Os Times da Empresa Vale do Rio Doce
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Em fevereiro de 1902 o Governo Federal concedeu, através de um decreto-lei, a criação da Companhia Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), empresa que teria a responsabilidade de construir uma ferrovia ligando a capital capixaba, Vitória, a cidade mineira de Peçanha, cujo intuito principal seria o de escoar café e madeira ao litoral. O primeiro trecho, até Diamantina, continha 30 km de extensão e foi inaugurado em 13 de maio de 1904.
Com o anúncio da presença de grandes jazidas ricas em minério de ferro na região de Itabira, Minas Gerais, a partir de 1909 vários grupos de investidores ingleses passaram a adquirir extensas porções de terras. Com a criação da Brazilian Hematite Syndicate (BHS), empresa que visava a explorá-las e a posterior aquisição, do controle acionário da EFVM, o trajeto da estrada de ferro passou a se dirigir rumo à zona ferrífera.
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Em 1911, o empresário norte americano, Percival Farquhar adquiriu todas as ações da BHS, transformando-a na Itabira Iron Ore Company (IIOC), empresa formada em sua maioria por ex-funcionários da EFVM e que foi a primeira a ser devidamente autorizada a explorar a região, por conta com decreto nº 8.787, de 16 de junho daquele ano.
Embora houvesse alguma oposição por parte daqueles que defendiam ser o minério brasileiro uma riqueza a ser guardada pelo país, até 1918, a IOCC conseguiu fazer a exploração sem que houvesse quaisquer problemas. No entanto, outra questão, desta vez de cunho econômico, passou a ganhar relevância, por conta do desenvolvimento da indústria nacional, a partir da Primeira Guerra Mundial, o que fez com que os produtos siderúrgicos adquirissem grande importância.
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Estes movimentos acabaram por provocar a promulgação do Decreto-Lei nº 4.352, de 1º de junho de 1942, que transferiu de volta ao governo brasileiro a posse de todas as jazidas, ao mesmo tempo em que criou a empresa Companhia Vale do Rio Doce, que além das minas, passou a ser dona também da Estrada de Ferro Vitória-Minas.
Não demorou muitos para que os funcionários da nova empresa, logo resgatassem um antigo habito dos tempos dos ferroviários ingleses que trabalharam na região no começo do século XX, jogar futebol. Ainda em 1942, no dia 22 de novembro, na cidade mineira de Itabira, alguns moradores que trabalhavam na empresa resolveram criar o Valeriodoce Esporte Clube.
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No ano seguinte, em 1943, funcionários dos escritórios fundaram a Associação Atlética Vale do Rio Doce, a Vale, como passou a ser conhecida. Logo, em 10 de agosto de 1945, os trabalhadores do setor de transporte da empresa também criariam o seu time, o Ferroviário Sport Club. Já em 1° de novembro de 1951, foi a vez dos funcionários das oficinas da CVRD, em Itacibá, Cariacica, fundarem o Esporte Clube Guarany. Por fim, em 11 de agosto de 1957, na cidade de Porto de Santana, foi criada a Associação Atlética Cauê.
Embora fossem formadas por seus funcionários, a quem cabiam a responsabilidade de adquirir uniformes e locais para treinar e jogar, a CVRD costumava contribuir com cada uma das equipes, sem que houvesse, no entanto, qualquer contrato formal em vigência com qualquer uma delas. Com o tempo, no entanto, algumas delas começaram a demonstrar interesse em participar dos campeonatos estaduais de futebol, como foram os casos da Vale, que chegou a ser vice-campeã estadual em 1948, e do Ferroviário, que também chegou às finais em 1959.
Uma das formas que os “donos” das equipes passaram a considerar para contratar melhores jogadores foi o de oferecer emprego na CVRD, o que logo começou a ser visto como um problema. Aliado a isso, notou-se que o clima de rivalidade entre as equipes, sobretudo quando se enfrentavam, costumava provocar um ambiente não muito propicio na organização, chegando a alguns de seus atletas a acusarem a própria empresa de fazer diferenças nas contribuições financeiras, voluntárias, que costumava fazer.
Por conta disso, em 2 de janeiro de 1963, Lino dos Santos Gomes, assessor da Diretoria de Operações da CVRD foi incumbido com a missão de promover a fusão entre as equipes. Após muitas reuniões e discussões, em 17 de junho, foi aprovada a fusão de todas as equipes capixabas na Associação Desportiva Ferroviária Vale do Rio Doce.
Como forma de incentivar a união, a CVRD prometeu construir um estádio para uso do clube em regime de comodato, modelo que previa o uso temporário, para posterior restituição. A inauguração do Estádio Engenheiro Alencar Araripe, nome em homenagem a um ex-diretor da CVRD, com capacidade para mais de 30 mil torcedores aconteceu em 16 de janeiro de 1966.
Tendo boa parte de suas as despesas bancadas pela CVRD e com o seu conselho deliberativo formado em sua grande maioria for funcionários da empresa, a Desportiva passou a ter como presidentes, engenheiros que trabalhavam na Vale. O clube ainda contava com contribuições mensais, descontadas em folha de pagamento, por parte de milhares de funcionários da empresa.
Por conta disso logo a Desportiva passou a ser considerado “o primo rico” do futebol capixaba, fazendo frente ao tradicional Rio Branco, fundado 50 anos antes, em 21 de junho de 1913. A verdade, no entanto, é que havia muito pouco controle sobre os investimentos feitos pela companhia junto ao clube, uma vez que muitas vezes estes valores eram mascarados como outras despesas.
Esta situação começou a mudar a partir de julho de 1982, quando por determinação do governo federal houve o congelamento da verba destinada ao clube. A partir daí notou-se uma drástica redução do apoio financeiro da Vale o que resultaria na escolha, ao final de 1988, de um nome não indicado pela empresa, para ser o presidente do clube. O pior ainda estaria por vir.
Em 14 de julho de 1996, a Desportiva conquistou o seu decimo quinto título estadual ao empatar em seu estádio, por 1 a 1 com o Linhares. Naquele dia, poucos torcedores poderiam acreditar estar vivendo um dos últimos momentos de uma era única da história do clube. No dia 6 de maio de 1997, durante o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, a CVRD foi privatizada, ao ter seu controle acionário transferido para o consórcio Brasil, liderado pela Companhia Siderúrgica Nacional, a CSN.
Privatizada, um das primeiras ações da CVRD foi a de retirar todo seu apoio financeiro ao clube e solicitar a devolução do estádio. Foi necessária a mobilização de lideranças politicas locais para que a Desportiva conseguisse passar a ter a posse do estádio, tendo como justificativa o fato da empresa ter se apropriado de alguns terrenos pertencentes aos clubes, que em 1963, tinham se fundido para dar origem a Desportiva.
Ainda assim, desde então, o clube passou a viver com uma nova realidade, a falta de dinheiro. Formando times bem mais fracos, passou a ser um rascunho da grande equipe que fora no passado, chegando até mesmo a ser rebaixada para a segunda divisão do campeonato estadual. Situação similar também passou a viver, o outro clube que era mantido pela CVRD, o Valeriodoce Esporte Clube, filiado a federação mineira de futebol.