidir, vou aceitar. Mas tenho certeza que nada pode ser pior do que ser preso...
Nos primeiros dias não comi. Nunca fui espancado ou maltratado pela polícia, mas era uma solidão... Eu chorava muito, dormia mal e só uma vez vi o sol. Apesar de ser um sujeito alegre e saber que não havia feito nada grave, cheguei a ficar desesperado e com medo de nunca sair dali.
Sei que todo o Brasil soube do caso e espero que isso não prejudique minha carreira. Agora é aguentar essa barra".