Shadow Warrior 3 é pura diversão e sanguinolência
Tecmundo
Os ninjas estão na cultura pop desde sempre. Muitas vezes são retratados como assassinos silenciosos e letais, usando de poucos equipamentos para cumprirem suas missões da melhor forma. Foi então que a 3D Realms, desenvolvedora de jogos como Wolfenstein 3D e Duke Nukem, decidiu apresentar uma visão diferente dessas figuras místicas lá em 1997.
Após ficar 16 anos engavetada, a franquia recebeu um reboot desenvolvido pela polonesa Flying Wild Hog e publicado pela Devolver Digital. Com o bom resultado, foi lançada em 2016 uma sequência que conseguiu superar o original e fez o público pedir por mais. Com isso, chegamos a março de 2022, quando foi lançado o terceiro capítulo da série, comprometido a trazer muitas mudanças e ser ainda melhor que seu antecessor. Será que Shadow Warrior 3 conseguiu fazer tudo isso? Confira na nossa análise a seguir.
Um novo Lo Wang mas não exatamente
Eu me sinto na obrigação de começar essa análise dizendo que Shadow Warrior 3 é pura diversão do começo ao fim. Enquanto a gameplay é como uma injeção de adrenalina, os comentários feitos pelos personagens são extremamente cômicos, uma combinação absolutamente perfeita para quem quer desligar o cérebro de tramas mirabolantes.
O terceiro jogo da série tem diversas diferenças em relação aos seus antecessores, mas todas são extremamente positivas. Começando pela mudança no elenco, já que Mike Moh, o Bruce Lee de “Era Uma Vez… em Hollywood”, assumiu o lugar de Jason Liebrecht como o protagonista Lo Wang. Incialmente estranhei um puco, já que joguei Shadow Warrior 2 muito recentemente, mas o ator me convenceu após poucos minutos. Não só ele, mas Andromeda Dunker como Motoko e SungWon Cho como Zilla estão ótimos em seus papéis.
Além de Zilla, outro personagem que consantemente conversa conosco é Hoji.
A história, que se inicia pouco tempo após os acontecimentos de seu antecessor, continua “qualquer coisa”, sem apresentar grande desenvolvimento de personagens ou uma trama consistente. O que poderia ser um grande demérito não é nada tão absurdo considerando a franquia em questão. Shadow Warrior 3 se concentra mais em apresentar situações absurdas em que é possível tirar algum momento incrível ou uma piada irônica. Não adianta buscar pontas soltas ou furos de roteiro, pois isso pode estragar parte da diversão que o título propõe.
Ele é dividido em 11 capítulos separados por cutscenes. Mesmo não sendo nada esplendoroso, elas são bem animadas deixando as situações ainda mais cômicas já que há o uso da comédia corporal. Nem tudo é perfeito já que em alguns momentos é possível observar a sincronia labial se perder durante os diálogos. É um detalhe, mas me fez torcer um pouco o nariz por parecer falta de atenção.
Uma das batalhas mais mortais da vida de Lo Wang
Já que estamos falando sobre história e diálogos, vale dizer que o jogo está localizado em português. Isso já é algo recorrente da Devolver Digital, que preza muito pelo nosso país. Como algumas piadas possuem contextos difíceis de traduzir, muitas delas estão modificadas para o nosso “jeitinho brasileiro”. O trabalho ficou ótimo, mas algumas linhas ficaram estranhas, principalmente durante o combate e eu encontrei duas vezes uma mesma frase sem tradução.
Devo admitir que sua curta duração me deixou um pouco frustrado, querendo mais. Segundo a publisher, sua duração é de 8 a 10 horas, mas a minha gameplay ficou com 4 horas e 30 minutos. Mesmo jogando no meu ritmo, sem pressa, terminei em metade do tempo mínimo anunciado e tenho certeza que outros jogadores finalizarão com menos de 6 horas totais.
Lindo mas pesado, igual você sabe quem
Antes de partir para o prato principal, que é a gameplay, vale dizer que os visuais estão absolutamente magníficos. Seja os ambientes ou os adversários, houve um cuidado bem grande para que o Shadow Warrior 3 fosse o mais bonito da série, objetivo atingido com muito sucesso.
A direção de arte não é inovadora, mas os visuais são absolutamente maravilhosos.
O problema é que isso teve um preço: ele é bem pesado. Ainda que minha guerreira RTX 2060 tenha me entregado quase 100 FPS em uma configuração alta com o DLSS no modo Equilibrado, sofri muito com quedas de quadros. O famoso 1% Low batia abaixo da metade do valor total, que normalmente era entre 30 e 40 quadros por segundo. Mudei a configuração para ficar mais fluido, mas o resultado comprometia bastante os visuais, o que complicou um pouco a minha experiência.
Tiro, porrada e Lo Wang
Com isso tudo dito, vamos para a parte divertida: matar demônios com metralhadoras e katanas. Primeiro de tudo, Shadow Warrior 3 é o game mais diferente da franquia. Sua estrutura é mais parecido com Doom Eternal que seus antecessores já que o jogador vai ir de arena para arena passando por sessões de parkour, o que deixou ele muito mais linear que Shadow Warrior 2.
Muitos podem ver isso como um ponto negativo, mas essa mudança faz com que a jogabilidade se foque mais em resolver a grande problemática matando tudo o que estiver no caminho do que fazer missões secundárias bobas só para subir de nível ou desbloquear alguma arma.
Tem um pouco de Wang para todo mundo!
Para tornar a gameplay ainda mais frenética, a desenvolvedora tomou uma grande decisão ao tirar a mira e colocar os ataques da katana no lugar. Isso faz com que a movimentação seja mais importante que a precisão principalmente pela quantidade enorme de adversários na tela. Outra ótima escolha foi o gancho que, além de ser essencial na hora de passar pelos obstáculos entre as fases, adiciona muita verticalidade nas batalhas.
Em praticamente todas as arenas há um lugar para você se pendurar, o que ajuda na hora de matar os demônios aéreos mas também facilita a movimentação vertical e horizontalmente. Ir de um lado para o outro de forma rápida evitando tiros ajuda muito quando a vida está baixa, a bala está acabando ou quando estamos cercados. Caso a situação esteja crítica, é só se arremessar para outro canto e pegar os diversos itens de cura e munição espalhados. Além disso, podemos nos aproximar de inimigos menores e puxar barris de efeitos, como gelo e eletricidade, que vão ser muito importantes para sair com maior facilidade de algumas enrascadas.
O menino da selva do oriente atrás de seu ovo mágico.
O que também ajuda muito são as armadilhas espalhadas pelos cenários. As mais simples são espinhos encostados em paredes perfeitos para empurrar “mininons” com a Explosão Chi, habilidade que atordoa inimigos maiores, mas em algumas há engenhocas mirabolantes monumentais. Elas são perfeitas para acabar com a quantidade enorme de demônios fortes que nos perseguem, mas é uma faca de dois gumes já que também é letal para nós. É só usar com sabedoria para que as batalhas fiquem ainda mais dinâmicas.
Quanto mais melhor (às vezes)
Eu não poderia deixar de falar dos adversários, já que suas caras horrorosas vão ser vistas milhares de vezes durante a jogatina. Há uma ótima variedade de inimigos e cada um deles possuem habilidades diferentes, sendo necessário abordagens únicas para acabar com cada um. Eles podem correr na sua direção, ficar voando por aí, surgir do chão ou mesmo fugir. Quando estão todos juntos, é uma confusão maravilhosa de ataques que vai exigir o melhor do jogador para não morrer.
O problema é que eles são apresentados muito rapidamente. Há cerca de 10 tipos diferentes, mas 7 deles são apresentados antes de duas horas de jogo, não dando tempo de acostumar com um e já tendo que aprender o estilo do outro. Teoricamente, esse pensamento bate com a ideia de frenesi que a jogabilidade tanto prega, mas é como se a desenvolvedora só jogasse eles na nossa cara e dissesse “se vira”.
Nojento demais, ficará mais bonito cheio de furos.
Ao mesmo tempo que somos bombardeados por uma quantidade bem grande de inimigos na tela, recebemos um arsenal de dar inveja para acabar com cada um deles. O que começa com um simples revólver chega a um lança-shuriken que paralisa os adversários com dano de eletricidade. São 7 armas no total, contando a katana, para acabar com os demônios.
No menu, podemos comprar diversas melhorias que transformam o armamento. Deixando a shotgun totalmente automática e o Basilisco, um canhão superpotente, com o poder de congelar inimigos próximos ao alvo, os combates ficam ainda mais brutais para quem estiver em nosso caminho. Cada arma tem sua utilidade e vantagens, com a troca constante entre elas sendo essencial para um melhor aproveitamento durante os confrontos. É muito bom atirar com o canhão e, logo em seguida, explodir uma granada no mesmo bicho.
Aniquile tudo no caminho
E para fechar com chave de ouro, a provável melhor novidade em Shadow Warrior 3: aniquilação. Ela permite uma finalização brutal que libera uma habilidade especial conforme a vítima por um tempo limitado. Podemos congelar todos que estiverem em uma área, ganhar um porrete para esmagar todos no caminho ou mesmo criar um vórtex que puxa inimigos próximos. Como se não bastasse, utilizá-lo restaura completamente a vida e a munição, perfeito para momentos de desespero.
Um belo vórtex que ajuda bastante na hora de eliminar todo mundo.
Sem brincadeira, quando a barrinha finalmente enchia e eu destroçava aquele demônio maldito que estava me infernizando me dava uma sensação de prazer mórbido gigante não só pelo fato de vê-lo morto, mas por poder me aproveitar dele para acabar com os restantes. A própria Flying Wild Hog sabia que acertou muito com essa adição já que deu bastante destaque para a aniquilação em sua campanha de marketing. Com certeza, foi a cereja do bolo.
Vale a pena?
Mesmo com uma história simples, pequenos problemas técnicos e requisitos pesados no PC, Shadow Warrior 3 se apoia em seus diálogos cômicos, cheios de referências e quebras de quarta parede, junto de uma jogabilidade brutal, visceral, frenética e vertical para entregar não só o melhor título da franquia, mas um dos melhores FPS de 2022. Ainda que muito parecido com Doom Eternal, ele tem muita personalidade e estilo, sendo a pedida perfeita para quem quer desligar o cérebro e ver o sangue jorrar.
“Shadow Warrior 3 foi cedido gentilmente pela Devolver Digital para a realização desta análise”.