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A verdade sobre o uso do Ozempic para emagrecer
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A verdade sobre o uso do Ozempic para emagrecer

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18/04/2025 04h00
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Por Linda Immediato para a Beverly Hills Courier

+ Anvisa torna obrigatória a retenção de receita para Ozempic

Não parece que hoje em dia todos nós conhecemos alguém (ou alguém que conhece alguém) que toma Ozempic ou qualquer um dos seus primos? Ou ouvimos com surpresa aquelas pessoas que perderam peso drasticamente, aparentemente da noite para o dia, alegando que não estão tomando o remédio para emagrecer e simplesmente mudaram a dieta e começaram a se exercitar. E ainda há as celebridades que lotam as redes sociais com selfies exibindo suas cinturas incrivelmente reduzidas e juram que não é Ozempic. Em 2022, quando Kim Kardashian perdeu mais de 7 quilos em três semanas para caber em um vestido usado por Marilyn Monroe no Met Gala, ela disse que devia sua nova silhueta a corridas diárias e um traje de sauna.

Como o mundo olha para Beverly Hills para definir tendências de beleza, duas médicas proeminentes e altamente respeitadas de Beverly Hills, a dra. Nancy Rahnama e a dra. Suzanne Wallach, estão trabalhando para esclarecer os fatos e liderando o movimento para influenciar a conversa sobre o Ozempic e a semaglutida.

A dra. Rahnama é médica internista e especialista certificada em medicina da obesidade, atuando na área de medicina bariátrica em uma clínica de emagrecimento na Bedford Drive. Ela se formou em medicina pela Universidade do Sul da Califórnia, com residência médica no hospital Cedars-Sinai, e completou sua formação com uma bolsa de estudos na Universidade da Califórnia em Los Angeles para obter uma subespecialidade em nutrição clínica.

Com quase uma década de experiência específica com medicamentos para emagrecer, Rahnama apareceu em noticiários de televisão, como o programa “Today”, da NBC, e em jornais impressos como o Wall Street Journal, para divulgar sua mensagem. É bem simples: se você toma Ozempic e não é diabético, obeso ou tem sobrepeso, provavelmente está se prejudicando mais do que imagina.

De acordo com Rahnama, “a maioria das pessoas que tomam Ozempic e que não se enquadram nos requisitos da FDA para o medicamento, ou seja, não têm diabetes tipo 2, ou um índice de massa corporal (IMC) maior que 30, ou um IMC maior que 27 com uma comorbidade como pressão alta, colesterol alto ou diabetes, estão abusando do medicamento”.

Abuso parece uma palavra forte, mas ela disse que tem uma opinião forte: “precisamos começar a chamar isso pelo que realmente é: 'abuso', para diferenciar aqueles que realmente precisam do medicamento daqueles que não precisam”.

E, para ela, a distinção precisa ser feita, não apenas por causa da escassez do Ozempic, que virou manchete em 2022 quando foi revelado que milhões de americanos que não se qualificavam para o medicamento o estavam tomando, consumindo o estoque destinado a diabéticos. "Pessoas que abusam dele têm muito mais probabilidade de desenvolver os efeitos colaterais graves sobre os quais ouvimos falar no noticiário”, disse ela. Os perigosos efeitos colaterais físicos relatados até agora variam de obstruções intestinais a paralisia estomacal.

A Food and Drug Administration, ou FDA, (agência dos Estados Unidos que regula produtos de saúde e alimentos, entre outros) aprovou em 2017 o Ozempic, uma marca de semaglutida, para pacientes com diabetes tipo 2. A semaglutida, uma forma sintética de um hormônio natural chamado peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1), auxilia o corpo a produzir mais insulina, o que reduz os níveis de açúcar no sangue em pessoas com diabetes. Mas os primeiros testes mostraram que o medicamento levou a uma perda de peso significativa, pois também retarda o esvaziamento do estômago, fazendo com que as pessoas que o tomam se sintam satisfeitas mais rapidamente e comam menos. Os resultados foram tão expressivos que a busca por uma semaglutida específica para a perda de peso ganhou força.

Em junho de 2021, a FDA aprovou uma semaglutida para pacientes obesos e com sobrepeso com pelo menos uma condição relacionada ao peso (como pressão alta, diabetes tipo 2 ou colesterol alto) sob a marca Wegovy.

Em 2022, a FDA aprovou o Mounjaro, uma combinação de GLP-1 e GIP (peptídeo inibitório gástrico). Embora a aprovação do medicamento para perda de peso ainda esteja pendente junto à agência, muitos médicos costumam prescrevê-lo para seus pacientes com sobrepeso.

Canetas de injeção pré-preenchidas de uso único de Ozempic - Foto de nataliagh/depositphotos.com

Rahnama explicou que, embora os medicamentos GLP-1 já existam há 15 anos, de uma forma ou de outra, e muitos, como o Trulicity, sejam prescritos por médicos hoje em dia, muitos deles ainda não sabem como os prescrever e não fazem o acompanhamento dos pacientes posteriormente.

“Muitos médicos, como o clínico geral, não foram instruídos sobre como administrar o medicamento. Eles não sabem quais são as dosagens adequadas. Falta-lhes um conhecimento mais profundo de nutrição e eles não monitoram adequadamente os pacientes após o início do tratamento”, disse ela.

Quando médicos prescrevem Ozempic para pessoas que não atendem aos critérios da FDA para o medicamento, muitas vezes erram na dosagem porque as diretrizes farmacêuticas nas quais normalmente se baseariam não se aplicam. Vira tentativa e erro. De acordo com Rahnama, a dosagem errada pode levar a problemas gastrointestinais, que podem ser tão graves que exigem hospitalização.

Se um médico estiver administrando Ozempic e liberando você, você pode não estar ciente dos riscos potenciais da falta de acompanhamento. Há vários motivos pelos quais acompanhar pacientes que tomam Ozempic é crucial. Por exemplo, sempre que você perde peso, nem tudo vem de gordura; na verdade, você perde um pouco de massa muscular e óssea. Ozempic acelera esse processo e é especialmente preocupante em pacientes mais velhos, nos quais a densidade óssea já é um problema. De acordo com um estudo realizado pelo New England Journal of Medicine, quando pesquisadores analisaram um subgrupo de 140 participantes que se enquadravam nos critérios da FDA para tomar Ozempic, eles descobriram que, em média, os participantes perderam cerca de 7 kg de massa muscular magra durante o teste de 68 semanas. A idade média dos participantes naquele estudo era de 52 anos.

Na clínica de Rahnama, os pacientes precisam verificar a composição corporal para garantir que o peso perdido seja gordura e não osso ou músculo. Também precisam fazer exames laboratoriais semanais ou quinzenais para verificar se algum outro medicamento que o paciente esteja tomando precisa ser reduzido gradualmente.

À medida que você perde peso significativamente, sua pressão arterial ou colesterol podem cair, portanto, os medicamentos tomados para controlar esses problemas também devem ser reduzidos. Rahnama quer identificar isso e corrigir o curso ao longo do tratamento. “A maioria dos médicos não sabe como fazer esse monitoramento. Eu não prescrevo o medicamento a menos que o paciente tenha se comprometido com um plano de tratamento de três a quatro meses enquanto estiver usando o medicamento”, disse ela.

Apesar das manchetes, muitos não se intimidam na busca por um corpo mais esbelto. “Não acredito em alguns dos pedidos que vejo”, disse Rahnama. “E houve algumas vezes em que atendi um paciente e disse 'Não', e ele ficou bastante chateado. Expliquei a ele que tomar o medicamento só poderia causar mais mal do que bem, porque ele não tinha peso para perder!” Muitas vezes, eles vão embora com raiva e procuram um médico que lhes receite Ozempic.

É algo com que a dra. Suzanne Wallach está muito familiarizada e quer que mude.

Wallach é terapeuta familiar e matrimonial licenciada e proprietária e diretora clínica da Suzanne Wallach & Associates e da SoCal DBT. Ela se formou em psicologia pela Universidade de Ottawa, fez mestrado em psicologia clínica pela Phillips Graduate University e doutorado em psicologia pela Escola de Psicologia Profissional de Chicago. Ela é especialista em transtornos de personalidade, com ênfase em transtornos alimentares, abuso de substâncias e traumas.

Embora tenha sido destaque na imprensa em seu Canadá natal e tenha se destacado como especialista em uma ampla variedade de problemas de saúde mental, o Ozempic é um assunto relativamente novo. E a maioria não o associa imediatamente a uma questão de saúde mental. No entanto, como terapeuta, ela conhece segredos que muitos de seus clientes não compartilhariam com seus melhores amigos — como tomar Ozempic. Ela começou a falar publicamente sobre as consequências psicológicas que está testemunhando, em primeira mão, com a obsessão pelo medicamento para emagrecer.

“Meu consultório fica no centro de Beverly Hills e metade dos meus clientes, nenhum dos quais precisa, toma Ozempic”, disse Wallach. “Chegou a um ponto em que quase não conheço ninguém que não tome. Todos os meus amigos tomam, terapeutas da equipe aqui também. Fui ao meu médico, que mora em Beverly Hills, para falar sobre terapia de reposição hormonal, e ele me perguntou se eu queria Ozempic. E eu peso 48 quilos.”

Wegovy, semaglutida aprovada pela FDA para a perda de peso - Foto de mauricenorbert/depositphotos.com

Então, como todo mundo está obtendo seu Ozempic?

“É incrivelmente fácil conseguir aqui”, disse Wallach. “Meus clientes de Beverly Hills, que também não são pessoas acima do peso, me dizem que conseguem com seus médicos, que também estão em Beverly Hills. Tive uma cliente que, quando não conseguiu encontrar Ozempic na Califórnia, pediu ao médico que a receitasse no Arizona e depois pediu a um familiar que a enviasse de volta para Beverly Hills.”

Alguns clientes recorreram à internet para comprar online em farmácias de manipulação ou recebem os compostos administrados em spas médicos. Os compostos, como a semaglutida misturada com vários outros aditivos, não são aprovados pela FDA e a agência alerta contra seu uso. Como não são regulamentados, você não tem ideia exata do que está injetando no seu corpo.

“O que realmente notei com meus clientes é que os médicos não os retiram do Ozempic e eles têm medo de parar porque não querem ganhar o peso de volta”, disse Wallach. “Isso está alimentando a dismorfia corporal e levando a transtornos alimentares. Um cliente chegou e disse: 'Só comi dois pedaços de edamame [soja ainda na vagem verde] ontem. Foi ótimo!' E eu disse a ele: 'Você não consegue sobreviver com dois pedaços de edamame. Isso não é certo. Se você não estivesse tomando Ozempic, eu estaria te encaminhando para um tratamento para transtorno alimentar!'”

Wallach alerta para o efeito que a falta de comida tem no cérebro: “Quando você não come, seja intencionalmente no caso de anoréxicos, ou simplesmente porque não está com fome por estar tomando Ozempic, você está privando seu cérebro de comida e ele fica desnutrido. Seu córtex pré-frontal não funciona corretamente, então você não consegue raciocinar corretamente, e então a depressão e a impulsividade são mais prováveis.”

No entanto, a facilidade de aquisição do Ozempic levou a resultados inesperados e devastadores. “Tenho clientes adolescentes que não se enquadram nos critérios do Ozempic. Um tem 12 anos e o outro, 14, e não querem tomar. Eles me dizem que o medicamento os deixa enjoados e doentes, mas estão tomando porque seus pais tinham problemas com o peso deles e os obrigaram a tomar. Lembro-me de quando isso aconteceu, de realmente parar e pensar: isso está realmente saindo do controle.”

Wallach acredita que o uso indevido do Ozempic só vai piorar. “Acho que é uma combinação de mídia, de celebridades que o usam tão abertamente e, além disso, de médicos que estão dispostos a prescrevê-lo para pessoas que não precisam. E quando essa combinação se torna tão difundida e aceitável, a ponto de pais estarem dispostos a prescrever Ozempic para seus filhos que não precisam, acho que a situação só vai piorar”, disse ela.

Por outro lado, Rahnama disse que viu o Ozempic transformar a vida de seus pacientes obesos e com sobrepeso.

Antes desses medicamentos, o tratamento consistia simplesmente em dieta e exercícios. “Esse equívoco gerou muita frustração em pessoas que lutavam contra a obesidade e, obviamente, não resolveu o problema, pois a obesidade agora afeta quase 50% dos americanos”, disse Rahnama. “Muitas pessoas não percebem o que as pessoas com sobrepeso enfrentam a vida toda", disse ela, antes de enumerar uma lista de problemas que acompanham a obesidade: "apneia do sono, doença hepática e a necessidade de tomar uma série de medicamentos — pressão alta, colesterol, diabetes, gota e dores nas articulações.”

Além disso, Rahnama disse que esses pacientes são propensos à depressão e à ansiedade e muitas vezes não têm autoconfiança para fazer muitas das coisas que a maioria de nós considera normais.

“Tive uma paciente que, após vários meses de dosagem adequada e monitoramento cuidadoso, perdeu bastante peso. Ela chegou à minha clínica sorrindo; disse que finalmente tinha confiança para usar um aplicativo de namoro e ficou radiante e corada quando me contou que conheceu alguém especial. Ela nunca tinha tido um encontro antes.”

Outro paciente de Rahnama queria seguir uma nova carreira, mas tinha pavor até de se candidatar a empregos, pois temia a entrevista presencial. Após o tratamento, ele se sentiu confiante para participar de entrevistas e relatou a Rahnama que havia conseguido o emprego dos seus sonhos.

Embora sucessos como esses de adultos sejam emocionantes para Rahnama, as mudanças mais tocantes vêm de seus pacientes adolescentes.

A obesidade infantil disparou durante a pandemia. E os números eram alarmantes. De acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), “um estudo com 432.302 crianças, de 2 a 19 anos, constatou que a taxa de aumento do IMC quase dobrou durante a pandemia de COVID-19 em comparação com o período pré-pandêmico.”

No início de 2023, a FDA aprovou a semaglutida para pacientes com 12 anos ou mais e IMC igual ou superior ao percentual de 95 ou maior para sua idade e sexo. Rahnama afirma que tratar esses pacientes é uma das partes mais gratificantes do seu trabalho. 

“Pensando bem, você pode determinar todo o futuro de uma criança se conseguir a ajudar a controlar o peso desde cedo”, disse ela. “Imagine como a vida dela pode ser limitada por estar lutando contra a obesidade. Isso não só afeta como ela se sente e como funciona, mas também a afeta emocionalmente. E esse impacto emocional causa traumas que podem a prejudicar pelo resto da vida.”

“Uma das minhas jovens pacientes finalmente conseguiu andar numa montanha-russa em que nunca tinha conseguido por causa do seu peso; outra finalmente conseguiu se destacar no sapateado porque adorava, mas estava limitada pelo seu peso. Acho que isso já é uma celebração por si só; você não está apenas mudando o corpo delas, você está mudando a vida delas.”

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Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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