Marcelo Mariano vira alvo no Corinthians e contrata empresa que pode causar interdição de clube e Arena
Gazeta Esportiva
Marcelo Mariano se tornou “braço direito” de Augusto Melo pela influência e relação junto ao presidente do Corinthians. Diretor administrativo do clube, Marcelinho, como é conhecido, na verdade, atua em diversas frentes e recebe poderes internos de decisão em mais setores. A ingerência causada por ele, com apoio e respaldo de Augusto, gera atritos internos com outros membros da diretoria – por isso, aliás, alguns deixaram a gestão recentemente – e faz também com que o seu nome se torne alvo dentro do Parque São Jorge. A reportagem da Gazeta Esportiva apurou que Marcelinho pode ser levado ao Conselho Deliberativo em breve sob a suspeita de cometer eventuais atos de improbidade, desonestidade administrativa.
Um dos atos que deve ser averiguado pelo CD é o caso que está sendo investigado pela Polícia Civil de São Paulo, sobre os pagamentos à empresa que supostamente fez a intermediação do contrato do clube com a VaideBet e que supostamente enviou valores a uma empresa fantasma na sequência.
Em março, durante uma viagem de Rozallah Santoro, então diretor financeiro, Marcelinho, sem consultar o líder da área, foi ao departamento responsável pela execução dos pagamentos e ordenou que a empresa Rede Social Media Design LTDA, a intermediária do acordo com a VaideBet, recebesse o montante de R$ 1,4 milhão, valor referente a uma nota fiscal de R$ 700 mil e outra de R$ 1,4 milhão, mas que teve o valor considerado pela metade por causa a uma cobrança indevida naquele documento.
Os valores foram pagos pelo clube nos dias 18 e 21 de março, conforme determinou Marcelinho, mesmo sem qualquer autonomia sobre os departamentos financeiro, jurídico e de marketing, os envolvidos nesta operação com a VaideBet.
“A justificativa que ele deu foi que a empresa emitiu as notas e a empresa pagou o imposto sobre aquelas notas, então, a empresa precisava receber o dinheiro, pois ela tinha a despesa com o imposto destas notas. Essa foi a justificativa apresentada por ele”, relata Armando Mendonça, vice-presidente do Corinthians e advogado.
O argumento de Marcelinho, relatado por Armando, não se equipara com a realidade da empresa receptora dos valores. A Gazeta Esportiva consultou a Receita Federal e obteve o documento que comprova que a empresa não está com os impostos em dia e, por isso, não tem posse da Certidão Negativa de Débito oferecida pelo governo àqueles que ficam em situação adimplente. O pagamento ou não dos impostos das notas citadas, portanto, não causaria diferença, além de não ser de preocupação ou responsabilidade do clube.
CALOTE E COBRANÇA
Diferentemente da atenção dada ao intermediário do patrocínio, Marcelo Mariano ignorou prestadores de serviço do clube, justamente a área que lhe compete administrativamente.
Um dos exemplos é a empresa Verssat Segurança LTDA, que não recebeu nenhum pagamento em 2024, desde que a gestão Augusto Melo assumiu o poder, mesmo sem deixar de prestar o serviço. O proprietário, Anderson Dantas, também responde pela empresa de limpeza que exercia trabalho no Parque São Jorge e na Neo Química Arena.
“Em maio, eles rescindiram o nosso contrato. Estamos há cinco meses sem receber. Essa gestão nunca me pagou, só recebemos até o fim de 2023. E estamos pagando imposto, benefícios, salários, tudo em dia aos nossos funcionários. Então, isso me deixa numa situação complicada”, explica Dantas, em entrevista à Gazeta Esportiva.
O valor devido pelo Corinthians às empresas de limpeza e segurança de Anderson Dantas já superou os R$ 2,6 milhões, sem contar o acréscimo de juros pelos atrasos. Se não resolver esta pendência até o fim do mês de junho, o clube terá a cobrança executada na Justiça.
“Eu vou acionar o jurídico, infelizmente, porque ninguém me deu retorno. Não queria chegar a esse ponto, porque, apesar de tudo, sou corintiano, morei em Itaquera por muitos anos, não queria fazer isso. Mas, infelizmente, vou ter acionar o jurídico e pedir para entrar com processo de cobrança”, avisa Dantas.
“Nunca chegou a esse ponto de atrasar quatro, cinco meses. Lá, sempre me pagaram. Às vezes, atrasava um mês, mas logo pagavam e tinha um relacionamento, sempre me atendiam, tanto na Arena quanto no Parque São Jorge, eles também entravam em contato. Nunca foi assim”.
À reportagem teve acesso a mensagem, e-mail e notificação enviadas pela empresa ao Corinthians a fim de buscar uma solução. Anderson Dantas ofereceu o parcelamento da dívida e até mesmo o uso de um camarote na Neo Química Arena para abatimento do valor em atraso. Em vão.
“Eles me mandaram uma carta de rescisão, não entendi o motivo, não me chamaram para conversar, também não falaram sobre os valores que estão abertos, simplesmente mandaram a rescisão, colocaram outra empresa lá e, até hoje, não me deram retorno nenhum”.
“Entrou a nova gestão e ninguém me procurou. Eu fui lá ver o que estava acontecendo referente aos pagamentos, que não estavam sendo feitos. Dia 11 de abril, falei com o Marcelinho, mas ele me disse que não poderia fazer nada por mim e pela minha empresa. Depois disso, nunca mais tive contato com ninguém”.
O empresário também reclama do assédio sofrido pelos seus funcionários em meio a troca de empresas feita pelo clube.
“Enquanto a gente estava lá cumprindo o aviso de 30 dias, apareceu a empresa nova para fazer o mesmo serviço e começaram a falar para os nossos funcionários que não ficaríamos, orientando eles a passar para lá. Com isso, vieram vários funcionários pedir demissão. Eu tive que repor o pessoal, acabou me gerando um grande prejuízo. A gente gastava com uniforme, exame médico, treinamento, contratava e, no outro dia, pediam demissão. Perdemos cerca de 30 funcionários. No Parque, eram 36 funcionários na limpeza e 23 na parte da segurança. E, na Arena, eram 54 funcionários da limpeza”.
AUMENTO DE DESPESA
Além de não pagar os últimos cinco meses de serviços prestados pelas empresas de Anderson Dantas, o Corinthians elevou as despesas mediante a contratação de novas empresas.
Em abril, por exemplo, a nota fiscal emitida pela Verssat, apenas pelo trabalho de segurança, foi de R$ 176.8 mil.
A Workserv Serviços Terceirizados, nova empresa contratada pelo clube para o serviço de segurança e que garimpou muitos dos funcionários da Verssat, emitiu uma nota de R$ 353.9 mil pelo trabalho feito no mesmo mês de abril.
Os sócios e administradores da Workserv são Patrícia Nunes de Oliveira e Alvaro José Moreira de Assis.
Ainda houve a contratação da empresa RF Segurança LTDA para cuidar da segurança do campo da Neo Química Arena. O valor da nota emitida em maio foi de R$ 21.6 mil.
EMPRESA SEM CNAE
A Gazeta Esportiva teve acesso à certidão de constituição da empresa Workserv Serviços Terceirizados na Junta Comercial do Estado de São Paulo. O documento evidencia a ausência do Cnae (Classificação Nacional de Atividades Econômicas) adequado para serviços de segurança.
O Cnae é um código controlado pelo Governo e utilizado para identificar quais são as atividades econômicas exercidas por uma empresa. Ele determina questões e valores sobre tributação, impostos e faixa de faturamento, por exemplo. Uma atividade exercida por qualquer empresa sem que o Cnae informado esteja compatível, torna a empresa irregular sob olhos do fisco, impede a emissão de notas fiscais, pode gerar cobranças indevidas, multas e, em muitos casos, abre a possibilidade e investigação sobre o crime de sonegação de impostos. Essa prática costuma ser alertada pelos compliances com “bandeira vermelha”.
A Workserv Serviços Terceirizados também não tem a necessária autorização da Polícia Federal para prestar serviços de segurança e vigilância patrimonial.
Isso significa que a qualquer momento, caso a fiscalização das autoridades seja feita no clube, o Corinthians pode sofrer a interdição de todo e qualquer local em que a Workserv esteja prestando serviço por acusação de ter uma “empresa clandestina” na função. Este eventual desdobramento pode, sim, fazer com que a Neo Química Arena seja interditada em dias de jogos, a não ser que o clube coloque uma empresa regularizada para prestar o serviço no local.
PODER E INGERÊNCIA
A força de Marcelo Mariano nos bastidores do Corinthians é tão perceptível quanto o incômodo que ela causa entre membros da diretoria, que alegam sofrer ingerência com frequência. Já se indispuseram com Marcelinho alguns dos nomes fortes da gestão Augusto Melo, como: Rozallah Santoro, Yun Ki Lee, Rubens Gomes, o Rubão, Vagner Vilaron e Armando Mendonça. Por outro lado, Marcelinho sempre foi muito próximo e fiel a Sérgio Moura, superintendente de marketing que está licenciado do cargo.
Apesar de ser o responsável pelo departamento administrativo, Marcelinho já teve voz ativa em reuniões com a Ernst & Young, inclusive foi crucial para barrar algumas das sugestões da empresa. Ele também foi consultado sobre a precificação dos valores dos ingressos dos jogos, participou de reuniões com a Nike, foi o responsável por comunicar a demissão de Vagner Vilaron, então superintendente de comunicação, e teve participação efetiva junto a VaideBet.
No contato com a ex-patrocinadora máster do time, Marcelinho foi o responsável pela recente reunião que tinha o objetivo de evitar a ruptura. Foi ele também quem ordenou os pagamentos ao intermediário do negócio. E, durante o anúncio oficial da parceria, Marcelinho foi um dos citados por Sérgio Moura como responsável pela leitura “de cada cláusula do contrato”.
O QUE FAZ?
No Linkedin, Marcelo Mariano se diz um profissional autônomo de plástico e um dos administradores da Paxon, empresa paulistana do ramo varejista de equipamentos eletrônicos.
SILÊNCIO
A Gazeta Esportiva entrou em contato com o Corinthians em busca de esclarecimentos e abertura de espaço, e fez questionamentos sobre todos os assuntos abordados nesta matéria. No entanto, o clube não enviou nenhuma resposta até a publicação desta matéria. Caso o faça, o texto será devidamente atualizado.