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Weird West envolve e incomoda quase na mesma proporção
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Weird West envolve e incomoda quase na mesma proporção

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Tecmundo
02/07/2022 22h00
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Em 2018 foi fundado o estúdio WolfEye Studios. Formado majoritariamente por ex-funcionários da Arkane Studios que trabalharam em games como Dishonored, Prey e Arx Fatalis, eles abraçaram o sistema de home office, com seus colaboradores espalhados por 10 cidades, 6 fuso-horários e 4 continentes.

Depois de vários anos de desenvolvimento, finalmente seu primeiro projeto chegou a vida. Com distribuição da Devolver Digital, Weird West promete ter uma direção de arte arrojada, histórias ricas e uma ótima experiência para os jogadores. Confira a nossa análise a seguir para saber se eles conseguiram isso.

 

Um oeste magicamente selvagem

Em Weird West, não há nada mais importante que seu universo, como a sociedade se divide e seus mistérios escondidos. Misturando a guerra de cowboys expansionistas e nativos americanos com criaturas mágicas como suinóides, wendigos e lobisomens, o mundo se mostra cheio de vida e não depende dos protagonistas para existir. Pessoas morrem, são roubadas e casam muitas vezes sem o jogador estar presente.

Seu mapa é constituído por diversos pontos de interesse, como cidades e minas abandonadas, e cada uma dessas áreas fica dentro de um ambiente quadrado podendo ou não possuir níveis para baixo, porões e cavernas. A estética me lembrou sessões de RPG, em que o mestre precisa mudar o tabuleiro para revelar a nova localização dos heróis.

As monótonas viagens de um lado para outro são intercaladas com acontecimentos roteirizados e aleatórios para surpreender o jogador. Me deparei com zumbis, animais selvagens, bandidos e até monstruosidades que queriam impedir meu caminho. Como nem tudo é desgraça, fui agraciado com mercadores, uma bruxa macabramente simpática e cenas mórbidas ótimas para se saquear.

Encontros amigáveis são sempre bem-vindos.Encontros amigáveis são sempre bem-vindos.

 

E não para por aí, pois conversar com os NPCs expande ainda mais toda a cultura, mitologia e perigos desse oeste bizarro. Eles estão presentes em todo lugar e comentam os principais acontecimentos dos últimos dias, principalmente aqueles presentes no jornal que aborda tanto feitos do jogador como outros causos aleatórios.

O universo foi um ponto que a WolfEye Studios deu muito destaque para não só se diferenciar de outras obras com ambientações parecidas, mas também para encantar e chamar o jogador para explorar cada canto e descobrir cada mistério. Não funcionou comigo em sua totalidade, mas atiçou minha curiosidade em diversos momentos. Outra questão que me cresceu os olhos foi a estrutura da história.

Nada mais interessante que um homem porco se envolvendo em uma treta entre cowboys e nativos, certo?Nada mais interessante que um homem porco se envolvendo em uma treta entre cowboys e nativos, certo?

 

Cinco vidas para um enredo

Sua trama, dividida em cinco personagens completamente diferentes um do outro, funciona quase como uma antologia, usando de uma linha condutora dramática que fica mais clara a partir da segunda metade do game. O problema é a inconstância presente tanto na carga dramática de cada uma delas quanto em sua duração.

A primeira história, da caçadora de recompensas Jane Bell, pouco me despertou interesse por ser mais comum, ainda que envolva as criaturas mágicas sirens. A escolha foi, de certa forma, bem pensada, já que introduz gradualmente o jogador nesse universo tão parecido e, ao mesmo tempo, tão diferente do nosso. Por outro lado, isso torna o desenvolvimento do enredo lento, atrapalhando a imersão.

Vamos ser sinceros, uma caçadora de recompensas saindo da aposentadoria para salvar alguém é bem clichêVamos ser sinceros, uma caçadora de recompensas saindo da aposentadoria para salvar alguém é bem clichê

 

Como o ritmo da jogabilidade também é lento, as primeiras cinco horas foram muito arrastadas, tornando minhas primeiras impressões negativas. Algumas missões secundárias, exploração de lugares abandonados, contrato de caça-recompensas e encontros aleatórios revitalizaram minha disposição para o título, mas admito minha clara apatia durante o período citado anteriormente.

As histórias do suinoide Cl’erns Qui’g e do nativo Através dos Rios tornaram a minha experiência mais prazerosa, assim como a dos dois personagens seguintes a esses, mas um gosto levemente amargo se mantinha em minha boca. A qualidade das tramas e meu interesse por elas aumentava de forma inversamente proporcional à duração das mesmas.

Nesta casa defendemos Através dos RiosNesta casa defendemos Através dos Rios

 

Você deve pensar que, para resolver isso, bastaria jogar mais algumas missões secundárias e viver um pouco mais na pele daquele personagem, mas essa não é o ponto do meu argumento. Eu gostaria de um maior desenvolvimento das intrigas entre os indígenas e cowboys, uma maior dificuldade para resolver a questão dos suinoides e assim por diante. Quase tudo é concluído com tal simplicidade que o resultado é levemente anticlimático.

De forma alguma eu digo que Weird West apresenta, como um todo, um enredo ruim, pessoalmente eu me diverti e fiquei impressionado em alguns momentos, mas faltou um pouco de tato dos criadores para aprofundar certos segmentos ou desenvolver melhor alguns conflitos.

Suinóides também sabem amar (e empunhar armas)Suinóides também sabem amar (e empunhar armas)

 

Tudo na bala se resolve mais rápido

E falando em conflito, o combate me impressionou e me incomodou simultaneamente. Para facilitar a explicação, vamos falar da jogabilidade de forma geral.

Tudo é observado de uma visão aérea, mas não chega a ser um top down. Demorou um pouco para eu me acostumar com esse sistema de câmera, já que o mouse controla de forma individual a mira e para onde estamos olhando. Isso me fez dar tiros em lugares aleatórios em mais de uma ocasião. É necessário prestar bastante atenção para não sofrer.

Câmera para um lado, corpo para outroCâmera para um lado, corpo para outro

 

O combate traz diversas opções diferentes para serem exploradas, como explodir barris e lamparinas, usar habilidades especiais de classe e de armas e itens diferenciados. Ainda assim, há uma grande possibilidade de seus confrontos se resumam a tiroteios desenfreados e kits médicos, tanto para seu personagem quanto para seu grupo.

Isso não significa que o resto seja inútil, mas nesse oeste mágico e assustador, a bala é o que come mais rápido. Esse quesito me deu uma sensação de “erro pelo excesso”, pois é bem complicado lembrar de todas as opções disponíveis no meio do caos. Vale dizer que, mesmo assim, o combate é divertido e muitas vezes desafiador, necessitando de pensamento estratégico e rápido do player para sair de situações complicadas, muitas vezes em desvantagem numérica, da melhor forma possível.

Como citado a pouco, o jogador pode criar um grupo de aventureiros com outros dois personagens. Eles podem ser aliados prévios daquele protagonista ou mercenários contratados em bares pela bagatela de 100 dólares. Não só ajudarão muito no combate como também servirão de mochilas extras para carregar itens, i que é muito interessante caso você seja um rato de loot como eu. Caso morram, é um adeus definitivo. Uma coisa interessante é a possibilidade de recrutar personagens controlados anteriormente para seu novo bando, podendo assim recuperar todos os itens que ficaram com os mesmos.

Jane e Cl'erns unidos jamais serão vencidosJane e Cl'erns unidos jamais serão vencidos

 

Ainda que úteis, a inteligência artificial deles é bem ruim. Eles não agem de forma inteligente. Durante combates, eles se expõem demais e atacam de qualquer jeito. Fora deles, ficam travados em cantos e sobem sozinhos em estruturas. Pelo menos isso não afeta a parte de stealth, já que a presença deles é ignorada pelos adversários.

Esconda-se se puder (ou se conseguir)

Em grande parte do jogo, ficar na surdina é uma necessidade. É possível pegar suas armas e atirar em tudo, mas a munição uma hora vai acabar, então não é exatamente recomendável. Ao ficar abaixado, nossa movimentação é desacelerada e nossa presença é pouco notada pelos adversários, que só nos notam o jogador caso ele entre em seu campo de visão. Quando não te vêem, é possível abater com facilidade ou mesmo surpreendê-los, dando um tiro com dano extra.

Quando o jogador abaixa, seus companheiros fazem o mesmo, mas nem sempreQuando o jogador abaixa, seus companheiros fazem o mesmo, mas nem sempre

 

Aqui é outro momento em que a palavra inconstância se aplica muito bem. Há momentos em que o stealth funciona muito bem, outros é só uma perda de tempo. Às vezes, os adversários não te notaram mesmo estando na cara deles, mas em outros eles te enxergarão de longe. E não para por aí, pois quando te detectam, eles ganham uma capacidade de detecção sobrenatural e atacam sem ter medo da morte. Isso torna a experiência frustrante em alguns momentos, valendo a pena carregar o último salvamento antes de tudo falhar por um problema mecânico.

Muitos poderes para usar e ignorar

Uma coisa que pode ajudar muito nesses momentos ou mesmo quando a paz está instaurada são as habilidades especiais. Há dois tipos, mas ambos podem ser melhorados ou adquiridos coletando itens pela aventura.

O primeiro tipo são as habilidades de personagens, chamadas vantagens, que melhoram características passivas, como aumentar a vida do nosso personagem, a velocidade enquanto abaixados e um desconto na hora de uma negociação. Um ponto interessante é que tudo adquirido se mantém quando encontrar começar a campanha de outro personagem.

13 opções de upgrade não é coisa demais?13 opções de upgrade não é coisa demais?

 

Já a outra são as habilidades de classe. Cada protagonista possui uma classe e poderes únicos. O suinóide pode dar uma investida contra adversários, o protetor corre sem fazer barulho e o devoto ficar invisível, por exemplo. Além dessas, há algumas habilidades para cada um dos 5 tipos de armas.

Enquanto as vantagens passem uma sensação de progresso ao jogador, as de classes são a clara e completa representação do “erro pelo excesso”, como comentado anteriormente. Há muitas habilidades uteis para situações específicas que ajudam muito, mas as de arma são quase completamente inúteis, principalmente por ser necessário recomprá-las toda vez que mudar de protagonista. É muito mais útil invocar um tornado para levar os inimigos do que dar um último tiro de pistola com o dobro do dano. Além disso, o menu de habilidades é cheio de opções, confundindo o jogador na hora de decidir o que vale a pena e o que não vale.

Confie em mim quando eu digo que mais de 60% dessas habilidades são inúteisConfie em mim quando eu digo que mais de 60% dessas habilidades são inúteis

 

Quadrinhos em movimento

Enquanto “menos é mais” não foi um lema na jogabilidade, ela se aplicou bem na parte gráfica. Os visuais são cel-shaded, dando uma cara cartunesca para o título lembrando um pouco os quadrinhos Tex se fossem distribuídos pelo selo Vertigo. Durante os diálogos principais, desenhos dos personagens aparecem de uma forma parecida com balões de fala, sem serem acompanhados por falas.

Um ponto já tão bonito são as animações de todos os personagens. Seja em idle, caminhando ou em combate, todo mundo parece travado e nem um pouco natural. Se não estiver totalmente imerso na experiência, isso causa uma certa estranheza que, acumulado com outras questões, torna o problema ainda maior.

Eu não consigo de forma alguma dizer que Weird West é feioEu não consigo de forma alguma dizer que Weird West é feio

Vale a pena?

Weird West é um título único, mas imperfeito e inconstante. Tudo o que for elogiável trará um ponto negativo junto. O amor dos criadores pela criatura é mais que claro, mas pareceu um passo maior do que a perna ou mesmo erro de cálculo na hora de saber onde focar. Mesmo com um resultado bem abaixo do esperado, acho que vale uma conferida, principalmente se você assinante do Xbox Game Pass, já que faz parte do catálogo do serviço.

 

Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião do TIM NEWS, da TIM ou de suas afiliadas.
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