Saúde mental: 7 mitos e verdades sobre o uso de antidepressivos
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Os antidepressivos são uma das classes de medicamentos mais estudadas e utilizadas no tratamento de transtornos mentais, como depressão, ansiedade e transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Mesmo assim, continuam cercados por desinformação e estigmas. Expressões como “é só placebo”, “vicia” ou “muda a personalidade” ainda são ouvidas com frequência. Mas, na prática, boa parte dessas crenças não se sustenta.
Mitos e verdades sobre os antidepressivos
1. Eles mudam a personalidade?
Não. Os antidepressivos não alteram quem a pessoa é, e sim ajudam a reduzir os sintomas que mascaram sua verdadeira personalidade. Em muitos casos, a depressão pode tirar a energia, a motivação e o interesse por atividades antes prazerosas. Quando o tratamento começa a fazer efeito, o que se percebe é a retomada da vitalidade e da clareza emocional.
“Imagine uma nuvem gigantesca e escura em cima da sua cabeça. Quando essa nuvem começa a se dissipar, o mundo vai ficando diferente”, descreveu Naomi Torres-Mackie, psicóloga clínica em Nova York. O medicamento, portanto, não transforma a pessoa em alguém novo, apenas devolve a capacidade de sentir e viver com equilíbrio.
2. Ganho de peso: mito ou verdade?
Pode acontecer, mas não é regra. Cada organismo reage de forma diferente. No início do tratamento, alguns antidepressivos podem até reduzir o apetite. Com o uso prolongado, no entanto, o ganho de peso leve é possível – principalmente porque, ao melhorar da depressão, a pessoa recupera o apetite perdido. O ideal é acompanhar de perto as mudanças no corpo e conversar com o médico sobre qualquer alteração, já que ajustar a dose ou o tipo de medicamento pode ajudar a equilibrar os efeitos.
3. Efeito imediato?
Os antidepressivos não agem de um dia para o outro. Geralmente, levam de quatro a seis semanas para começar a fazer efeito. Além disso, pode ser necessário testar mais de um tipo até encontrar o mais adequado para cada organismo. Estudos mostram que metade dos pacientes melhora após o primeiro ou segundo medicamento, e cerca de 70% obtém bons resultados até o quarto.
4. Causam dependência?
Não. Esses medicamentos não são considerados viciantes porque não despertam desejo de uso nem causam comportamento compulsivo. O que pode ocorrer é a síndrome de descontinuação, um desconforto passageiro que aparece quando a pessoa interrompe o uso de forma abrupta. Por isso, a retirada deve ser gradual e sempre acompanhada por um psiquiatra.
5. A vida sexual é afetada?
Alguns antidepressivos (especialmente os ISRS e ISRSN) podem reduzir a libido, mas isso não acontece em todos os casos. Vale lembrar que a própria depressão também pode afetar o desejo sexual. Por isso, o tratamento deve considerar todos os aspectos da saúde do paciente, inclusive o bem-estar íntimo.
6. É preciso tomar para sempre?
Depende. Há pessoas que usam o medicamento por um período curto, enquanto outras precisam de tratamento contínuo. Mesmo em casos de depressão crônica, é possível passar longos intervalos sem medicação, desde que haja acompanhamento psicológico e estabilidade emocional. Cada caso é único. O importante é não interromper o tratamento por conta própria.
7. Eles deixam de funcionar com o tempo?
Não. Se o medicamento parece perder efeito, o mais provável é que o corpo esteja precisando de um ajuste de dose ou de combinação com outro tratamento. Em raras situações, há casos de depressão resistente, quando o organismo não responde bem a diferentes tipos de antidepressivos, exigindo abordagens terapêuticas complementares.
Antidepressivos: aliados no processo de cura
No Brasil, país que figura entre os líderes mundiais em índices de ansiedade e depressão, ainda há quem veja o uso de antidepressivos como sinal de fraqueza. Na verdade, eles são ferramentas importantes para restaurar o equilíbrio químico cerebral e permitir que o paciente recupere qualidade de vida. Cuidar da mente é um ato de coragem – e, para muitas pessoas, os antidepressivos são uma ponte entre o sofrimento e o recomeço. O mais importante é entender que depressão não é falta de força de vontade, e sim uma condição de saúde que exige acolhimento, tratamento e informação.