Mentira patológica: entenda o que a ciência diz sobre o hábito de mentir
Anamaria
No dia 1º de abril é celebrado o 'Dia da Mentira'. Na data, pessoas se divertem compartilhando histórias falsas para enganar amigos e familiares. Embora essas brincadeiras sejam bastante comuns nas redes sociais no dia da mentira, o evento também destaca um comportamento humano muitas vezes subestimado: a mentira.
A mentira é parte da experiência humana, usada para evitar conflitos — a “mentira do bem” —, obter vantagens pessoais ou simplesmente por diversão. Porém, sua complexidade vai além dos comportamentos cotidianos.
AnaMaria conversou com o neurocientista Fabiano de Abreu Agrela Rodrigues, autor do artigo ‘Mitomaníaco: como lidar com crianças que mentem o tempo todo’, e com o psicólogo Alexander Bez, especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami (UM), para entender mais a fundo a diferença entre a mentirinha ocasional e a mentira patológica.
EXISTE “MENTIRA DO BEM”?
As “mentiras do bem” são, na verdade, omissões. As omissões geralmente acontecem quando a pessoa sente a necessidade de se proteger de algum sentimento ou situação.
“A pessoa está conhecendo outra pessoa, e descobre que esse alguém tem determinada profissão. Na hora, essa pessoa inventa outro emprego, que julga ‘melhor’ do que o verdadeiro. Para não se sentir em uma qualificação inferior, ela está omitindo a verdade, a princípio por medo de decepcionar”, exemplifica Alexander Bez.
A explicação é que esse comportamento tem um caráter protetivo, que traz consigo uma série de outras questões. O ponto principal é entender o motivo dessa omissão. “As omissões são comportamentos normais, mas com limite. Se for uma situação que se repete inúmeras vezes, precisa ser observado!”, salienta.
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O QUE A CIÊNCIA DIZ SOBRE O HÁBITO DE MENTIR?
O cérebro utiliza diversas áreas para decidir mentir, formular a mentira e mascará-la, explica o neurocientista. “Para contar uma mentira, o cérebro passa por diversas etapas. Primeiro, o córtex pré-frontal, ventromedial e orbitofrontal, responsáveis pela análise de valores, decidem omitir fatos e optar por algo mais favorável, nessa etapa a pessoa opta por mentir”, detalha Fabiano.
“Em seguida, para formular uma mentira mais verossímil para outras pessoas, o lobo temporal examina memórias, emoções e imagens visuais, enquanto o córtex cingulado anterior exerce autocontrole e o lobo frontal adiciona racionalidade à história. Essas regiões trabalham em paralelo para utilizar trechos da verdade para montar uma mentira mais crível”, explica.
“Por fim, para passar uma imagem de verdade, o córtex cingulado anterior é ativado, controlando o sistema límbico relacionado à culpa e potenciais sinais de nervosismo, em uma tentativa de esconder sinais físicos da mentira”, afirma.
Ainda segundo o especialista, quem conta mentiras ocasionalmente pode não ter mudanças significativas nos padrões cerebrais em comparação com os mentirosos crônicos. Por outro lado, na mentira patológica, pode haver alterações em áreas do cérebro envolvidas no controle executivo e tomada de decisão.
O estresse crônico e a mentira podem impactar a plasticidade cerebral — que é a capacidade do sistema nervoso central de se adaptar a novas situações. “Isso pode levar a mudanças na estrutura e função cerebral, especialmente em áreas relacionadas à memória e tomada de decisão, tornando a pessoa uma mentirosa como traço de personalidade”, diz o neurocientista.
MITOMANIA: A MENTIRA PATOLÓGICA
De acordo com Alexander, é importante diferenciar a mentira patológica — que é a mentira compulsiva — de uma omissão. Quando a mentira é patológica, classificamos como ‘mitomania’. Os mitômanos são excelentes contadores de histórias e têm traços ligados ao Transtorno Obsessivo-Compulsivo.
A mitomania é uma condição psicopatológica que consiste em contar mentiras. Além disso, há também o transtorno delirante e o transtorno da fantasia, onde o mitômano elabora histórias com muita criatividade e fantasias associadas. “Essa condição envolve frieza na mentira, adulação, bajulação e falsidade, as mentiras não estão ligadas ao inconsciente e sim à consciência, sendo sempre intencionais.”, afirma o especialista.
Bez destaca que, por ser classificada como uma condição patológica, é necessária abordagem profissional no manejo deste comportamento. “Em determinados casos, demora bastante para descobrirmos uma pessoa com mitomania, pois algumas sabem disfarçar muito bem”, diz.
“Para chegar à conclusão, devemos observar a constatação dos fatos, sinais corporais, saber distinguir quando uma mentira é contada por vergonha, ou outros fatores, sendo necessário, quando descoberto, sessões de psicoterapia.”, finaliza o psicólogo.
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