Vista para a Table Mountain, Nobu e aula de vinho – Como é ficar no hotel mais elegante da Cidade do Cabo

Alguns dizem que é por causa das praias. Outros, das montanhas icônicas e do bondinho. Mas depois de passar alguns dias na Cidade do Cabo, na África do Sul, cheguei à conclusão que o que a faz ser conhecida como “Rio de Janeiro da África” é o borogodó, mesmo. Sabe aquele charme inexplicável que um lugar emana desde o primeiro minuto em que você pisa nele? Então...

O hotel mais elegante da região, o One&Only Cape Town, traduz isso em uma filosofia africana chamada ubuntu. A palavra, que tem origem em línguas como zulu e xhosa, significa "humanidade para com os outros". Na prática, o conceito enfatiza que uma pessoa só se realiza plenamente ao promover o bem-estar, o respeito e a solidariedade com as demais.

O que é bonito na teoria torna-se ainda melhor diante da recepção calorosa dos locais, que efetivamente cativam e “abraçam” quem chega de fora – olha aí o borogodó. No One&Only Cape Town, essa máxima é levada a sério. Desde o momento em que você entra no lobby, todos os funcionários, sem exceção, o cumprimentam com uma referência, levando uma mão fechada ao peito e curvando levemente o corpo.

A partir daí, você é mimado sem parar, ao ponto de ser surpreendido todas as noites com um presentinho e ser chamado pelo nome por boa parte dos funcionários. E olha que, para isso, nem precisa ser a Mariah Carey, o Clint Eastwood, o Matt Damon, a Sharon Stone ou a Naomi Campbell, algumas das celebridades que já se hospedaram por lá.

Com reles mortais, como eu, isso também acontece. Tanto que, logo após o check in, um funcionário da área da piscina me recebeu com entusiasmo e mencionou o número do meu quarto sem que eu o tivesse informado previamente. Até agora não sei como ele já sabia.

Table Mountain enquadrada

Vista do quarto para a Table Mountain | Paulo Basso Jr.

Ainda vou falar da decoração elegante, das obras de arte, dos restaurantes e do spa do One&Only Cape Town, mas preciso começar pelas acomodações. Ou melhor, pela vista de algumas delas, como a minha, cuja sacada enquadrava nada menos que a Table Mountain (Montanha da Mesa), o maior símbolo da Cidade do Cabo.

Com um formato retangular que remete a uma mesa (daí o nome), a montanha onipresente na paisagem local é o ápice de uma cordilheira que se estende até o Cabo da Boa Esperança, a cerca de 65 km ao sul. Feito uma mistura simbólica do Corcovado com o Pão de Açúcar, ela conta com um bondinho que leva milhares de pessoas diariamente até o topo, de onde se pode observar a fantástica paisagem da região.

Fiquei tão embasbacado em ter essa maravilha da natureza (por sinal, uma das sete eleitas pela New7Wonders Foundation) diante dos meus olhos, seja quando eu estava deitado na cama, seja na mesinha da varanda tomando um café, que depois de algumas horas passei a tratá-la com o carinho dos íntimos. “Oi, bonita”, me peguei falando várias vezes enquanto a admirava.

Nem todos os 132 quartos do One&Only Cape Town têm vista para ela, e caso você não se hospede em um que ofereça esse privilégio, não se preocupe. De diversas partes do hotel é possível observar a Table Mountain, como do restaurante ROOI e de alguns trechos da ilha (sim, o hotel tem uma ilha em um canal que adentra a propriedade trazendo água do mar) que abriga a piscina, o spa e algumas acomodações.

O hotel mais elegante da Cidade do Cabo

Acomodação esbanja elegância com decoração com motivos africanos | Paulo Basso Jr.

Dentro dos quartos do One&Only Cape Town, a elegância predomina, com móveis de madeira clara e objetos decorativos que exaltam a cultura africana. A paleta de tons neutros, como bege e cru, inclui toques de azul, preto e branco, transmitindo luxo e pertencimento cultural. No banheiro, há armário, bancadas de mármore com pias duplas, banheira em formato de “ovo” e ducha do tipo “rain shower”, aquelas que saem do teto e lavam até a alma.

Os amenities também estão todos lá: cama king size, ar-condicionado, cofre, TV, tomadas com entradas USB e USB-C e frigobar completo – inclusive, com oferta de vinhos de Stellenbosch e Franschhoek, áreas nos arredores da Cidade do Cabo que concentram vinícolas famosas em meio a belos parreirais. De quebra, todos os hóspedes são agraciados com bonés, sacolas de praia e, nas acomodações (ainda) mais opulentas, garrafas d’água. De noite, espere por nougats, macadâmias e outros minos, pois eles virão.

Quem quiser ainda pode solicitar que o café da manhã seja servido na varanda. Como eu tinha vista para a Table Mountain (oi, bonita!), não pensei duas vezes. Estava nublado e ela demorou a dar o ar da graça (preguiçosa), mas quando apareceu, quem disse que eu queria sair de lá?

Ilha dos prazeres

Ilha do hotel tem piscina, spa e algumas acomodações | Paulo Basso Jr.

É tentador passar o tempo todo no quarto do One&Only Cape Town, mas o fato é que isso seria um desperdício. Há muito mais o que aproveitar no hotel, que tem até uma galeria de arte. Chamou-me atenção o fato de que, especialmente nos ambientes comuns, o empreendimento aposta no luxo, porém com alma própria – seria por conta do ubuntu?

Nada por lá é pasteurizado ou lembra outros cinco estrelas. Original, a decoração de muito bom gosto traz elementos de artistas locais e flores nativas, com destaque para as proteas – exóticas, grandes e coloridas, elas são um símbolo da África do Sul, ao ponto de serem protegidas pelo governo. Essas belezinhas estão por toda a parte, das mesas dos restaurantes ao lobby, que ostenta um bar circular cercadi de mesas e sofás convidativos para um café durante a tarde ou um drinque à noite.

É a partir desse espaço que se tem acesso, via escadas, à área externa do One&Only Cape Town, palco de lindos jardins, fontes, deques de madeira, uma escultura colorida fotogênica de um hipopótamo e a ponte que leva à ilha mencionada acima. Cercado de prédios, o espaço funciona como um oásis no meio do canal pelo qual, ao longo do dia, pequenas embarcações e praticantes de caiaque transitam e compõem um paisagismo de encher os olhos.

Mordomia na piscina

A charmosa piscina tem azulejos pretos e deque com espreguiçadeiras | Paulo Basso Jr.

A ilha traz mais uma prova da originalidade do hotel: a piscina. Enquanto alguns empreendimentos fazem questão de evidenciá-la, no One&Only Cape Town ela fica praticamente escondida, de modo a preservar a privacidade dos hóspedes.

E olha que o espelho d’água não tem nada de pequeno: é enorme, com pontos de hidromassagem, bar e deques com confortáveis espreguiçadeiras. De quebra, os azulejos são pretos e acinzentados, o que contribui para o ar discreto e sofisticado do projeto.

Uma vez no espaço, não espere ser apenas atendido com cordialidade (e com funcionários que já sabem seu nome e o número do quarto), mas com mais mordomias. Entre elas, uma bandeja com protetores solares, spray refrescante, hidratantes, petiscos e pedaços de melancia. Não precisa pedir. É só colocar as pernas para o alto e aguardar.

Spa com massagem africana

Piscina térmica do spa: a massagem African Journey é um sonho | Paulo Basso Jr.

Mais relaxante que a área da piscina é só mesmo o spa do One&Only Cape Town. O espaço conta com salas de massagem individuais e para casais. Nos vestiários, há sauna seca, molhada e piscina aquecida. Mas o diferencial está nos detalhes, como kits para barbear de boa qualidade, chinelos e hobbies felpudos, secadores e alisadores de cabelo térmicos.

O cardápio de terapias é variado, mas resolvi apostar num tratamento chamado African Journey. A experiência começa com uma esfoliação de rooibos (um chá vermelho africano) e sal-grosso. Depois, é hora de tomar banho e se preparar para a massagem propriamente dita, realizada com produtos que combinam notas de laranja-doce e óleo de baobá, além de um bastão de madeira típico do povo masai, chamado Rungu Stick.

Dos 90 minutos em que dura a sessão, posso dizer que 60 minutos são maravilhosos. Os outros 30 minutos devem ser ainda melhores. Só não afirmo categoricamente porque caí no sono. Sério, é muito relaxante. No final, ainda rola um chá de rooibos que pode ser apreciado em uma sala ou numa área externa.

Churrasco em estilo braai

Restaurante ROOI é especializado em cortes de carne | Paulo Basso Jr.

Não sei se acontece contigo, mas massagem costuma me dar fome. E a sorte é que, logo depois de me recompor, pude jantar no ROOI, o maior entre os três restaurantes do One&Only Cape Town – os outros são o Isola, na área da piscina, e o Nobu, sobre o qual falarei em seguida.

ROOI significa vermelho em africâner e dá ênfase ao fogo, o tema da casa. Ela está presente em diversos lugares, como na decoração, marcada por um belíssimo forno central e uma adega envidraçada, e principalmente no cardápio, uma vez que o carro-chefe são os cortes de carne preparados em estilo braai, o típico churrasco sul-africano feito com carvão.

Pães frescos são servidos assim que você se senta e tem acesso à ótima carta de vinhos. Pedi algumas sugestões ao garçom e, logo, a sommelier Marcelin Mudondo veio à mesa com ótimas opções de pinotage, como o Kaapzicht, de Stellenbosch.

Como era temporada de ostras, pedi algumas de entrada. Estavam divinas. Elas abriram de vez o apetite para os pratos principais: um filé acompanhado de abóbora com canela e molho de cogumelos e um contrafilé wagyu com batatas, couve e mousse de feta, servido com molho bordelaise defumado.

Nem sei dizer o que estava melhor. Saí de lá com a sensação de que tudo no ROOI é maravilhoso. E olha que não sobrou espaço para a sobremesa, hein.

Vale dizer ainda que o café da manhã tradicional do hotel também é servido por lá. Com vista para a Table Mountain, você tem à disposição diversos tipos de pães, frios, queijos, peixes, frutas, iogurtes, doces e até mesmo ostras, sem contar ovos preparados na hora do jeito que você quiser. Dica: se tiver gammon, não perca. Trata-se de uma peça de carne de porco curada que, só de lembrar, me dá água na boca.

O primeiro (e único) Nobu da África

Yellowtail servido no omakase do Nobu | Paulo Basso Jr.

Enquanto meu primeiro jantar no One&Only Cape Town foi no ROOI, o segundo se deu no Nobu, primeiro e único endereço do chef-celebridade Nobu Matsuhisa na África. Uma escadaria em formato de leque dá acesso ao salão principal, recentemente reformado. Ali, uma DJ comandava o som ambiente.

Ao fundo, o balcão de sushi revela a especialidade da casa: cozinha japonesa clássica com um toque contemporâneo e influências sul-americanas, especialmente do Peru. Para provar o que o Nobu da Cidade do Cabo oferece de melhor, resolvi ir de omakase, menu-degustação de sete cursos com escolhas feitas pelo chef. Tudo, claro, acompanhado de um bom saquê.

Da gentileza do serviço à apresentação, posso dizer que minhas (altas) expectativas foram atendidas. Os primeiros quatro pratos, com sushis e sashimis variados de salmão, yellowtail e toro (a parte mais gorda e macia do atum) estavam na temperatura certa, com ótima textura ao sabor. Entre os pratos quentes, destaque para o black cod servido na folha de alface-manteiga e os escalopes de filé wagyu flambados na mesa.

O desfecho perfeito se deu com a sobremesa, um fondant de chocolate com sorvete de chá verde servido em uma caixa com interior vermelho e iconografia japonesa do lado de fora. Que baita experiência.

Faça seu próprio blend de vinho

Sommelier Marcelin Mudondo durante experiência de blend de vinhos | Paulo Basso Jr.

Por falara em experiência, há uma oferecida dentro do One&Only Cape Town que me surpreendeu muito positivamente: criar seu próprio blend de vinho. Eu gosto da bebida, é verdade, mas não esperava que a atividade fosse tão divertida.

Tudo começa com uma explicação sobre a sabrage, famosa técnica de abrir espumantes com uma espada. E lá fui eu mostrar toda minha habilidade sob a orientação da fofíssima Marcelin Mudondo, discípula de Luvo Ntezo, que já foi eleito como o melhor sommelier jovem da África do Sul – e que também trabalha no One&Only Cape Town, mas infelizmente não tive a chance de conhecer.

“O segredo não é a velocidade, mas sim a inclinação certa da espada e a potência do golpe”, explicou Marcelin. E lá fui eu. Primeira tentativa, nada. Segunda tentativa, pffff. Mas na terceira... Que sensação boa. A rolha voou longe e, quem estava ao lado, aplaudiu.

Orgulhoso do meu feito, segui para a maravilhosa adega suspensa e envidraçada dentro do restaurante ROOI. Ali, Marcelin deu uma aula sobre vinhos e explicou as diferenças das uvas cabernet sauvignon, cabernet franc e merlot, bases dos rótulos que seriam usados na experiência. Após isso, sugeriu que eu fizesse quatro tentativas de misturas, tentando evoluir de uma para outra.

Comecei com 50% de um, 30% de outro e 20% do último. E aí fui ajustando, batizando cada uma das tentativas: Jambo, Simba, Happy e, finalmente, Hakuna Matata, com 75% de cabernet franc, 15% de cabernet sauvignon e 10% de merlot. Não sei até que ponto foi simpática, mas Marcelin elogiou o resultado final. E o melhor de tudo é que você pode engarrafar a mistura, colocar a rolha com um equipamento usado antigamente, criar seu próprio rótulo e levar para casa.

Ah, e todas as garrafas abertas durante a brincadeira ficam à disposição para você beber o quanto quiser, acompanhadas de queijos, castanhas e azeitonas. Confesso que, infelizmente, não dei conta, mas ao menos provei um bocadinho de cada.

A Cidade do Cabo é logo ali

Vista do Lion's Head e de praias desde a Table Mountain | Paulo Basso Jr.

O fato é que eu queria estar sóbrio para curtir as atrações da Cidade do Cabo, e elas são muitas. A começar pelo Victoria & Alfred Waterfront, área vibrante construída ao redor do antigo porto e que fica a poucos minutos de caminhada do One&Only Cape Town.

O complexo reúne shopping, mercado gastronômico, museus, mirantes, aquário e restaurantes, tudo isso conectado por um calçadão que fica movimentado dia e noite. O gostoso por lá é ir sem pressa para comprar lembrancinhas, provar pratos locais e ainda observar a roda-gigante contrastando com os barcos que vão e vêm o dia inteiro.

Outro programa obrigatório na Cidade do Cabo é subir a Table Mountain de bondinho. Mesmo que você já a tenha admirado da sacada do quarto (oi, bonita!), nada substitui a sensação de estar no topo dessa maravilha da natureza. O percurso dura cinco minutos (vá antes das 9h, para não pegar fila) e, enquanto a cabine gira lentamente, a cidade se revela em 360 graus. Lá em cima, trilhas curtas levam a mirantes naturais que mostram, de forma ainda mais clara, porque muita gente chama a região de “Rio de Janeiro da África”.

Quem preferir uma caminhada mais desafiadora pode se aventurar no Lion’s Head, em um passeio organizado pelo próprio One&Only Cape Town (pergunte para o concierge). A trilha, de dificuldade moderada, sobe em espiral até o cume da montanha vizinha à Table Mountain e costuma levar entre 60 e 90 minutos, dependendo do ritmo. O esforço compensa: o visual que mistura oceano, relevo e área urbana é de encher os olhos.

Outro cantinho imperdível da Cidade do Cabo é o Bo-Kaap, antigo bairro malaio famoso por casas multicoloridas alinhadas em ruas íngremes. Ali, vale fazer comprinhas em bazares e entender como a comunidade preserva suas tradições culturais e religiosas.

Praias e Peninsula Tour

Clifton, uma das praias mais famosas da Cidade do Cabo | Paulo Basso Jr.

Agora, se a ideia for curtir o litoral, Camps Bay e Clifton são as praias urbanas mais famosas da Cidade do Cabo – e não é por acaso. Ambas têm areias claras e mar limpo, embora geladíssimo (sério, só na Noruega tinha visto algo igual). O melhor por lá é a vibe costeira e a vista para os 12 Apóstolos, sucessão de 17 picos montanhosos (vai entender o nome) que se descortinam no horizonte.

Camps Bay e Clifton faze parte do roteiro clássico da cidade e estão incluídas no Peninsula Tour, passeio que passa por estradas cênicas, vilarejos charmosos e penhascos fotogênicos até alcançar o Cabo da Boa Esperança. É um tour de dia inteiro, oferecido no Brasil por agências como a Woods Wine, que vale muito a pena. Dá para ver focas e centenas de pinguins numa praia chamada Boulders Beach.

Quanto custa ficar no One&Only Cape Town

Bar no lobby do hotel mais elegante da Cidade do Cabo | Paulo Basso Jr.

Os preços dos quartos no One&Only Cape Town variam de acordo com a acomodação e a época do ano. Sugiro checá-los no link abaixo, onde dá também para ver a avaliação de quem já se hospedou por lá.

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