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Pokémon Legends: Arceus é o Gigantamax dos jogos da série
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Pokémon Legends: Arceus é o Gigantamax dos jogos da série

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Tecmundo
26/02/2022 19h00
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Quando Pokémon Legends: Arceus foi anunciado em fevereiro de 2021, nem o fã mais assíduo como eu imaginou que ele pudesse reinventar a hoje pré-histórica fórmula da série principal, praticamente intacta desde Pokémon Red & Blue. Arceus representa a primeira tentativa da Game Freak de introduzir mecânicas de ação às batalhas e expandir o escopo do mundo, de modo a permitir novas formas de evoluir e interagir com os Pokémon. 

Aos olhos de quem não costuma acompanhar os games, Pokémon Legends: Arceus parece ser só uma evolução natural de Pokémon Sword & Shield, títulos que apresentaram ao mundo os monstrinhos da oitava geração. Mas é muito mais que isso. Trata-se de um ambicioso salto da desenvolvedora para consolidar um modelo de gameplay mais convidativo e dinâmico — prepare-se para ler dinâmico e seus sinônimos com frequência neste texto.  

Sem criar muito suspense, já vou cravar que Pokémon Legends: Arceus figura tranquilamente entre os melhores spin-offs da série ao lado de Pokémon Conquest, Pokémon Colosseum — a meu ver injustiçado — e do esquecido Pokémon Ranger. Quer saber mais? Confira a nossa análise para entender como Legends: Arceus pode ter ditado um novo rumo à franquia. 

Visitando o passado

Cá entre nós, a história de Pokémon nunca foi o forte dos games da série, mas Pokémon Legends: Arceus arrumou um bom pretexto para se desvincular completamente da batida premissa de se tornar um mestre Pokémon. Arceus te transporta à região natural de Hisui, a antiga Sinnoh de Diamond & Pearl, à época em que a relação entre humanos e Pokémon não era tão harmônica, de quando ainda não guardavam os “monstrinhos de bolso” literalmente no bolso. 

A narrativa se desenrola quando o seu personagem, vindo de outra era, cai em Hisui a partir de uma misteriosa fenda no céu, uma espécie de buraco negro. O jovem Rei — ou a heroína Akari, você decide —, então, acaba sendo acolhido pelos habitantes da Jubilife Village, um vilarejo que funciona como um hub, uma área segura para descansar, conversar com NPCs, negociar itens e aceitar missões. 

Para ganhar a confiança do assentamento e por ter um conhecimento prévio dos Pokémon, o protagonista é integrado ao Galaxy Team, um grupo de pesquisa cujo objetivo é investigar como vivem os Pokémon de Hisui. O personagem também fica encarregado de descobrir a origem da fenda, o mesmo buraco de onde saiu, pois ela aparenta ser a razão pela qual o comportamento dos nobres Pokémon, adorados pelos povos das regiões, está mudando, tornando-os incontroláveis. 

Por se tratar de um jogo Pokémon, não há, naturalmente, uma narrativa aprofundada nem nada do tipo, tanto que você pode terminar o jogo com menos de 12 horas ao dedicar-se somente às missões principais. Há, no entanto, personagens que merecem destaque, como o professor Laventon, o comandante Kamado, o simpático comerciante Ginter e a rigorosa capitã Cyllene, cada qual com personalidade única. Todos eles protagonizam momentos bem bacanas com o nosso herói. 

Embora a história seja um subterfúgio para explorar Hisui e completar a Pokédex, trata-se de uma aventura muito gostosa e interessante de acompanhar, situada em um passado do universo Pokémon que os fãs ansiavam por conhecer. Contudo, é preciso ter um pouco de paciência por conta do início lento, que permeia pelas duas, três primeiras horas até que você seja liberado para explorar os mapas em paz. 

Exploração acima de tudo

Pokémon Legends: Arceus é sobretudo um jogo de exploração. Ao contrário do que a internet profetizou antes de seu lançamento, Legends: Arceus não traz uma proposta de mundo aberto, mas oferece cinco áreas gigantescas, além de Jubilife Village, a serem exploradas da maneira que você bem entender. Ainda que os mapas não sejam interconectados, eles estão abarrotados de atividades e distrações, instigando o jogador a vasculhá-los repetidamente. 

Como nos tempos de Hisui ainda não tinham inventado a bicicleta, a única forma de desbravar o local é usando os próprios Pokémon como meios de transporte. Conforme progride, novas montarias são destravadas para que você consiga explorar qualquer ambiente sem limitações, seja por terra, céu ou mar. 

As cinco criaturas desbloqueáveis são versões exclusivas de Hisui, como as formas Pokémon de Alola e Galar, e têm funcionalidades específicas. O Wyrdeer, por exemplo, que ostenta uma volumosa barba de profeta, é veloz e permite ao jogador viajar rapidamente do ponto A ao B.

Já o Ursaluna de Hisui consegue identificar itens escondidos pelo mapa, enquanto Basculegion, o peixe gigante, facilita a navegação por mares e rios. Ainda temos Sneasler, um exímio escalador no melhor estilo Link de The Legend of Zelda: Breath of the Wild, e o Hisuian Braviary, o valente pássaro da geração cinco, que aqui funciona como um planador. 

A possibilidade de trocar de montaria ao alcance de um único botão dinamiza a exploração do mundo, eliminando a necessidade de usar o recurso de viagem rápida tão comum em jogos abertos. Mesmo depois de 30 horas de jogatina, continuei motivado a viajar com meus parceiros de Hisui para esmiuçar os inesgotáveis segredos do lugar.

Dinamismo é a palavra de ordem: sistemas e loop viciante

Como comentei no início desta análise, faço questão de me repetir à exaustão para reforçar o quão dinâmico é Pokémon Legends: Arceus, já que ele vai na contramão daquilo que seus antecessores entregaram. Não me entenda mal: eu amo os jogos da série principal, cada um de um jeito diferente, mas já faz um tempo que a receita de bolo da dona Game Freak não rende sobremesas tão saborosas ao paladar dos fãs. 

Em favor de uma experiência renovada e menos burocrática, Legends: Arceus tem uma dinâmica de missões que se assemelha muito mais ao esquema de Monster Hunter Stories que o de um tradicional Pokémon. Você aceita missões e contratos, define os seis Pokémon do grupo e gerencia o limitado inventário de itens para embarcar em divertidas expedições de campo. 

Não há líderes de ginásio nem insígnias a serem conquistadas, o que você precisa fazer é aprender mais sobre os quase 250 Pokémon disponíveis em Hisui enquanto tenta desvendar o que está por trás da fenda e dos monstros em frenesi. A Pokédex de Hisui, a propósito, é um tanto limitada, apesar de ter bons nomes na lista. 

Preciso, aliás, destacar a qualidade das centenas de missões secundárias que, por incrível que pareça, são menos fúteis do que eu imaginava. Em uma delas, Yota está em busca de uma Ponyta peculiar, cuja coloração difere da que estamos habituados. É a maneira mais didática que o jogo encontrou de explicar o que são os Pokémon shiny: concedendo um pônei de fogo na faixa para você. 

Num outro pedido da cidade, Miller, membro do grupo de agricultura e pesquisa, quer que você empreste alguns monstrinhos para ajudá-lo a arar os campos. O NPC descreve a habilidade necessária ao Pokémon, e você deve encontrar na lista de capturados algum que tenha a característica que ele deseja. Pode parecer uma tarefa simples, mas ela faz bom uso do conhecimento do jogador sobre os tipos existentes de Pokémon.

O fato de estar jogando um game em que realmente podemos ver os Pokémon selvagens perambulando pelos cenários, em um mundo com mais vida e que reage às ações do treinador, é um sonho de criança se realizando. Além das quests principais e opcionais, um dos grandes incentivos para explorar e capturar o máximo de Pokémon são as tarefas de investigação, que ditam um outro tom à exploração. 

Basicamente, você precisa cumprir objetivos únicos de um Pokémon para completar os dados da Pokédex dele, como capturar uma mesma espécie sem ser visto, isto é, agindo sorrateiramente, ou confrontá-lo usando movimentos específicos. 

Nos moldes de um Pokémon: Let's Go & Pikachu! e Let's Go, Eevee!, você não é obrigado a encarar o Pokémon antes de capturá-lo. A diferença entre Legends: Arceus e Let's Go, porém, é que no título mais recente você pode arremessar a Pokébola em tempo real, sem menus, sem modo batalha, sem burocracia alguma. Você joga a Pokébola e aguarda a reação do bicho, simples assim. 

Há criaturas que só são capturadas sob certas condições e em determinados momentos do dia. Os Pokémon do tipo fantasma, por exemplo, costumam dar as caras à noite, enquanto monstrinhos famintos precisam de comida para serem pegos. Quanto mais você cumpre as tarefas de investigação de um Pokémon, maior será o nível dele na Pokédex, aumentando suas chances de encontrar variantes cada vez melhores.

Como um complemento à evolução da Pokédex, temos a progressão padrão já conhecida dos games anteriores, na qual você aprimora as criaturas ao nível 100 como em um clássico RPG. A diferença, no entanto, é que a barra de experiência dos Pokémon está sempre subindo, seja ao batalhar ou interagir com elementos do ambiente, como árvores de frutas nativas, berries e matéria-prima. Você e seus Pokémon serão recompensados por absolutamente tudo, fazendo valer cada minuto investido nas inúmeras distrações que o playground de Hisui tem a oferecer.

É possível ser feliz sem dinheiro (o do jogo, no caso)

Uma das grandes novidades de Legends: Arceus é o seu robusto sistema de criação de itens. Em vez de ficar dependente dos mercadores, você pode preparar poções e Pokébolas à mão, aos montes, incluindo comidas para atrair certos tipos de Pokémon. Não há, portanto, uma necessidade tão grande de acumular dinheiro para comprar itens, embora ir às compras ainda seja possível.  

O crafting é simples, prático e uma adição muito bem-vinda ao loop do game. Eu espero que esse sistema esteja presente nos próximos títulos da série principal, pois favorece o ritmo e torna o personagem mais independente no decorrer da jornada. Com o sistema de criação, você será capaz de jogar à sua maneira, sem tantas interrupções.

Os itens são confeccionados a partir das bancadas de crafting disponíveis nos acampamentos das regiões abertas, locais que também são usados para restabelecer os pontos de vida dos Pokémon. Acredite em mim: com todos esses recursos acessíveis nas áreas de excursão, você dificilmente vai querer retornar à vila após as expedições. Legends: Arceus é generoso e entrega tudo de mão beijada para que o jogador desbrave Hisui do jeito certo: livre, leve e solto. Ritmo constante e progressão orgânica se complementam para estimular e justificar a exploração. 

Combate sem firulas, dificuldade justa e ondas de Pokémon

É incrível como a Game Freak soube melhorar e acelerar o combate preservando sua essência. As batalhas de Legends: Arceus também são por turnos, tal como os games anteriores, porém ele é mais competente na execução e, por consequência, menos sonolento. Quando você arremessa um de seus monstrinhos em um Pokémon selvagem, a luta se inicia no mesmo momento, não há telas de carregamento nem menus em excesso poluindo a interface. Aqui o negócio é menos texto e mais ação. 

Você ainda pode modificar o padrão de um habilidade a partir de um movimento especial, outra boa novidade de Legends: Arceus. Existem duas opções: o Agile Style aumenta a velocidade, como o próprio nome indica, mas reduz o poder de ataque, então existe a chance de antecipar uma jogada; o Strong Style, por outro lado, eleva o dano da investida, diminuindo a velocidade de ação — na prática, é como se você estivesse abrindo mão de um turno para desferir um golpe mais potente. 

Os movimentos especiais adicionam uma camada extra de estratégia ao formato de batalha que conhecemos, deixando os encontros mais desafiadores que o normal. Além disso, nota-se que o ataque super eficaz pode fazer um estrago maior aos monstrinhos, mesmo que o Pokémon seja de um nível bem inferior. Ser abatido, algo quase impossível nos games antigos, já é mais comum de acontecer em Legends: Arceus. Apesar de o jogo proporcionar uma dose de desafio, não o vejo como um Pokémon difícil, isso não mesmo. Ele é só mais equilibrado. 

Como a aventura é situada numa época em que os humanos estavam tentando estreitar sua relação com os Pokémon, quase não há treinadores rondando por lá. Por isso, os embates entre humanos são pontuais e quase sempre acontecem contra as mesmas pessoas, com os mesmos Pokémon. Não vejo isso como algo negativo, na verdade, uma vez que faz sentido com o que é proposto na história. É mais um ponto que diferencia Legends: Arceus dos demais títulos. 

As cinco áreas principais contam com um Pokémon final, um “chefão”, que precisa ser incapacitado antes de o personagem poder confrontá-lo com um Pokémon. E essa é a parte surpreendente: os Pokémon atacam o personagem sem dó nem piedade, exigindo que o jogador estude os movimentos do inimigo e saiba a hora certa de esquivar. Alguns monstrinhos selvagens também vão te atacar quando você menos esperar, então é preciso ter cuidado diante dos mais insignificantes Pokémon — foi uma indireta para Paras e Staravia, ok?

Nunca fui adepto de caçar shiny, confesso, mas Legends: Arceus me encorajou a abraçar esse vício graças às Mass Outbreaks, que nada mais são que hordas procedurais de um mesmo Pokémon brotando em pontos estratégicos dos mapas. Essa é a forma mais eficiente de farmar, ainda que dependa da boa vontade do game de gerar uma Mass Outbreak do Pokémon que você deseja. Gostei bastante desse “modo horda” e tem sido uma das minhas atividades favoritas do pós-jogo. 

Outro elemento que impulsiona o já conhecido fator replay de Pokémon é a possibilidade de caçar monstros Alpha, maiores que o normal e mais poderosos. Os Pokémon Alpha possuem os olhos avermelhados e têm movimentos diferentes dos que costumam pertencer à espécie, sendo essenciais aos colecionistas que gostam de ter monstrinhos com atributos elevados. De início, cheguei a pensar que não era uma novidade tão interessante assim, mas logo descobri a real vantagem dos Alpha e passei a ficar obcecado por eles. 

Mas e o visual, hein?

Presenciei diversas discussões nas redes sociais a respeito do visual de Legends: Arceus, mas estou do lado das pessoas que o consideram visualmente agradável. É lindo, maravilhoso e perfeito? Longe disso. Tem problemas? Vários, desde texturas de baixa resolução até constantes pop-ins. Mas ainda é estável em termos de performance e entrega um ou outro cenário vistoso, com atenção especial à iluminação, aos efeitos de água e ao céu aquarelado. 

As animações dos ataques, um dos pontos mais criticados pela comunidade — e por mim nas análises de Pokémon Sword & Shield e Pokémon Brilliant Diamond & Shining Pearl que redigi aqui para o Voxel —, receberam novos efeitos e agora atingem os monstrinhos com mais naturalidade, sem aquela demora excessiva para o Pokémon no fim das contas dar só um “pulinho”. Sem dúvida alguma há espaço para melhoria, mas já foi um grande passo à frente em relação aos games anteriores. 

Arrisco dizer que Pokémon Legends: Arceus é a aventura mais caprichada da franquia desde que ela migrou para o 3D, considerando os títulos principais e spin-offs, ficando atrás apenas de New Pokémon Snap. Os modelos dos Pokémon estão caprichados e até mais atraentes que os que vimos em Let's Go & Pikachu! e Let's Go, Eevee! Porque às vezes o que realmente interessa é ter Pokémon bonito, não é mesmo? 

Veredito

Ambicioso, Pokémon: Legends Arceus é excelente por romper com velhos paradigmas, trazendo um frescor à série como há tempos não se via. Diferentemente de Sword & Shield, Legends: Arceus desobstrui mecânicas obsoletas da série principal para fazer a experiência fluir à medida que oferece liberdade, hipnotizando o jogador com uma Hisui recheada de positivas distrações. 

Parafraseando Casimiro, o rei do entretenimento: “vale 300 reais? Vale muito” — até porque Legends: Arceus é Pokémon em sua melhor forma desde Black 2 & White 2. Em meio a tantos títulos aguardados saindo no início de 2022, de Horizon Forbidden West a Elden Ring, quem diria que um spin-off de Pokémon estaria sendo o companheiro mais diligente. Agora eu mal posso esperar pela nona geração. 

Pokémon Legends: Arceus foi gentilmente cedido pela Nintendo para a realização desta análise 

 

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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