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Quando 'O Diário de Anne Frank' foi lido antes de partidas do futebol italiano
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Quando 'O Diário de Anne Frank' foi lido antes de partidas do futebol italiano

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Aventuras Na História
21/05/2023 03h00
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©Getty Images
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Anne Frank tem uma sutileza na escrita que encanta. A riqueza de seus registros sobre um dos períodos mais bárbaros da história da Humanidade gera empatia, alteridade, reflexão…

O Diário de Anne Frank ajudou a personificar uma tragédia que até então era apenas massificada. Segundo estima a Enciclopédia do Holocausto, do United States Holocaust Memorial Museum (USHMM), cerca de 6 milhões de judeus foram mortos durante a Segunda Guerra Mundial. 

Anne se transformou no rosto das vítimas. Deu voz aos esquecidos. Eternizou o que jamais deve ser ignorado. A mais pura representação da juventude que só queria descobrir o mundo, enquanto ainda tinha enormes dúvidas sobre seu próprio ser. 

Páginas do diário de Anne Frank / Crédito: Getty Images

 

Apesar da importância de sua figura, e da luta que ela representa ainda hoje, fascistas travestidos de torcedores usaram a imagem da jovem judia para propagar mensagens antissemitas em 2017. 

Lazio, fascismo, Mussolini e o futebol 

Em 22 de outubro de 2017, Lazio e Cagliari se enfrentaram no Estádio Olímpico de Roma pela Série A do Campeonato Italiana. A vitória por 3x0 dos Biancocelesti, porém, foi marcada por um ato deplorável nas arquibancadas. 

Na ocasião, os Irriducibili, como são conhecidos os Ultras da Lazio — nome dado à torcida organizada que possuí um histórico de violência fora das arquibancadas —, espalharam cartazes com a foto de Anne Frank usando a camisa da Roma (rival histórico da Lazio) e frases antissemitas. 

Anne Frank com a camisa da Roma/ Crédito: Reprodução/ Redes Sociais

 

A ligação dos Biancocelesti remete aos tempos em que Benito Mussolini esteve no poder. Embora Il Duce tenha sido torcedor do Bologna, o líder fascista adotou a Lazio como seu segundo time. 

A equipe romana virou símbolo do neonazismo no país, com seus aficionados, até os dias atuais, propagando mensagens de ódio nas arquibancadas, como a vez que os Irriducibili levaram faixas como a frase: "Auschwitz vossa Pátria, os fornos nossa casa"

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‘Auschwitz is your homeland, the ovens are your homes’
Banner displayed by Lazio ultras against Roma, a club who historically had a large Jewish fanbase pic.twitter.com/ResdEayhpx

July 13, 2021

Homenagem para Anne

Na partida seguinte ao lamentável episódio, na quarta-feira, 25 de outubro, a Lazio enfrentou justamente o Bologna. Agora longe dos seus domínios. Em partida realizada no estádio Renato Dall'Ara, os jogadores da equipe romana entraram com camisas estampando a foto de Anne Frank e frases contra o antissemitismo. 

Para aquela rodada, a federação de futebol italiana determinou que um trecho de O Diário de Anne Frank fosse lido em todos os jogos do país — da primeira até a terceira divisão — seguido por um minuto de silêncio "para condenar os episódios recentes de antissemitismo e para continuar a lembrar o Holocausto".

Eu vejo o mundo lentamente se transformando em selvageria; eu escuto o aproximar de um trovão que, um dia, vai nos destruir também. Eu sinto o sofrimento de milhões. E ainda, quando eu olho para o alto no céu, de alguma forma eu sinto que tudo vai mudar para melhor, que essa crueldade também vai acabar, que a paz e a tranquilidade vai retornar mais uma vez", dizia o trecho lido nos alto-falantes dos estádios.

Mas a maioria dos torcedores da Lazio boicotaram a partida. Os Ultras que entraram no estádio, além disso, fizeram questão de protestar quando o trecho soava. "Ne me frego" ('Eu não ligo', em tradução livre) cantavam nas arquibancadas. 

Claudio Lotito, presidente da Lazio, também tentou contornar o assunto. Na segunda-feira seguinte ao jogo contra o Cagliari, ele visitou uma sinagoga em Roma e anunciou que tinha a intenção de levar 200 torcedores Biancocelesti por ano para visitar Auschwitz

O episódio mais recente envolvendo a Lazio aconteceu em 2021, quando o lateral albanês Hysaj foi contratado. Em seu vídeo de apresentação, porém, o atleta apareceu cantando Bella Ciao, hino da resistência antifascista italiana. Como resposta, a torcida estendeu faixas com os dizeres: "Hysaj Verme. A Lazio é fascista".

O Diário de Anne Frank 

Nascida em 12 de junho de 1929, Annelies Marie Frank ganhou seu diário, apelidado de Kitty, quando completou 13 anos. Entre 12 de junho de 1942 e 1º de agosto de 1944, a jovem judia relatou o cotidiano de sua família e outros judeus perseguidos pelo exército alemão enquanto se escondiam em um anexo secreto junto ao escritório de seu pai, em Amsterdã. 

Com registros sobre seus medos, breves momentos de alegrias, descobertas sobre a vida e inúmeros sentimentos, Anne Frank cativou os leitores ao apresentar o autorretrato de uma jovem sensível e sonhadora, mas determinada e corajosa. Embora tenha sido uma das vítimas do Holocausto, ainda assim conseguiu realizar sonhos e ter sua figura eternizada.

Quero ser útil ou trazer alegria a todas as pessoas, mesmo àquelas que jamais conheci. Quero continuar vivendo depois da morte! E é por isso que agradeço tanto a Deus por ter me dado esse dom, que posso usar para me desenvolver e para expressar tudo o que existe dentro de mim", registrou em passagem de seu diário. 
Páginas do diário de Anne Frank / Crédito: Getty Images

 

Lançado em 1947, o Diário de Anne Frank é um dos livros mais vendidos do mundo: cerca de 30 milhões de cópias, que foram adaptadas em 70 idiomas diferentes.

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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