Resumão da Semana: Crianças na Deep Web*

33giga






Assim como a beleza está nos olhos de quem a vê, feiura só pode ser considerada um caso muito sério.
Há muitos anos, quando ainda existiam revistas, eu trabalhava em uma. À época, era repórter ou coisa parecida.
Em alguma das edições, lembro de ter entrevistado por telefone uma pessoa e recebi, na sequência, a foto dela para ilustrar a reportagem. Nem olhei direito e já a enviei à diretora de arte da revista (vamos chamá-la de Orestes, para facilitar a compreensão da história).
Mais tarde, ela usaria a imagem do cidadão para diagramar a página.
Horas depois, fui ver se a página estava pronta. Encontrei Orestes chorando, sentada sobre uma pedra.
A página estava pronta, mas ela chorava por conta da feiura do sujeito da foto. Estava emocionada. Tentei acalmá-la e foi em vão. O caboclo era muito feio mesmo. Choramos juntos, sentados sobre uma pedra e pensando sobre as belezas da vida.
https://youtube.com/shorts/6fOpN54LH7c?si=lzbYsIq-sdBJ_fNP
Aqui, é importante informar que estamos de cadeira para avaliar (e chorar) pela feiura alheia. À época, Orestes parecia – e muito – o Quércia. Eu, o Vovô Simpson (minha esposa, o Biro Biro, mas não quero falar sobre isso e não vem bem ao caso no momento. Vou me ater a questões profissionais).
O fato é que temos lugar de fala.
Anos depois, aconteceu algo semelhante na mesma revista. Chegou a foto de outro entrevistado, mandei para outro diretor de arte – o qual vamos chamar de Robinson, para facilitar a compreensão.
Quando Robinson me enviou a página diagramada, ela veio sem a foto. Só havia um espaço reservado em branco. O diálogo que se seguiu foi mais ou menos o abaixo.
– Quidê o caralho da foto?
– Era sério?
– Era sério o quê?
– Era para usar aquela foto?
– Ué, é o entrevistado. Precisa entrar na página.
– Ah, achei que era zueira.
– Zueira o quê?
– A foto.
– Que foto?
– Do entrevistado
– Jesus. E por que seria?
– Você viu?
– Vi mais ou menos.
– E?
– E o quê?
– A pessoa na foto parece um personagem do Senhor dos Anéis.
– Qual?
– Todos.
– Como é? Deixa eu ver.
– Ó.
– MAMÃE!
– Uso?
– Usa.
– Sério mesmo?
Bom, era sério. Um caso sério.
Esse outro diretor de arte também tem lugar de fala quando o assunto é boniteza. Ele era – e ainda é, importante dizer – idêntico ao Robinson Anjo do Raul Gil. (E, sim, o RH da editora dessa revista compactuava com a expressão “não é só mais um rostão bonito”.)
MICHAEL PHELPS OF BEING SICK
Eu comecei a falar de feiura porque um assunto que me fascina é a feiura em crianças. Tenho um amigo que diz que ele próprio é uma espécie de pára-raios para isso, especialmente em lugares públicos.
Se ele está em um restaurante, na mesa ao lado senta uma criança feia e sorri a ele (tornando-a ainda mais peculiar). Em cinema, sempre que olha para a cadeira mais próxima, no meio do escuro, costuma levar um susto com um pequeno brilhante carinhosamente lhe mostrando os dentes.
A vida dele, aparentemente, é um jardim da infância repleto de bebês reborn ou aquela turma da Colheita Maldita. Se um dia tiver filho, é capaz de ser com a Rosemary, aí já nasce com aqueles olhos lindos, com rabinho, com o supremo, com tudo.
(Creio que não preciso dizer que esse amigo também é autoridade no assunto beleza. Quando criança, parecia o Frank Poncherello, do seriado Chips, com barba por fazer, com tudo. Agora que é adulto, lembra, e muito, o mesmo Poncherello, mas com cara de criança, roupa de criança – e sem barba.)
IMAGEM MERAMENTE ILUSTRATIVA
O fato é que vai feiura, vem feiura e nada vai superar a do Bolsonaro criança. Depois de anos de ter visto aquela imagem, ainda hoje, acordo no meio da madrugada pensando em quão bonito ele era e como se tornou um adulto formoso.
Com certeza, se na época da foto existisse Deep Web, ela ganharia alguma espécie de prêmio. E o mini Bolsonaro seria agraciado com um almoço em algum lugar especial, com leite condensado e farelo de pão francês à vontade – e exatamente ao lado do meu amigo Poncherello, para o terror de ambos.
VALE DO RIBEIRA HORROR STORY
(Ah, sim. E ontem aparentemente e finalmente conseguiram intimar o Bolsonaro, que estava se escondendo em um hospital e fazendo live vendendo bugiganga. Ao ver a transmissão, o STF autorizou a uma oficial de justiça entrar na UTI e entregar o documento para ele assinar em x porque não é dos mais familiarizados com o idioma.
Ele deu xilique, pediu compaixão com a UTI e aquela coisa toda de sempre. A justiça mandou um “quer que eu faça o que? Não sou coveiro” e, finalmente, o Michael Phelps of Being Sick está formalmente comunicado da abertura da ação penal.)
MIMIMI
Eu comecei falando de feiura para poder falar de feiura em criança para poder chegar no Bolsonaro criança da Deep Web para, finalmente, chegar ao ponto principal deste texto: os destaques da semana no 33Giga.
Estão feios de chorar? Tem chance. Então, sente-se em uma pedra e deixe a emoção te levar.
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*com pauta involuntária e auxílio luxuoso de Leandra Leal


